Alemanices: Assoar o nariz em público, mesmo à mesa
29 de setembro de 2017Todos à mesa. A comida já está servida. E, de repente, o barulhão. Você estava prestes a saborear aquele pedaço de pizza, quando seu amigo que já vive há um tempo na Alemanha decide assoar o nariz em pleno jantar. E não apenas uma, mas duas vezes, dado o nível do resfriado. O barulho é tão alto que, para não interromper a conversa e manter a naturalidade, é preciso elevar o tom da voz.
Na Alemanha, assoar o nariz – não importa onde – é tão normal quanto espirrar ou tossir em público. No fim, quem está constrangido com a situação é apenas você, porque o gesto é super comum. Os alemães não têm o costume de "fungar" quando estão gripados. Aliás, isso seria o ato estranho por aqui, porque significa que o nariz não está limpo.
No inverno ou em períodos de transição entre estações do ano, é comum ser surpreendido com a sinfonia dos resfriados. E, para um recém-chegado, a sensação é de susto mesmo. O som estridente pode surgir do nada em restaurantes, reuniões de trabalho, jantar com amigos e família e até num date.
Todo alemão carrega um pacote de lencinhos de papel (Taschentuch) para os momentos em que for preciso. Em lojas e supermercados, dá para comprar um pacote com mais de 30 deles para durar por mais tempo.
Assoar o nariz com bastante força não é considerado nojento, apenas normal. O som é alto, porque as pessoas tentam limpar de uma vez. Alguns sites dão dicas de como tornar esse costume mais discreto e não incomodar as outras pessoas.
Aos poucos, a sinfonia se torna familiar e o que chegou a lhe assustar pode passar a ser algo comum. É até preciso se policiar para não reproduzir o gesto na frente da família brasileira, que reclama dos ruídos por onde vai quando vem lhe visitar na Alemanha.
Já na falta dos lencinhos, é normal ver pessoas usando o guardanapo do restaurante para limpar tanto a boca quanto o nariz... Neste caso, meu estranhamento permanece.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África é mestre em direitos humanos e tem prêmios jornalísticos na área.