Bonde do Rolê volta mais tropical e internacional
30 de agosto de 2012Improvável talvez seja a melhor palavra para definir o sucesso do Bonde do Rolê. Quem imaginaria que uma banda formada em Curitiba por jovens de classe média, que cabulavam aula e brincavam de transformar samples de rock em funk carioca pudesse chegar a algum lugar?
Alguns meses depois de colocar as primeiras músicas na internet, eles já estavam fazendo shows fora do país. Em 2007, o disco de estreia, With Laser, foi lançado pela cultuada gravado inglesa Domino, a banda tocou em grandes festivais e coloriu as páginas de revistas descoladas ao redor do mundo. Ainda assim, eles nunca foram levados a sério no Brasil.
Depois de conturbados cinco anos, o Bonde do Rolê é uma nova banda e está de volta com o seu segundo disco, Tropicalbacanal. "Depois de três anos intensos em turnê, precisamos de um tempo livre. Começamos a trabalhar no disco em 2009 e levamos um pouco mais de dois anos para compor e gravar", disse o DJ e MC Rodrigo Gorky em entrevista à DW Brasil.
Mistura caleidoscópica
O novo disco é o resultado natural de tudo que a banda viveu nos últimos anos e da mudança na formação, com a inclusão da vocalista Laura Taylor, que se juntou a Gorky e Pedro D'eyrot em 2008. "Temos uma ótima sintonia e as coisas estão mais tranquilas e fluidas", disse Gorky. Para ele, o tempo para desenvolver ideias e trabalhar com vários amigos do mundo da música foi essencial para o disco.
A banda, que nesse meio tempo se mudou para São Paulo, queria fugir da fórmula usada em With Laser. O resultado é um disco pop com uma mistura caleidoscópica de diferentes vertentes da música brasileira com hip-hop, rock e eletrônica. Gorky é um colecionador de discos e nos últimos anos seu interesse por música brasileira cresceu. "A Laura trouxe muita influência do rockabilly e dancehall, o Pedro estava ouvindo muito Harry Belafonte, pop e axé", disse o DJ.
As letras mais do que impróprias e carregadas de referências à cultura pop ainda estão lá, só que agora eles também cantam em inglês, com misturas e trocadilhos em várias das letras. "O nome Tropicalbacanal vem da dualidade entre a nossa mistura de ritmos brasileiros e internacionais com letras cheias de sacanagem", completou Gorky.
Sonho realizado
A primeira música de trabalho, Kilo, é um bom exemplo da nova sonoridade da banda, cheia de swing e novas referências. Pucko usa pífanos para contar a história de uma sueca em visita ao Brasil. A acelerada Tilelê é a versão do grupo para um repente. Se Luiz Gonzaga fosse vivo e frequentasse raves, ele faria algo como o baião eletrônico Kanye.
O disco é também repleto de convidados. Igor Cavalera, ex-Sepultura, toca a bateria crescente em Arrastão. Brazilian Boys tem a cantora de dancehall jamaicana Ce'cile. O duo Rizzle Kicks, que tocou na abertura das Olimpíadas de Londres, faz um "meta-rap" em Dança Molengo. Bang, com participação do Das Racist, é, segundo Gorky, a versão do Bonde para uma música de Johnny Cash.
O Bonde não poderia achar ninguém melhor para apadrinhar a nova fase tropical e internacional da banda do que Caetano Veloso, que canta em Babydoll de Nylon. A música de Robertinho do Recife tem letra do baiano, que nunca havia gravado a faixa em estúdio.
"Nosso empresário americano cantava 'baby don't deny it' em vez de babydoll de nylon, assim nasceu a ideia de fazer uma versão nossa da música e misturar português e inglês", disse o DJ. A tradução fonética foi o que mais agradou Caetano, que aceitou o convite da banda. "Foi um sonho realizado", disse Gorky.
Novo Brasil
Para o DJ a cena musical no Brasil mudou muito, a nova geração tem menos preconceitos e está mais aberta a diferentes estilos, misturas e a letras em português. Tudo isso seria um reflexo do maior poder aquisitivo e da internet, que ajuda a cena alternativa a se desenvolver e crescer por todo o país. Consequentemente, o videoclipe também passou a ter mais importância para o Bonde.
"Hoje ninguém mais baixa MP3, as pessoas escutam música no YouTube. Para fazer um vídeo só precisamos de algum dinheiro e uma boa ideia", disse Gorky. A banda deve fazer clipes de pelo menos metade das 12 música de Tropicalbacanal. Kilo foi gravado na Argentina. Brazilian Boys no Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro. As dunas de Florianópolis e a Floresta Amazônica são os cenários dos próximos dois vídeos, em fase de finalização.
Essa proximidade com o Brasil é consequência de passar tanto tempo longe de casa. "É a mesma coisa que estar em Berlim e querer beber uma cachaça ou em Miami e comer uma paçoca. Pegamos o temperinho de cada lugar e fazemos nossa música", disse o DJ, que fala do novo disco com um orgulho que não existia em relação a With Lasers. Parece que o rolê do Bonde deu nisso, eles se encontraram na brasilidade.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler