Criados em casa
7 de julho de 2010Há cinco anos, quando as autoridades de segurança da Alemanha discutiam a ameaça de terroristas islâmicos no território nacional, tratava-se principalmente de estrangeiros vindos de países árabes ou do norte da África. Também estudantes universitários estrangeiros e requerentes de asilo faziam parte do grupo com tendência à radicalização.
Jovens de origem turca de segunda ou terceira geração não estavam na mira dos investigadores – menos ainda jovens alemães com histórico de imigração ou alemães convertidos. Mas o atentado de 7 de julho de 2005 alterou esse contexto, quando quatro bombas explodiram na capital inglesa tendo como alvo o sistema de transporte público em pleno horário do rush. O atentado matou 52 pessoas e deixou inúmeros feridos. Um ano depois, ataques em Madri provocaram a morte de 191 pessoas.
Os terroristas "homegrown" de Londres alertaram a polícia alemã para um novo fenômeno. De fato, alguns meses depois, investigadores alemães perceberam que a mesma atmosfera explosiva havia se desenvolvido em meios com alta concentração de imigrantes na Alemanha.
Cada vez mais jovens com potencial criminoso, mas que ainda não cometeram nenhum crime de fato, se encaixam no perfil dos chamados terroristas domésticos. São jovens do sexo masculino que não necessariamente desenvolveram seu potencial radical em campos remotos de treinamento de terroristas fora do país. Pelo contrário: muitos foram à escola e passaram a juventude na Alemanha, e são mais ou menos integrados à sociedade. Muitos são alemães convertidos ao Islã.
O caso Eric Breininger
Acredita-se que em maio de 2010 o jovem Eric Breininger tenha sido morto no Afeganistão. Até esta data, suas imagens e ameaças circulavam com frequência na mídia alemã: o alemão convertido fazia parte do grupo internacional União da Jihad Islâmica.
Numa autobiografia encontrada após sua morte, que é tida como autêntica embora provavelmente não tenha sido escrita apenas por ele, Breininger conta sua trajetória na Jihad, a guerra santa islâmica. As imagens da opressão dos muçulmanos por "infiéis" do Ocidente, especialmente pelos norte-americanos, o teriam motivado.
"Rapidamente soube que precisava fazer algo contra esses 'cruzados' que ofendem nossos irmãos e irmãs. Cada muçulmano deveria trabalhar para garantir que se viva conforme as leis de Alá para que possamos construir novamente um Estado islâmico. Mas parece que a maioria está satisfeita em viver numa terra de descrentes", diz um trecho da autobiografia.
Mudança de paradigma
Segundo as autoridades, muitos militantes islâmicos na Alemanha pensam como Breininger. Trata-se de um desenvolvimento que começou devagar após 11 de setembro de 2001 e a "guerra ao terror", e avançou rapidamente após o ataque de 2005.
De repente, não se tratava mais apenas de estrangeiros, como Yousef Mohammed El Hajdib e Dschihad Hamad, que, no verão de 2006, tentaram explodir bombas na Alemanha durante a Copa do Mundo. Nesse caso, ainda eram pessoas que não falavam alemão e pouco sabiam sobre a sociedade alemã.
Já Fritz, Daniel, Adem e Atilla, do chamado Grupo de Sauerland, tinham todos fortes ligações com a Alemanha. Um deles era um rapaz de "boa família", cuja mãe era uma médica respeitada e o pai tinha uma empresa de médio porte; outro era filho de turcos kemalistas bem integrados. Mas os dois tinham em comum o desejo de partir para a Guerra Santa e a disponibilidade de morrer em nome de Alá. Para os investigadores, houve aí uma mudança de paradigma.
Medidas preventivas
Hoje, cinco anos depois dos atentados em Londres, os terroristas domésticos já fazem parte do cotidiano das autoridades alemãs. Entre 30 e 40 deles se movimentam atualmente entre a Alemanha e o principal centro do jihadismo, a região de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.
Uns estão tão convencidos a ponto de quererem buscar suas mulheres e crianças, enquanto outros pretendem voltar à Alemanha. Mas todos eles possuem referências alemãs em comum, tendo já passaporte alemão ou estando à espera de um.
A polícia se prepara: segundo um documento interno, a naturalização de pessoas com tendência a cometer crimes em nome da religião deve ser evitada, sem que isso interfira no trabalho de prevenção.
"Para não prejudicar os esforços de prevenção de crimes, é preciso deixar claro que essas medidas são dirigidas contra potenciais criminosos islâmicos, e não contra estrangeiros e muçulmanos em geral", diz o documento.
Já que não se pode evitar a radicalização de jovens na Alemanha, a polícia alemã defende que deveria ser possível, no caso de estrangeiros, apelar ao menos para a deportação. Atilla Selek, integrante do Grupo de Sauerland, preso na Alemanha em 2007 por tentativa de atentado a instalações americanas na Alemanha e condenado a cinco anos de prisão no começo de 2010, sente isso na própria pele: sua naturalização alemã deverá ser suspensa, a fim de permitir que ele seja deportado para a Turquia.
Também Adem Yilmaz, outro integrante do grupo, está ameaçado de deportação e seu pedido de naturalização não teve andamento.
Efeitos limitados
Mas nem isso seria suficiente para assegurar o controle sobre os terroristas domésticos, acreditam as autoridades. Programas de "desradicalização" estão sendo desenvolvidos pelas autoridades de proteção constitucional, permitindo que frustrados, como por exemplo o hamburguês suspeito de terrorismo Rami M., retornem do Afeganistão e encontrem uma saída da espiral de violência.
Entretanto, os resultados do programa, que conta com disque-denúncia em diferentes línguas, além de ofertas educacionais e aconselhamento, não surtem os efeitos desejados, criticam especialistas.
Autores: Holger Schmidt / Nádia Pontes
Revisão: Rodrigo Rimon