Alemanices: Impressões e cores do outono
6 de outubro de 2017Desde 22 de setembro, muita coisa mudou. Cada troca de estação define uma nova rotina, novos costumes e sentimentos. Como camaleões, nossos corpos e emoções se adaptam ao novo cenário de tantas cores. O outono europeu chegou pintando a paisagem alemã de tons variados entre o castanho, amarelo, laranja, vermelho e roxo.
O mix de cores nos impressiona pela beleza, mas o vento frio nos lembra que os dias ficarão cada vez mais curtos e escuros e que as temperaturas vão despencar de forma lenta e gradativa. Os dias são ensolarados, mas são o prenúncio da palidez do inverno. É, portanto, uma beleza melancólica. E apesar de ser o aviso do longo e quase eterno frio, é uma das estações mais encantadoras da Alemanha, com costumes, comidas e bebidas típicas da época.
Ruas pintadas
Com a ausência de luz e calor, as plantas param de sintetizar clorofila, pigmento que as deixou verdinhas durante a primavera e o verão. Os lagos passam a refletir as novas cores das folhas de plátano e carvalho, que ao caírem tingem o chão dos mais variados tons entre o amarelo e o vermelho.
Pequenos montes de folhas se acumulam nos canteiros das ruas, calçadas, em cima dos carros, nos telhados e insistem invadir a entrada da sua casa, talvez esperando ser acolhidas do frio que está por vir. Nas ruas, os limpadores usam um equipamento de ar para "varrer" as folhas e abrir caminho.
Com o vento, as folhas passeiam para todos os lados. Cada folha cai com charme e leveza. Para completar a melancolia, crianças e adultos empinam pipas (Drachen, dragão em alemão) que dançam no vento com o pôr do sol de fundo.
Coleção de castanhas
Não apenas as folhas, mas as castanhas caem no chão por todos os lados. As crianças não perdem tempo e fazem colares e montam com palitos pequenos animais de castanhas. Barraquinhas na rua vendem a tradicional "marone", castanha comestível assada, com sabor forte e autêntico. Em casa, também há pessoas que assam castanhas para comer acompanhadas de chá.
Em Bonn, a antiga capital da Alemanha Ocidental, a corrida para colher castanhas é frenética. Desde 1936, a fábrica de balas de goma Haribo faz todos os anos uma campanha de troca das castanhas por Gummibärchen (ursinhos de goma), que são muito populares na Alemanha. Em dois dias de outubro, centenas de famílias fazem filas em frente à fábrica para fazer a troca. As pessoas arrastam sacos enormes ou carrinhos com caixotes cheios de castanhas colhidas nas ruas.
As castanhas são doadas para instituições que protegem animais selvagens e vão servir como alimento. Dez quilos de castanha (Kastanie) ou cinco quilos de bolota, o fruto do carvalho (Eichel), as preferidas dos esquilos, valem um pacote de um quilo de balinhas de goma.
Abóboras em todas as formas
Mal começa o outono, os supermercados são invadidos por abóboras de todos os tamanhos e cores. Abóboras verdes em formato de coroa ou as tradicionais grandes para o Halloween são encontradas em toda parte. Algumas são apenas para decoração, outras, podem ser servidas – de acordo com a fome e o gosto – como pratos frios, quentes, doces ou salgados.
Colheita de cogumelos
Os alemães são especialistas na colheita de cogumelos e sabem diferenciar os comestíveis dos venenosos. O outono é a época certa para se aventurar nas florestas e colher cogumelos raros, como o Steinpilz (cogumelo porcino). Famílias, casais e grupos de amigos saem com pequenas faquinhas e sacos de pano para fazer a colheita, que é uma diversão perfeita para o fim de semana.
Federweisser
O vinho novo (neuer Wein), ou Federweisser, é a bebida típica do outono na Alemanha. Feita do mosto de uvas brancas, a bebida é resultado dos estágios iniciais da fermentação do suco da uva fresca espremida. O teor alcoólico varia de 4% a 10%.
A estação que marca o início da colheita das uvas também convida para os festivais de vinho em cidades cercadas pelos vinhedos alemães e para passeios nas trilhas de vinho nas montanhas.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África é mestre em direitos humanos e tem prêmios jornalísticos na área.