Chineses querem oferecer concorrência às agências de avaliação de risco
21 de novembro de 2012Ainda no início de 2008, o ano da crise, elas deram as melhores notas para títulos imobiliários "podres" e bancos quebrados: as três maiores agências de avaliação de risco do mundo, Standard & Poor's (S&P), Moody's e Fitch contribuíram, assim, para a eclosão da crise financeira.
Não é à toa, portanto, que as críticas às três agências que monopolizam o mercado sejam grandes. Mas, mesmo assim, o mundo financeiro não escapa delas, que dividem entre si nada menos que 95% do mercado de avaliação de papéis. Sem o aval das agências de avaliação de risco, nada acontece no mercado financeiro.
Em breve, as três grandes poderão enfrentar concorrência vinda da China. Em fins de outubro, a agência chinesa de avaliação de risco Dagong Global Credit anunciou que irá fundar uma joint venture com a russa RusRating e a norte-americana Egan-Jones Ratings. A nova agência, chamada Universal Credit Rating, afirma que irá oferecer "avaliações imparciais", além de impulsionar "a reforma do sistema internacional de avaliação de risco".
A nova agência deverá começar a funcionar nos próximos seis meses. Dezenas de pequenas empresas do setor, de 20 países, já anunciaram que pretendem se aliar à Universal Credit Rating Group, de acordo com o diretor da Dagong, Guan Jianzhong. A sede da agência será em Hong Kong.
Independência em dúvida
Para uma nova agência de avaliação de risco, a independência é o capital mais importante, mas esse é exatamente o aspecto mais suspeito quando se fala da nova agência. Guan Jianzhong assegura constantemente que sua agência de avaliação de risco é uma empresa privada, sem intromissões do governo chinês. Mas as ligações entre Guan e os políticos chineses são intensas. Guan é membro do Partido Comunista. Antes de atuar no setor privado, trabalhava para o governo chinês. Hoje atua como consultor do governo de Pequim, paralelamente ao seu trabalho como executivo na Dagong.
"Na China, é difícil se opor ao Estado e ao governo", diz o especialista em avaliação de risco Oliver Everling. "Não é possível criar uma agência bem-sucedida de avaliação de risco, programada para se opor ao Estado, na China", avalia. Por outro lado, ele lembra que uma agência de avaliação de risco precisa estar bem conectada com as esferas política e econômica.
Os parceiros da joint venture tentam aplainar os temores de uma falta de independência da agência. Em uma declaração conjunta, Dagong, Egan-Jones e RusRating salientam que a Universal Credit Rating Group não tem quaisquer interesses em representar algum país ou grupo específico.
Modelo de negócios é decisivo
Na Europa, as três grandes do setor – S&P, Moody's e Fitch – foram severamente criticadas nos últimos anos. "Há sérios indícios de que diversos países europeus tenham, de fato, recebido notas piores nos últimos anos do que seria justo diante de suas finanças e de suas situações econômicas em geral", afirma Manfred Gärtner, professor de economia da Universidade de St. Gallen e um crítico das agências de avaliação de risco.
Gärtner acha positiva a fundação de uma força oposta às três grandes do setor. A localização da agência, na sua opinião, exerce um papel apenas secundário. O mais problemático, segundo ele, é "essa complexa ligação entre as agências de avaliação de risco e o mercado financeiro, através de estruturas de propriedade, interesses em benefícios e também por causa de relações pessoais e proximidade geográfica".
No caso da Universal Credit Rating Group, os conflitos de interesses poderão ser aplainados caso o exemplo da empresa cofundadora Egan-Jones servir de modelo. Ao contrário de S&P, Moody's e Fitch, são os compradores de títulos que pagam pela avaliação de risco e não os emissores.
A concorrência às três grandes poderá vir não apenas da China no futuro. A criação de uma agência europeia de avaliação de risco está sendo alinhavada. O projeto, iniciado pela empresa de consultoria Roland Berger, deverá entrar em atividade no próximo ano. Outro modelo foi apresentado no primeiro semestre deste ano pela influente Fundação Bertelsmann, na Alemanha: uma agência de avaliação de risco internacional, que não vise nem seja guiada pelos lucros.
Autor: Christoph Ricking (sv)
Revisão: Marcio Damasceno