Concerto virtual no Memorial do Holocausto
23 de fevereiro de 2014Quem visita o famoso Memorial aos Judeus Mortos da Europa, em Berlim, pode agora baixar um concerto virtual com o smartphone através de um código QR (do inglês: código de resposta rápida). E não é qualquer concerto, mas a primeira apresentação de Vor dem Verstummen, do compositor alemão Harald Weiss.
A obra, dotada de sofisticação técnica e sons opressivos, foi escrita especialmente para uma performance que aconteceu no memorial em 2008. "Nós queríamos proporcionar uma experiência acústica para quem visita o monumento", afirma Daniel-Jan Girl, idealizador do concerto e do aplicativo de celular.
Um concerto único
Na ocasião, os 24 instrumentistas da Orquestra de Câmara de Berlim foram posicionados entre os 2.711 blocos do monumento. Um monitor permitia a cada um deles ver o regente.
Cada um dos 3.000 espectadores teve uma experiência única: dependendo de onde se estava, um dos instrumentos se sobressaía. A ideia de uma experiência única era, de certa forma, uma metáfora do isolamento das vítimas do Holocausto.
Devido à complexidade técnica, não foi possível realizar o concerto uma segunda vez. Mas Girl, o mais jovem membro da instituição que cuida do Memorial aos Judeus Mortos da Europa, queria que todos os visitantes do memorial tivessem a oportunidade de passar por essa experiência auditiva.
App tornou experiência possível
E assim ele chegou a uma solução simples, usando um aparelho que quase todo mundo carrega consigo: o smartphone. "Estamos agora na segunda geração depois [do Holocausto], e a questão que surge é: como você lida com a responsabilidade histórica? O tema do Holocausto traz imediatamente uma carga enorme para quem trabalha com ele", diz Girl. "Com a música e a tecnologia, tentamos oferecer um acesso universal ao tema."
Por meio de doações e crowdfunding foi possível levantar os fundos para o desenvolvimento de um aplicativo de celular (app) que proporcionasse ao usuário uma experiência parecida com a do concerto. Por GPS, o app reconhece a posição do visitante e toca o concerto da mesma forma que ele pode ser ouvido na apresentação de 2008. À medida que o visitante caminha pelo memorial, os instrumentos soam mais próximos ou mais distantes.
Cultura da memória
A atriz Iris Berben, há décadas envolvida com a memória do Holocausto, ajudou a colocar os primeiros 23 tijolos com o código QR pelo monumento. Similar ao conceito das "Pedras da Memória", que relembra os perseguidos e assassinados pelo regime nazista, as pedras no chão buscam, de maneira rápida e fácil, convidar os visitantes a se deixar conduzir pelo memorial.
Berben conta que logo se empolgou com o projeto: "Temos que renovar nossa cultura da memória", diz a berlinense. "E essa nova técnica permite passar a memória adiante."
Até o momento, o aplicativo está disponível apenas para iPhone. Em breve, a versão para outros sistemas operacionais deve ser lançada. O concerto também pode ser ouvido na internet.