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China investe para conquistar mercado de mídia da África

13 de janeiro de 2013

Pequim quer aumentar influência no continente e ampliar sua presença na imprensa local com emissoras, jornais e agências de notícias. Mas veículos não estão livres de censura – prática muito comum na potência asiática.

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Foto: english.cri.cn

Somente no primeiro semestre de 2012, a China investiu 45 bilhões de dólares na África. Com isso, o comércio entre o país asiático e o continente africano chegou a triplicar nos últimos três anos.

Agora, os chineses tentam entrar no cenário midiático africano e investem em tecnologias modernas, dão bolsas de estudo para jornalistas africanos visitarem a China e fundam seus próprios meios de comunicação naquela parte do mundo.

A escritora e especialista em África da BBC, Mary Harper, vê um desenvolvimento lógico no crescente esforço da China para desenvolver sua influência na África através da mídia. "A China descobriu nos últimos anos a enorme diversidade de recursos da África e se tornou seu maior parceiro comercial, superando o Ocidente", comenta, acrescentando que Pequim agora quer repetir isso no setor da mídia.

Screenshot Website CCTV Afrika
Página da emissora CCTV ÁfricaFoto: cctv.cntv.cn

Campanha em várias frentes

No começo de 2012, a China inaugurou o canal de televisão CCTV África, transmitido em inglês. Além de revistas, programas de entrevistas e documentários, o canal também oferece programas de televisão que são transmitidos via internet para celulares.

E em breve cerca de cem novos correspondentes chineses na África devem ser empregados. Além disso, a agência de notícias Xinhua lançará, em cooperação com uma empresa de telefonia móvel queniana, o primeiro serviço de notícias para celular da África Subsaariana.

"O país vem colhendo manchetes negativas no Ocidente por se engajar na África por motivos puramente econômicos. Por isso, a China quer agora contar sua própria versão dos fatos aos africanos", justifica Harper.

Só notícias positivas

Symbolbild Medienfreiheit
Jornalismo chinês na África informa geralmente somente notícias positivasFoto: Fotolia/sahua d

A China também quer superar o Ocidente na mídia impressa. Desde dezembro de 2012, o jornal semanal China Daily - Africa Weekly ​​é publicado na capital queniana, Nairóbi. A cidade é o centro midiático da África Oriental e é onde estão os escritórios das emissoras chinesas, como os da estatal China Radio International, que transmite programas em mais de 50 idiomas.

As emissoras da China estão presentes no Quênia há sete anos, afirma, em entrevista à DW um jornalista queniano que trabalha numa das empresas e deseja permanecer anônimo, já que entrevistas para a mídia ocidental não são bem vistas pelos órgãos chineses.

"Escrevemos em inglês e depois traduzimos para a língua suaíli. Mas não transmitimos ao vivo de Nairóbi, e sim enviamos tudo para nossa sede, em Pequim, de onde nossas reportagens são transmitidas", frisou o jornalista.

Treinamentos em Pequim

Ele conta também que todos os funcionários vão regularmente a Pequim para participar de treinamentos e conhecer o modo de trabalho dos chineses. Mas por causa da censura realizada pela China, as coisas não são sempre fáceis. "Não costumamos informar sobre coisas negativas. Mas, como jornalista, você também tem que informar sobre coisas que não estão indo bem e mostrar a realidade como ela realmente é." Ele relata que os lados positivos da África são colocados deliberadamente em primeiro plano para ganhar a simpatia dos ouvintes e telespectadores africanos.

Afrika China Gipfel in Peking
Cúpula África-China na capital chinesa, Pequim, em 2006Foto: AP

Especialista em mídia Mary Harper vê os esforços chineses como uma reação natural e argumenta que os meios de comunicação ocidentais fizeram por muito tempo uma publicidade negativa da presença chinesa na África. Ela acredita que a concorrência chinesa vai levar novos ares ao mercado de mídia africano. "No futuro cada vez mais veículos internacionais vão para a África. Não é uma coisa ruim se o cenário da mídia africana se diversificar ainda mais. Entretanto, ninguém deve dominá-lo sozinho."

O aumento da presença da China também tem suas desvantagens. Na Etiópia, por exemplo, os chineses ajudaram a financiar um sistema de monitoramento. Desde então, a mídia da oposição é frequentemente desligada e jornalistas dissidentes acabam na prisão. Uma tática que é parte da vida cotidiana em Pequim.

Autora: Nadina Schwarzbeck (md)
Revisão: Fernando Caulyt