Normalização faz aniversário
14 de novembro de 2007Para proteger seus produtos da concorrência e da baixa qualidade de mercadorias estrangeiras, o Parlamento inglês criou, em 1887, o selo Made in Germany, aplicado inicialmente somente para produtos alemães. O feitiço voltou-se, no entanto, contra o feiticeiro e, ainda hoje, Made in Germany é sinônimo de qualidade e perfeição.
Além de qualidade e perfeição, uma das principais preocupações de arquitetos, artistas e industriais alemães do início do século 20 foi a contemporaneidade formal e produtiva dos utensílios diários, até então influenciados pelos rebuscamentos do Art Nouveau e pelos modismos historicistas do século 19.
Preocupados com o abismo existente entre artesãos, indústria e artistas provocado pela substituição da manufatura durante a Revolução Industrial, artistas, políticos, arquitetos e industriais, entre outros, fundaram em outubro de 1907, em Munique, o Deutscher Werkbund ou Federação Alemã de Ofícios. Entre os frutos do movimento, estão a criação da escola Bauhaus, em 1919, e das normas DIN, em 1917.
Primeiro designer industrial
A fundação do Deutscher Werkbund também pode ser entendida como o nascimento do design propriamente dito. Os participantes do movimento não entendiam o objeto industrial de forma simplesmente utilitária.
Revoltados com a banalidade ornamental do século 19, os fundadores do Deutscher Werkbund procuraram resolver o problema da decadência dos valores artísticos em uma nova sociedade industrial.
Eles não pretendiam um retorno romântico à manufatura medieval, como no movimento inglês Arts & Crafts, liderado pelo arquiteto William Morris e pelo crítico John Ruskin, no século anterior. Diferentemente do movimento inglês, os alemães não se voltaram contra a indústria. Eles tentaram resolver o problema juntamente com ela, aceitando a divisão do trabalho do processo produtivo industrial.
O Deutscher Werkbund se propôs a dar forma a tudo: "Das almofadas do sofá ao urbanismo, do selo do correio ao arranha-céu", como explicou o arquiteto Hermann Muthesius, conselheiro do Estado prussiano e principal incentivador do movimento. Também entre os fundadores, está o arquiteto Peter Behrens, apelidado de "Mister Werkbund" e considerado o primeiro designer industrial.
Caracteres mais limpos
A contratação de Peter Behrens, em 1907, para desenvolver produtos, imagem corporativa, catálogos de vendas e os prédios da empresa de eletricidade AEG marcou a primeira grande aplicação das idéias do Deutscher Werkbund e o início do design industrial moderno. Behrens foi contratado para distinguir os produtos da companhia AEG não somente pela sua qualidade, mas também pela sua estética.
Além do célebre prédio da fábrica de turbinas da AEG, considerado um marco da arquitetura industrial e da arquitetura moderna, o escritório berlinense de Behrens desenhou ventiladores, chaleiras, motores, entre outros, onde privilegiou as limitações da linha de produção e os aspectos técnicos ao ornamento.
Behrens afastou-se do traço sinuoso do Art Nouveau, eliminou a decoração supérflua e, na parte gráfica, criou caracteres mais limpos. O logotipo da firma AEG leva, ainda hoje, a assinatura de Peter Behrens. Os projetos da empresa de produtos elétricos também serviram de escola para os principais representantes da arquitetura moderna, que trabalharam, na época, no escritório de Behrens: Walter Gropius, Le Corbusier e Mies van der Rohe.
Exposição de Colônia
Como explica o memorial de sua fundação, a formação de profissionais e a educação da população para os novos produtos eram premissas do Deutscher Werkbund. Para isso, a federação publicou catálogos e organizou exposições itinerárias. Em 1914, no entanto, o movimento organizou a Exposição de Colônia, onde foram apresentados prédios industriais modelo, interiores modernos e objetos.
Um teatro foi especialmente construído para a exposição. Apesar de ter sido interrompida pela guerra, a exposição no bairro coloniano de Deutz foi um sucesso e deu origem, poucos anos mais tarde, à tradicional Feira de Colônia (KölnMesse).
A Exposição de Colônia de 1914 marcou também uma ruptura no movimento devido à disputa entre os partidários de um desenho completamente voltado para a funcionalidade e aqueles que defendiam a individualidade artística no movimento. Após a Primeira Guerra, o Deutscher Werkbund dividido passou a se dedicar mais à arquitetura e ao urbanismo do que ao design.
Entre as contribuições da época, está a exposição de prédios da Weissenhof Siedlung, em Stuttgart, organizada pela federação em 1927. O Deutscher Werkbund foi fechado pelos nazistas em 1934, voltando a atuar a partir de 1947, sem a força, no entanto, dos primeiros anos.
"Normas Industriais Alemãs"
Outra grande contribuição do Deutscher Werkbund e de suas idéias foi a criação das normas DIN, em dezembro de 1917. No início, a sigla designava Normas Industriais Alemãs. Em meados dos anos de 1920, reconheceu-se, no entanto, que as normas abrangiam não somente produtos industriais e, hoje, DIN é a sigla do Instituto Alemão de Normalização (Deutsches Institut für Normung), com sede em Berlim.
A primeira norma DIN referia-se à fabricação de pinos de boliche, mas a mais conhecida é a DIN 476, elaborada em 1922, que regulamenta os formatos de papel. Daí o nome DIN A4, ou seja, um retângulo com relação entre os lados de um para a raiz quadrada de dois. Como explica o instituto DIN, a cooperação com o Deutscher Werkbund foi bastante estreita, estando Peter Behrens e Hermann Muthesius no subcomitê de normas construtivas.
Em 2007, foram organizadas diversas exposições comemorativas do centenário do Deutscher Werkbund, entre elas a mostra 100 anos Deutscher Werkbund 1907/2007, que atualmente está na Academia das Artes de Berlim e a exposição Sobre a Estética do Formato DIN, apresentada no Instituto Alemão de Normalização (DIN).