Cantora alemã Dillon tem um toque brasileiro que foge dos clichês
24 de fevereiro de 2012É fácil apreciar as virtudes do disco de estréia da alemã Dillon, This silence kills. Soando às vezes como Björk no uso de texturas eletrônicas e na maneira de cantar suas letras cheias de imaginação, ou como Tori Amos, em sua cumplicidade com o piano, o que Dillon nos apresenta é um disco de chansons para esse milênio, onde a melancolia não é apenas um escape para a dor, mas também uma celebração da vida.
Dillon nasceu no Brasil e se mudou para Colônia, na Alemanha, aos cinco anos de idade. “Tenho memórias da minha infância em São Paulo: a escola, o transito , teatro, visita a museus, ir à fazenda, aniversários e dias das mães. Grande parte da minha família ainda vive na cidade e voltei ao país muitas vezes”, declarou a cantora em conversa com a DW Brasil.
Complementar, não oposto
A carreira de Dillon começou como a de muitos aspirantes a artistas nos dias de hoje, na internet. Em 2007 ela gravou vídeos caseiros, onde tocava e cantava algumas de suas composições no piano. Os vídeos tiveram grande número de acessos e uma boa resposta do público, colocando Dillon no radar de fãs e também de outros artistas.
No mesmo ano, ela subiu pela primeira vez ao palco. Cheia de idéias, munida de um teclado e da voz singular, Dillon foi trabalhando suas idéias e transformando-as em canções. “Comecei a cantar para mim mesma, para literalmente ouvir minhas palavras e minhas emoções. Esses dois elementos são até hoje as bases de todas as minhas canções”, diz.
Com músicas que podem soar tristes e melancólicas, mas sempre cheias de vida e emoção, teria a cantora achado um ponto comum entre suas raízes brasileiras e alemãs? “Coloco todos os aspectos da minha vida em meu trabalho. Minha história, minhas experiências estão todas lá. Preciso das quatro estações, o que não existe no Brasil, mas ao mesmo tempo preciso ser aberta, livre e direta como os brasileiros”, disse a cantora, que não vê influencia direta de música brasileira em seu trabalho, apesar de ser fã de Caetano Veloso e de Elis Regina.
Com sua crescente popularidade, Dillon acabou tocando por toda a Alemanha, de pequenos clubes a grandes festivais, como o Melt!. Ela também excursionou com os veteranos do Tocotronic. Depois de algumas participações em faixas de bandas como Coma e de dois singles lançados, estava na hora de a cantora dar o próximo passo em sua carreira.
Momento certo
Com toda a experiência da estrada, Dillon achou o momento certo e os parceiros ideais, Thies Mynther (Phantom/Ghost) e Tamer Özgönenc (MIT), para começar a gravar seu álbum de estreia. Em vinte minutos ela criava idéias básicas para uma canção. No entanto, transformá-las no que ouvimos hoje, levou dias, semanas e até meses. Para a cantora era importante manter o aspecto cru e real de suas demos, mas ao mesmo tempo capturar sua evolução e novos interesses.
O disco mistura algumas composições que Dillon vem trabalhando nos palcos por anos e outras criadas nas sessões de estúdio. Mesmo assim, ela só queria lançar as canções quando houvesse uma unidade, um álbum "com começo, meio e fim".
O resultado são 12 canções que misturam a força da voz de Dillon com batidas eletrônicas sofisticadas e cativantes. Criando um balanço pop entre suas melodias no piano e a ironia de suas letras. Tip tapping é cinematográfica. Thrirteen Thrtyfive é um jazz para a juventude berlinense. Abrupt Clarity remete às pistas de dança dos anos 1990.
“Tudo que eu vejo, cheiro e sinto me inspira a escrever. Meu trabalho é muito pessoal e próximo de quem eu sou. Identidade, solidão e espaço também são temas que quero questionar com o minha música”, disse Dillon.
A experiência de se apresentar ao vivo também mudou. Antes era apenas a cantora e seu piano no palco. Depois do lançamento do álbum, ela teve que incorporar elementos eletrônicos em seus shows. “Queria unir a matemática pragmática da música eletrônica com o lado emocional e irracional das minhas letras e melodias. Foi um processo natural e orgânico”, completou a cantora, que mais uma vez prova que seu lado alemão e brasileiro são mais complementares que opostos.
Autor: Marco Sanchez
Revisão: Francis França