União Europeia e China: parceria lucrativa e marcada por tensões
15 de novembro de 2012Sempre que altos representantes da União Europeia (UE) e da China se encontram em público, as câmeras registram muitos sorrisos. Mas sorrir não resolve os conflitos que existem entre os dois lados, anos-luz distantes no que concerne à concepção de democracia e à forma de lidar com os direitos humanos.
A escolha da nova liderança chinesa, com Xi Jinping à frente, proporciona à Europa tênues esperanças de uma maior aproximação. Horst Löchel, especialista em assuntos chineses da Frankfurt School of Finance, diz que, a princípio, Xi deve perseguir um curso político mais moderado do que seu antecessor, Hu Jintao.
"Isso não significa, necessariamente, que a China entrará a largos passos na economia de mercado. Mas acredito que pelo menos a continuação da política de liberalização e abertura seja acelerada."
O fato é que a Europa e a China dependem uma da outra, já que se beneficiam mutuamente das relações comerciais estreitas. A UE é o principal parceiro comercial da China, enquanto os investimentos chineses são um dos fatores de contenção da crise do euro.
Cresce influência europeia na China
Para o chefe da delegação da UE em Pequim, Markus Ederer, as duas potências se encontram em pé de igualdade. "Somos o maior mercado para os produtos chineses. As firmas da UE são as maiores fornecedoras de alta tecnologia na China, a qual tem enorme interesse na manutenção do euro."
Como explicou Ederer à DW, o interesse de Pequim na moeda única europeia parte de sua intenção de futuramente impor o seu próprio yuan como moeda de reserva internacional – plano que fica muito mais praticável se o dólar americano não for a única moeda de peso.
Do lado europeu, cresce a desconfiança desde que o país asiático iniciou uma campanha sistemática de aquisições Europa afora. Há temores de que a China tencione tornar dependentes de si sobretudo os Estados debilitados pela crise econômica.
Partes do porto da cidade grega de Pireu já se encontram na mão de empresários chineses. O local é um dos mais movimentados eixos de tráfego marítimo do mundo, e tem importância vital para a expansão econômica da China.
Estratégia bilateral
Certos analistas estão certos de que o governo em Pequim já tem, guardados na gaveta, planos para sua futura política na Europa. O parlamentar europeu democrata-cristão e especialista em política externa Elmar Brok afirmou ao jornal alemão Die Welt que a China possui uma "concepção estratégica global para a Europa, pela qual também suas empresas têm que se orientar".
A rigor, a União Europeia, por sua vez, deveria também estar apta a revidar com um programa estratégico para a China. De fato, existe uma estratégia sobre como lidar com a potência asiática, revelou Ronja Kempin, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão), em entrevista à DW. No entanto, esta não foi adaptada ao forte avanço da China nos últimos anos, de forma que, na prática, só existiria uma estratégia obsoleta para a China.
"Observadores mais críticos poderiam até dizer que, na verdade, não existe nenhuma estratégia da União Europeia para a China", arremata Kempin. "Nenhuma estratégia que nos permita lidar com a China como potência econômica ascendente, que também ganha cada vez mais poder geopolítico e geoestratégico."
Porém, a UE só é responsável em parte por essa falha. Por um lado, ela tenta se encarregar da política externa, representando seus 27 Estados-membros. Por outro lado, no entanto, cada um desses países insiste em manter suas próprias relações com Pequim, em interesse próprio. Este é especialmente o caso quando se trata de acordos econômicos lucrativos, ressalta a especialista em UE.
"Aí, os países-membros não permitem que a União Europeia fale por eles. Os Estados fazem questão de reservar essa função para si, e isso naturalmente enfraquece a UE como agente comum, capaz de enfrentar a China de forma decidida, do ponto de vista político", explica Kempin.
O outro sorriso
O embaixador da UE na China, Markus Ederer, não vê isso como um enfraquecimento. A regra é que as nações da Europa cultivem as próprias relações econômicas externas – afinal, a UE mesma não possui nenhuma empresa. Portanto, é normal, diz ele, que os governos nacionais tentem fazer o melhor por suas economias.
"Mas no que tange às relações comerciais e às condições para estas relações, a competência cabe exclusivamente à UE. Ela media acordos comerciais, em breve mediará também um tratado de investimentos com a China."
Aqui, Ederer aborda um problema central. Enquanto os mercados europeus estão essencialmente abertos para os investidores estrangeiros, os chineses se isolam ou forçam os investidores do Ocidente a produzir no país, resultando tanto em perdas de postos de trabalho na Europa quanto em violações de patentes dos produtos europeus.
Agora, o diplomata espera que o novo governo em Pequim ceda nesse tópico e que "a China também assuma responsabilidade política global, de forma condizente com seu peso econômico". Só aí, num próximo encontro de cúpula, as lideranças da UE e da China exibirão um sorriso realmente sincero.
Autoria: Ralf Bosen (av)
Revisão: Francis França