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Origem das cidades

Carlos Albuquerque12 de maio de 2007

Os germanos não conheciam cidades e divisão do trabalho. A origem da arquitetura e urbanismo alemães se encontra nos assentamentos romanos e, séculos mais tarde, nas construções medievais.

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Mais de mil casas em enxaimel rodeiam o castelo de Quedlinburg, no estado da Saxônia-AnhaltFoto: dpa

É bastante discutível o fato de as aldeias celtas da Idade Antiga poderem ser chamadas de precursoras das cidades atuais, explica o arquiteto e historiador Gert Kähler em Gebaute Geschichte (História Construída, Ernst Klett, Leipzig 2006).

A atual diversidade arquitetônica das cidades alemãs tem duas origens: os assentamentos romanos ao sul do Limes, amplo caminho de fronteiras que ia do Reno ao Danúbio e separava o Império Romano das tribos germânicas, e, séculos mais tarde, a fundação dos núcleos urbanos senhoriais e burgos da Idade Média.

Origens romanas

Os romanos utilizaram o mesmo modelo urbano para a fundação de todas as suas cidades: uma muralha em torno de uma ocupação quadrangular, alinhada segundo os pontos cardeais e dividida por duas vias principais – o cardo e o decumanus, que se cruzavam no centro, onde se localizava o comando e o templo, ou seja, o poder secular e religioso.

Deutschland Köln Einkaufen Schildergasse
Monumento na rua Schildergasse de Colônia celebra origem romana da cidadeFoto: picture-alliance / Bildagentur Huber

Em Colônia, fundada entre 19 e 18 a.C., a muralha da cidade englobava uma área de cerca de um quilômetro quadrado. O cardo maximus transcorria na direção norte-sul e fazia parte da grande estrada das legiões que partia do Mar do Norte e passava por Xanten, Colônia e Mainz em direção ao sul. O decumanus maximus, o eixo leste-oeste, marcava o final de uma via comercial proveniente da Gália.

Estas duas ruas principais marcam ainda hoje a fisionomia urbana de Colônia – o cardo maximus corresponde à Hohe Strasse e o decumanus maximus à Schildergasse, um dos principais endereços comerciais da atual Alemanha.

Fundações medievais

Após o fim do domínio romano na região, no início do séc. 5º, cidades originárias de assentamentos romanos, como Colônia, Mainz, Trier, Regensburg, Augsburg ou Xanten, se tornaram grandes demais para a população que ali restou. Ainda hoje, pode-se reconhecer, em algumas casas, material de construção proveniente daquela época. Como forma de evolução cultural, a cidade e suas construções entraram em decadência.

Marktplatz mit dem gotischen Rathaus
Goslar, Praça do Mercado com Prefeitura gótica

Somente séculos mais tarde, a cidade se tornou, novamente, o lugar de um certo tipo de sociedade, sendo o resultado da divisão e equilíbrio do poder. Para muitos, no entanto, cidades como Rothenburg ob der Tauber ou Lübeck tiveram um crescimento "natural". Até hoje, a imagem de praça do mercado, prefeitura, igreja e residências dos ricos cidadãos, envoltas por uma muralha, é considerada como uma forma ideal de organização urbana.

Esta imagem, no entanto, é errônea. Primeiramente, porque partes das cidades ou até mesmo cidades inteiras eram planejadas na Idade Média – conforme a estrutura social, exigências funcionais e condições geográficas e climáticas. Além disso, a idéia da cidade medieval é bastante influenciada por sua fase mais tardia, época das aglomerações mais densas.

Como a grande maioria destas cidades medievais alemãs foi destruída durante a Guerra dos Trinta Anos (1618–1648), que marcou o fim da Idade Média na Alemanha, a imagem que tais cidades adquiriram durante os séculos 17 e 18 chegaram aos nossos dias como cidade "medieval".

Independência dos cidadãos

O desenvolvimento urbano, por volta do ano 800, remonta a um castelo, à sede de um bispado, a um convento, e, em poucos casos, a um assentamento comercial. Suas fortificações ofereciam proteção a seus habitantes. As casas dos novos citadinos, no entanto, se localizavam fora das muralhas.

