Resenha
1 de fevereiro de 2009Em artigo intitulado "Fórum Social Mundial exige uma nova ordem econômica", o jornal berlinense Der Tagesspiegel comentou os discursos do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a respeito do "Deus mercado" e da "igualdade social", bem como as palavras do presidente equatoriano, Rafael Correa, acerca de "um sistema perverso, que se baseia na cobiça".
Para além dos chefes de Estado, também as palavras do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos mereceram destaque no jornal alemão. Segundo o correspondente do Der Tagesspiegel, "Sousa Santos impeliu os participantes do Fórum à busca de sugestões concretas: 'Se não encotrarmos uma solução, ela virá de Davos com mais capitalismo e menos direitos [...] Nós nos encontramos desde 2001 e não fomos nós que vencemos o neoliberalismo. Ele se suicidou' ", escreve o jornal citando o teórico português.
Folclore excessivo
O diário Frankfurter Rundschau ressaltou as palavras de um dos fundadores do Fórum, o sociólogo Cândido Grzybowski, sobre a tendência da mídia de "folclorizar" demais o evento, ignorando "a enorme riqueza das sugestões concretas" ali apresentadas.
"De qualquer forma, a questão do efeito político do encontro acompanha o Fórum desde o início. Um outro mundo é possível, o lema otimista-utópico, colidiu especialmente em 2003 com a realidade daquele ano que precedeu a invasão do Iraque. De volta ao Brasil, o Fórum pode agora ganhar mais peso", conclui o jornal de Frankfurt.
Instrumentalização política
Para o diário suíço Neue Zürcher Zeitung, o encontro, que reuniu "participantes jovens de todos os países do mundo na cidade de Belém", serviu também de espaço para líderes como o presidente venezuelano Hugo Chávez, que soube "instrumentalizar o Fórum Social Mundial como palco para sua propaganda de combate".
O jornal suíço lembra também que Lula, festejado "como um ídolo" nos primeiros anos do encontro, foi vaiado em 2005 e manteve-se discreto na atual edição do Fórum. O motivo? A suposta "decepção dos participantes frente à política moderada do ex-sindicalista radical", conclui o NZZ.
Governo Lula
O tom de desapontamento em relação ao governo Lula foi lembrado também pelo jornal Süddeutsche Zeitung, de Munique: "Participantes de extrema esquerda do Fórum criticam que Lula estaria entregando bilhões a bancos e empresários, enquanto não faz nada pela segurança dos empregos que estão sendo cortados no Brasil, onde só em dezembro foram registrados menos 655 mil postos de trabalho". Este ano, resume o jornal, "é possível que as mensagens de Belém ecoem mais em função do susto provocado pela crise".
Ativismo político e happening
Para o correspondente do diário berlinense taz, o Fórum, esse "megaevento crítico à globalização", se assemelha de certa forma às suas edições anteriores por ser "uma mistura de escola popular, ativismo político e happening. Ao redor do acampamento de jovens da universidade, tudo mais parece uma colônia de férias alternativa. [...] O reggae ecoa sobre o acampamento enquanto estudantes disparam palavras de ordem bem-humoradas pelo campus", escreve o jornal.
"Caótico, anárquico e o modelo oposto ao fórum da elite em Davos" é também como o semanário Der Spiegel descreve o Fórum – "festejado por políticos e ativistas" – em Belém. No entanto, lembra a revista, "propositalmente eles não se dão conta de que os presidentes latino-americanos ali presentes governam em casa de forma completamente diferente. E que a população indígena convidada não passa de figurante".
Caos criativo
Ao citar o professor berlinense Elmar Altvater, que esteve em Belém, o correspondente da revista lembra ainda que "o Fórum, antes ridicularizado pelos poderosos deste mundo como um Woodstock tropical, se tornou normalmente admissível. Se Davos ainda brilha com números e nomes, as novas ideias prosperam mais é no caos criativo de Belém".
Neste "caos criativo", diz a revista, não faltam fotos de Che Guevara, bandeiras cubanas ou europeus com a cara pintada de urucum. "As camisetas de Obama, porém, ainda não chegaram a Belém. A esquerda latino-americana ainda não sabe bem como categorizar o novo presidente norte-americano". (sv)