Berlim e Washington em tempo de reviravolta militar
11 de janeiro de 2004A Alemanha planeja reestruturar em grande estilo suas Forças Armadas, a Bundeswehr. No sábado (10) o ministro da Defesa, Peter Struck, anunciou cortes radicais no orçamento militar, a serem divulgados oficialmente no início da semana. Porém, a imprensa já se antecipou, noticiando entre 23 e 36 bilhões de euros a menos nas verbas para aquisições e investimentos militares.
A decisão deverá atingir um grande número de encomendas de equipamentos. Segundo os jornais Die Welt e Handelsblatt, isto se aplica ao veículo armado polivalente desenvolvido pelo grupo tecnológico alemão Rheinmetall e a inglesa GKN: o número de unidades encomendadas cairá de 1100 para apenas 200.
O mesmo deverá ocorrer com os helicópteros NH 90 (de transporte) e Tiger (de combate), fabricados pela unidade Eurocopter da firma aeroespacial européia EADS. Os planos de uma terceira encomenda de jatos Eurofighter poderão também ser radicalmente afetados.
Cortes democráticos
Struck recusou-se a comentar as notícias. Contudo, conforme admitiu ao periódico Bild am Sonntag, já avisou aos líderes militares ser improvável que o orçamento da Bundeswehr permaneça intocado pelos cortes abrangentes de despesas do governo: "Numa época em que estamos fazendo reduções radicais nos programas sociais, não podemos continuar gastando mais e mais com as Forças Armadas".
Em 2003, Struck já anunciara a intenção de reduzir em 30 mil o contingente militar alemão até 2010, permanecendo com apenas 250 mil soldados. Diversas bases militares serão fechadas e o pessoal civil palpavelmente "enxugado".
Paradoxalmente, o jornal Der Spiegel informou que a Alemanha pretende participar de um sistema de defesa aérea, ao lado dos Estados Unidos e da Itália. Com custo estimado em sete bilhões de euros, o Medium Extended Air Defense System (MEADS) seria utilizado para abater aeronaves e mísseis inimigos.
Tio Sam também
Enquanto Berlim elabora mudanças drásticas nos quadros militares, o Pentágono também confirmou na sexta-feira (09) a intenção de retirar seus tanques e outros armamentos pesados da Alemanha, nos próximos anos.
A medida integra os esforços de Washington para reestruturar a mobilização global de suas forças. Completando estas declarações, o Wall Street Journal noticiou que entre 30 mil e 40 mil soldados da 1ª Divisão Armada e da 1ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos poderiam estar deixando o país, entre 2005 e 2006.
Atualmente há cerca de 70 mil militares norte-americanos na Alemanha. O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, não faz segredo de seu desejo de reorganizar a presença militar dos EUA no mundo, passando do modelo originário da Guerra Fria – como o da Alemanha –, a unidades menores e mais flexíveis, localizadas próximo a pontos potenciais de conflito, tanto no Oriente Médio como em outras regiões.
Represália ou não?
Os oficiais americanos insistem que a decisão de retirar tropas nada tem a ver com a oposição de Berlim à guerra contra o Iraque. Prova disso seria que suas bases-chave – a aérea, em Ramstein e o quartel-general em Stuttgart – não serão atingidas pelas mudanças.
Por outro lado, são justamente os países do Leste europeu, que apoiaram incondicionalmente os EUA durante o conflito no Iraque, a serem considerados como locais para as novas bases. Dentre esses, destacam-se a Polônia e a Romênia.