Colônia revive a marcante exposição "Sonderbund" cem anos depois
22 de setembro de 2012Nos últimos meses, a dOCUMENTA (13) atraiu 860 mil visitantes à cidade de Kassel – um recorde. Desde 1955, a premissa da mais importante exposição da arte na Alemanha é mostrar o que há de mais contemporâneo na arte de todo o mundo. E isso é válido até hoje.
Também os organizadores da chamada exposição Sonderbund em Colônia, em 1912, já tinham a mesma pretensão: "a pintura altamente controversa dos nossos dias" deveria ser documentada, e o "avanço da modernidade" deveria receber apoio.
Os organizadores da mostra – uma associação de artistas, colecionadores, profissionais de museus e galeristas – estavam conscientes de sua missão. Ao público deveria ser mostrado como era a pintura europeia e quem seriam os pais da vanguarda.
Dessa forma, a exposição se tornou a apresentação mais importante do modernismo europeu, realizada na Alemanha antes da Primeira Guerra Mundial.
Primeira exposição de caráter moderno
A exposição Sonderbund é vista ainda hoje como uma importante precursora da Documenta. E não somente isso. Muitos estudiosos da arte consideram a mostra em Colônia como a primeira exposição de caráter moderno, como o início de período inovador de exposições. Não é de se admirar que esta mostra de arte tão importante e de tamanha repercussão seja "ressuscitada" exatamente cem anos depois.
Das cerca de 650 pinturas da exposição histórica, o Museu Wallraf Richartz mostra agora 120 obras, mais uma vez em Colônia.1912 – Missão Modernidade é o título da exposição revivida.
"O que os organizadores conseguiram realizar em 1912 foi o primeiro grande panorama representativo do modernismo – e, ao mesmo tempo, a sua manifestação na Alemanha", assinalou a curadora Barbara Schaefer em conversa com a Deutsche Welle. Schaefer preparou a exposição durante vários anos de trabalho meticuloso.
Público ainda não preparado
"A mostra Sonderbund deve ser vista como um protótipo das atuas exposições de arte. Aqui reside a sua primordial importância, como o primeiro – e talvez mais importante – exemplo para todas as sucessivas exposições de caráter histórico-artístico", disse Schaefer.
Na época, a mostra foi uma sensação – mas não um sucesso. O público de orientação burguesa ainda não estava preparado para compreendê-la. "O público ficou surpreso ao ver, a princípio, somente contorções, distorções, às quais não se podia dar sentido", registrou Hermann von Wedderkop, autora dos textos que acompanhavam a exposição. E um repórter da época disse estar convencido de que "as pinturas combinariam melhor com a coleção de um neurologista ou médico de loucos do que com uma exposição pública de arte".
Maior receptividade na Renânia
As contorções e distorções foram pintadas por artistas como Vincent van Gogh e Paul Cézanne, Pablo Picasso e Wassily Kandinsky, August Macke e Emil Nolde. A maioria dos artistas da época pertence hoje ao cânone modernista. Em 1912, a situação era bem diferente: no Império Alemão o clima nada receptivo, a compreensão artística ainda estava bastante enraizada no século 19.
A ascensão industrial da Renânia, seus muitos colecionadores e sua proximidade com a França fizeram da região o lugar apropriado para a exposição. Embora ali também tenha havido duras críticas e tenha reinado a incompreensão. Os jornais locais especularam, por ocasião da abertura, que se deveria proteger os quadros de ataques, para que "a ira não atraísse um tribunal de linchamentos sobre eles".
Não menos controversas também eram as pinturas provenientes dos países vizinhos e sua influência – constatada pelos curadores da época – sobre a arte alemã. "A exposição Sonderbund não foi somente uma demonstração deliberada das influências fecundas do exterior, mas também comprovou, por outro lado, o verdadeiro caráter internacional do jovem modernismo alemão", afirmou Barbara Schaefer.
Com mais de 100 quadros na exposição, Vincent van Gogh (Barcos de pesca na praia de Saintes-Maries-de-la-Mer, 1888, na foto principal do artigo) tornou-se a estrela da mostra, mas também foi dado muito espaço a franceses como Paul Cézanne, Maurice Denis ou Paul Signac
Além disso, surgiram nomes novos como Pablo Picasso ou Kandinsky. Também puderam ser vistos artistas austríacos (Egon Schiele e Oskar Kokoschka), escandinavos (Edvard Munch), suíços (Giovanni Giacometti, Ferdinand Hodler) e holandeses (Kees van Dongen, Piet Mondrian).
A Alemanha estava representada por grupos de artistas como A Ponte (Die Brücke) e O Cavaleiro Azul (Der Blaue Reiter). O que assustou a maioria dos visitantes foi, principalmente, a dissolução das formas, a representação da imagem humana, o uso das cores. Elementos que hoje encantam em vez de irritar, mas que no passado pareciam explosivos aos olhos dos observadores.
Nova forma de apresentação – e de marketing
Os organizadores da centenária exposição perseguiram uma abordagem incomum não somente com a escolha dos artistas. "A novidade estava na rejeição do tipo de exposição apenas para vendas, na apresentação sobre paredes brancas como também no abrangente marketing", disse Schaefer.
Antes de 1912, era comum a densa disposição de quadros nas paredes, justapostos ou pendurados uns em cima dos outros. Tudo isso foi mudado pela exposição Sonderbund. Para a curadora, ela foi nada menos que "a despedida das exposições coletivas sem conceito do século 19". E o que hoje é uma obviedade – catálogos e guias, brochuras e salas de descanso, marketing e cartazes – teve início desde então.
Autor: Jochen Kürten (ca)
Revisão: Mariana Santos