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A cidade absolutista

Carlos Albuquerque19 de maio de 2007

A Guerra dos Trinta Anos marcou não somente o fim da Idade Média na Alemanha, mas também o surgimento do barroco e do classicismo como forma de celebrar a arquitetura de um poder central fortalecido.

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Palácio Sanssouci, em Potsdam, residência de verão do imperador Frederico 2° da PrússiaFoto: dpa

A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), conflito pela hegemonia política na Europa e guerra entre católicos e protestantes, marcou não somente o fim da Idade Média na Alemanha, mas também o fortalecimento dos soberanos políticos com o declínio dos clãs de negociantes devido ao enfraquecimento do comércio durante a guerra.

Os anéis viários em torno de cidades alemãs como Hamburgo, Colônia, Mannheim e Karslruhe remetem, quase sempre, a esta origem barroca. Os novos canhões tornaram necessárias instalações de defesa, tão dispendiosas que somente algumas poucas cidades livres podiam financiar. Este fato levou ao fortalecimento do poder central, responsável pela defesa. Durante o século 19, tais instalações foram destruídas, permitindo a expansão urbana.

Barroco e classicismo

Bayern: Würzburger Residenz
A Residência de WürzburgFoto: dpa

Se nos Estados católicos o barroco foi o estilo adotado pela Igreja e monarcas para representação de seu poder, a cultura grega serviria de base para a formação do Estado alemão, em cuja vanguarda estava a Prússia, que se tornou um dos mais importantes Estados europeus após a derrota de Napoleão. Depois do Congresso de Viena em 1815, os territórios prussianos iam do Reno à Polônia.

O absolutismo, o deslocamento do poder para o centro, pode ser lido na planta das cidades da época, onde reis e príncipes se celebravam como umbigo do mundo em pomposos palácios.

Treppenhaus in der Residenz, Würzburg
Escadaria em Würzburg: pompa e submissãoFoto: picture-alliance/dpa

A proporção das construções, a organização dos espaços e a pompa das decorações propagavam a autoridade da Igreja e dos Estados. Esta era a finalidade de um palácio barroco como a Residência de Würzburg (1719 -1746), na região da Francônia na Baviera, projetada por Balthasar Neumann. A Residência é considerada uma das mais completas construções de estilo barroco e é, desde 1981, Patrimônio da Humanidade.

Planta de Karlsruhe

Poucas maneiras de representação desta forma de poder político são tão claras como a planta da cidade de Karlsruhe, localizada hoje no estado de Baden-Württemberg – a arquitetura da cidade como forma de domínio sobre o homem e a natureza.

Karlsruhe Luftaufnahme Schloss mit Bundesverfassungsgericht
Karlsruhe: domínio do homem e da naturezaFoto: dpa

Fundada em 1715 com a construção do palácio, Karlsruhe tornou-se, a partir de 1806, cidade-residência dos grão-duques de Baden. Partindo de um ponto central, 32 ruas radiais eram englobadas por um anel viário. Nesta planta absolutista, até mesmo o crescimento da natureza era determinado pelo ponto central onde se localiza o palácio, já que os raios das ruas também cortavam parques e florestas. O poder do soberano inatingível era moldado na planta da cidade.

Toda cidade-residência pode ser vista como demonstração da teoria do Estado absolutista. Desta maneira, as diferentes formas de percepção desta teoria de Estado por monarcas franceses, russos e prussianos correspondem também às estruturas urbanas de Versalhes, São Petersburgo e Potsdam.

Schinkel e a ascensão prussiana

Der Elisenbrunnen in Aachen
O pavilhão da Elisenbrunnen, em AachenFoto: PA/dpa

O que Goethe significou para a literatura alemã, a obra de Karl Friedrich Schinkel (1781-1841) o foi para a arquitetura. Como chefe do departamento de obras do Estado prussiano e como arquiteto da família real, Schinkel projetou quase todos os mais importantes edifícios da época e estampou como nenhum outro a imagem de Berlim e da Prússia, fortalecida com a vitória sobre Napoleão e a expansão de seus territórios pelo Congresso de Viena em 1815.

Sua importância foi tão grande que muitos historiadores chamam esta época de "Era Schinkel". Sua arquitetura sofreu influência direta da obra de seu mestre Friedrich Gilly, de quem Schinkel herdou não somente o gosto pela Antigüidade Clássica e pela pureza dos volumes, mas também uma série de projetos, já que Gilly faleceu aos 28 anos.

Karl Friedrich Schinkel Denkmal mit Friedrichwerderscher Kirche, Kalenderblatt
Estátua de Schinkel em Friedrichwerderschen, igreja em Berlim por ele projetadaFoto: AP

Influenciado por Goethe, que em seu escrito sobre arquitetura de 1772 denominou o gótico como a "verdadeira arte germânica", Schinkel dedicou-se também ao estudo da arquitetura medieval, não podendo, entretanto, realizar seus projetos neste estilo, já que seu amigo e mentor intelectual do Estado prussiano que se formava, o ministro Wilhelm von Humboldt, acreditava que o estudo dos gregos era essencial para assegurar os limites do Estado sobre o indivíduo.

Teatros e museus

Enquanto o classicismo grego influenciava o caráter dos prédios públicos de Schinkel, igrejas e monumentos fúnebres eram projetados em estilo gótico. Uma tendência que influenciaria toda a arquitetura do século 19 após a separação do pensamento filosófico da produção arquitetônica, no início da industrialização, dando origem ao estilo arquitetônico conhecido por ecletismo.

Konzerthaus am Gendarmenmarkt, Berlin, Deutschland
Teatro na Gendarmenmarkt, por Karl Friedrich SchinkelFoto: picture-alliance/dpa

Entre os projetos mais conhecidos de Schinkel na capital alemã, estão o teatro na praça do Gendarmenmarkt e o Altes Museum, localizado na pomposa alameda Unter den Linden. A limpeza dos detalhes, a disposição espacial dos edifícios elevando a idéia da praça e a pureza de seus volumes dispostos quase de forma funcional, preconizando o modernismo, fizeram de Schinkel um dos arquitetos mais importantes da história da arquitetura.

A influência de Schinkel se estendeu até as novas províncias da região do Reno e da Westfália, onde a identidade e a autoridade prussianas tinham que ser estabelecidas. Entre estes projetos, estão o pavilhão da Elisenbrunnen, fonte de águas termais em Aachen, e a restauração da catedral de Colônia, cujas torres foram terminadas na segunda metade do século 19.