Kapellenturm der Kaiserburg in Nürnberg
Torre da capela do Kaiserburg em NurembergueFoto: dpa

Com o aumento da população e do poder econômico de artesãos e comerciantes, a partir do século 11, os respectivos senhores feudais foram obrigados a conceder-lhes uma série de direitos. Economicamente independentes e capazes de co-financiar a ampliação das muralhas, os cidadãos se libertaram das estruturas feudais. Quem viesse do campo para a cidade, não era mais obrigado a trabalhar para seu suserano. A cidade medieval tornou-se assim um pólo de atração.

No século 14, existiam cerca de quatro mil cidades no antigo Império Alemão. A ampliação das muralhas também pode ser lida como diminuição do poder da Igreja e da nobreza sobre os cidadãos. Os mercados constituíam o coração das cidades. Ali se localizavam a prefeitura, o tribunal, a torre e a prisão. Somente a forca se encontrava fora dos muros da cidade.

Lübeck, metrópole do Mar Báltico

Lübeck - Marienkirche, Holstentor
Silhueta de Lübeck: Igreja de Santa Maria (d.) e HolstentorFoto: Illuscope

Lübeck é, para muitos, o exemplo de uma cidade medieval alemã. Protegida por dois braços d'água, Lübeck tornou-se a metrópole econômica do Mar Báltico e, após Colônia, a maior cidade medieval da Alemanha. A localização dos diferentes prédios públicos – igrejas, prefeitura e mercado – e a divisão da planta da cidade em parcelas com acesso à água, que eram oferecidas aos comerciantes, foram o resultado de interesses políticos e econômicos.

A partir de 1226, o imperador Frederico 2° concedeu à cidade fundada em 1143 uma carta de liberdade e amplos direitos. O crescimento da cidade como "terceiro poder", depois do clero e dos nobres, pode ser visto através da localização da Igreja de Santa Maria e do conjunto formado por mercado e prefeitura, que ocupam o ponto mais alto da cidade e cujas torres dominam a paisagem de Lübeck – não as da catedral.

Entre o mercado e o rio Trave, localizava-se o bairro dos clãs de comerciantes, que também formavam o governo. Todos possuíam parcelas praticamente iguais de nove metros de largura e 36 metros de profundidade nas cinco ruas paralelas ao desembarque de navios. Nos bairros dos artesãos e classes menos privilegiadas, as parcelas eram também demarcadas minuciosamente, só que bem menores.

Fachadas rebocadas

Rothenburg ob der Tauber - Plönlein
Rothenburg ob der Tauber, considerada a mais preservada cidade medieval alemãFoto: Rothenburg Tourismus Service

Além das cidades, existia na Idade Média uma série de aldeias habitadas por camponeses. Conforme a região, a tipologia de suas casas apresentava várias diferenças. No norte alemão, da Vestfália a Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, a família camponesa dividia com seus animais um só espaço. No centro e no sul do país, o espaço residencial era, geralmente, separado daquele reservado à criação de animais – uma exceção aqui é a assim chamada Casa da Floresta Negra, construída em vários pavimentos.

A forma de construção era o enxaimel (Fachwerk) – estrutura de madeira com enchimento em palha ou alvenaria, construída algumas vezes sobre um patamar de pedra. Tais construções se demonstraram bastante eficientes, pois as conexões em madeira não são rígidas, ou seja, madeira "trabalha". Existem construções em enxaimel ainda do século 13. A imagem das Fachwerkhäuser com a estrutura de madeira aparente se tornou símbolo da Idade Média e da própria Alemanha.

Assim como a idéia que temos da cidade medieval, esta imagem também não corresponde à realidade, já que em algumas regiões, como também entre os habitantes das cidades, as fachadas das casas em enxaimel eram rebocadas durante a Idade Média. Além de proteger as vigas de madeira de intempéries, os proprietários de tais imóveis queriam dar a impressão de que eram construídos em pedra, como as casas dos ricos comerciantes. Tal aspecto é, ainda hoje, completamente desconsiderado na restauração das cidades medievais, afirma o autor de História Construída.