A lenta renovação da moeda britânica após a morte da rainha
17 de setembro de 2022Durante o longo reinado de Elizabeth 2ª, o lado direito de seu rosto estava estampado em cédulas, moedas, selos e caixas de correio. Após sua morte, o sucessor, Charles 3º, será retratado mostrando o lado esquerdo. Especialistas avaliam que a mudança poderá custar em torno de 350 milhões de libras esterlinas (2 bilhões de reais), e levar vários anos até ser concluída.
O Banco da Inglaterra calcula que o custo para produzir cada cédula bancária é de 0,07 a 0,08 libra. Existem em torno de 4,7 bilhões de cédulas em circulação no Reino Unido. O custo para substituí-las é calculado em 350 milhões de libras, segundo Joe Trewick, do portal de internet The Coin Expert, voltado para colecionadores.
"A Royal Mint [Casa da Moeda britânica] não revela quanto custa produzir novas moedas, mas com 29 milhões delas atualmente em circulação, podemos presumir que o custo total será de vários milhões de libras", disse Trewick à DW. "Deve-se levar em conta que esse custo não será pago antecipadamente."
Sem mudanças drásticas
"Levou em torno de oito anos para a rainha Elizabeth 2ª aparecer na primeira cédula após sua ascensão ao trono; cronogramas semelhantes devem ser adotados no caso do rei Charles 3º. Além disso, é provável que o Banco da Inglaterra e a Royal Mint já tenham se preparado há algum tempo para isso, de modo que alguma verba já estará reservada, sem dúvida", explicou Trewick.
O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, afirmou em comunicado que "as cédulas atuais com a efígie de Sua Majestade a Rainha continuarão sendo a moeda corrente". A instituição informou que fornecerá atualizações sobre a futura moeda após o fim do período de luto oficial de pelo menos dez dias.
Anne Jessopp, diretora executiva chefe da Royal Mint, comentou que "o legado notável da monarca de reinado mais longevo da Grã-Bretanha viverá ainda por muitos anos".
Não será necessário um recall
A substituição deverá levar dois anos ou mais, com a troca das moedas ocorrendo de maneira orgânica, e não através de um recall. A Royal Mint fabrica de 3 a 4 milhões de moedas por dia, e deverá manter a produção com o retrato da rainha no design atual até o final do ano. Isso significa que o novo estilo não deve aparecer antes do fim de 2024, no mínimo.
Quando as cédulas sintéticas de 50 libras foram lançadas em 2016, a substituição por parte do Banco da Inglaterra levou 16 meses para ser implementada, a um custo estimado de 236 milhões de libras, devido às despesas com a atualização e substituição dos caixas automáticos, segundo especialistas da CMS Payments Intelligence.
Elizabeth 2ª foi a primeira monarca a aparecer nas cédulas do Banco da Inglaterra. Sua imagem foi atualizada cinco vezes, enquanto ela envelhecia. A imagem mais recente da monarca, desenhada por Jodi Clark, foi lançada em 2015, de perfil e usando coroa e brincos. Ela aparece nas moedas de uma e duas libras, nas cédulas de 20 e 50 libras e nas moedas de centavos.
No passado, as moedas de vários monarcas circulavam durante décadas após as mortes de reis e rainhas. Quando Elizabeth assumiu o trono, moedas com a imagem de seu pai, de quem ela herdou a coroa, circularam durante 20 anos a morte dele. Elas foram finalmente retiradas com a introdução dos valores decimais, em 1971. O rosto da rainha começou a aparecer nas moedas em 1953, um ano após sua ascensão.
Mais do que moedas e cédulas
O Royal Mail, o serviço nacional de correios, informou que os selos postais não utilizados permanecerão válidos para uso pelo menos até o fim de 2023. O serviço postal moderno teve início em 1635, no reinado de Charles 1º. Hoje em dia, há mais de 115 mil caixas de correio no país, poranto 98% da população vive a menos de um quilômetro de alguma delas, segundo o Royal Mail.
Cada caixa de correio traz a insígnia do monarca que reinava na época em que foi instalada. Muitas deles contém as letras "E", para Elizabeth, e "R" para Regina. As novas caixas postais deverão trazer a cifrado rei Charles 3º, que representado pela sigla "CR", de "Charles Rex 3º".
Indagado sobre os custos da mudança, um porta-voz do Royal Mail disse tratar-se de "uma informação comercial que não vamos revelar, mas, em linha com o desejo do rei, vamos minimizar quaisquer desperdícios e despesas evitáveis". "Assim, utilizaremos os estoques de selos postais e não removeremos a cifra da rainha dos veículos e caixas de correio."
O selo real
No caso das delegacias de polícia e estações dos corpos de bombeiros, milhares das bandeiras com a cifra EIIR que tremulam nos mastros em frente a esses locais terão que ser substituídas.
Medalhas militares com a efigie da rainha também serão trocadas, enquanto uniformes policiais e militares que trazem a cifra da rainha – o monograma impresso nos documentos reais e de Estado – deverão ser atualizados com o tempo.
O EIIR da rainha também aparece nos tradicionais capacetes da polícia. Os passaportes britânicos serão emitidos em nome do novo rei, e sua redação, atualizada.
O selo real ("Royal Warrant") se aplica a cerca de 600 empresas com histórico de serviços à família real, entre estas, a fabricante de pianos Steinway e a marca de gin Gordon's. Após a morte da rainha, elas deverão renovar o pedido pela concessão do selo real, o que não deve ocorrer rapidamente. Quando o príncipe Philipmorreu, em abril de 2021, concedeu-se às detentoras do selo real um período de carência de dois anos.
Comunidade Britânica de Nações
A imagem da rainha também está impressa nas moedas correntes de 35 países – número superior ao de qualquer outro monarca. Entre eles estão o Canadá, Nova Zelândia, Fiji e o Chipre, onde a efígie real estampada em algumas cédulas e moedas por sua posição de líder da Comunidade Britânica de Nações.
Num possível sinal do que está por vir, o rei Charles 3º não aparecerá automaticamente na nota de 5 dólares da Austrália. Um membro do governo australiano afirmou que a imagem de Elizabeth 2ª era utilizada somente em razão de seu status pessoal.