Armas nucleares, go home!
26 de abril de 2005Calcula-se que haja cerca de 150 armas nucleares táticas norte-americanas na Alemanha. Trata-se de bombas de curto alcance, um resquício da Guerra Fria.
Segundo um estudo da ONG Natural Resources Defense Council, um grupo privado ambientalista e de controle armamentista, o total das bombas atômicas armazenadas na Alemanha, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Itália e Turquia chega a 480. Um número modesto, se comparado com as 7500 bombas estacionadas na Europa ainda na década de 70, porém que ultrapassa estimativas anteriores.
Até agora falava-se em um máximo de 150 a 200 ogivas em todo o continente. Na Alemanha, existem duas bases nucleares de apoio, Ramstein e Büchel. As armas lá estacionadas estão sob comando norte-americano. Entretanto, o acordo Dual Keys Arrangement estabelece que, em caso de ataque, aviões da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) as deveriam transportar até o alvo.
Seguindo o exemplo belga
Os políticos alemães debatem o destino das armas atômicas ainda estacionadas em solo alemão. O presidente do Partido Liberal (FDP), Guido Westerwelle, e a deputada verde do Parlamento Europeu Angelika Beer pronunciaram-se na imprensa pela retirada das bombas.
Além disso, a bancada do FDP apresentou no Bundestag (Parlamento alemão) uma moção pedindo que o governo federal se empenhe para que Washington leve suas armas de volta. Berlim não se pronunciou oficialmente sobre o tema, porém adiantou que, na qualidade de membro da Otan, a Alemanha tem obrigações no tocante à defesa nuclear.
Angelika Beer apelou ao governo Schröder para que apóie uma iniciativa do Senado belga. Na semana passada este exigiu maior transparência e negociações sobre a retirada de todas as armas atômicas norte-americanas estacionadas na Europa. Essa iniciativa deveria constituir a base para uma "ação coordenada da União Européia". Uma retirada também aumentaria a credibilidade das negociações sobre o programa nuclear do Irã.
Meios obsoletos
Há muito tempo, peritos em segurança vêm expressando dúvidas de que o estacionamento permanente de armas na Europa seja atualmente justificável. Karl-Heinz Kamp, da Fundação Konrad Adenauer, explica que durante a Guerra Fria as ogivas nucleares eram o testemunho da promessa norte-americana de segurança para a Europa e da colaboração dos europeus. Mais tarde elas passaram a ser consideradas uma garantia residual contra possíveis tendências agressivas da Rússia.
Hoje em dia, nenhuma dessas funções é mais sustentável. As armas armazenadas na Europa não são apropriadas nem mesmo como meio de intimidação contra possíveis agressores do Terceiro Mundo – os chamados "Estados delinqüentes" (rogue states) –, por precisarem ser transportadas até o local de ataque.
A Alemanha estava na linha de frente da Guerra Fria até a queda do Muro de Berlim precipitar o colapso da União Soviética. Acreditava-se que, caso o conflito escalasse, os EUA haveriam sacrificado a Alemanha num embate nuclear com a URSS, numa tentativa de proteger o restante da Europa.