A verdade é que, neste momento, na Alemanha não há tempo para campanha eleitoral. Poucas semanas antes das eleições de 26 de setembro, os cartazes pendurados nas ruas podem facilmente passar despercebidos. Assim como as aparições públicas dos três principais candidatos, Armin Laschet (CDU, conservador), Annalena Baerbock (Partido Verde) e Olaf Scholz (SPD, social-democrata).
É um paradoxo: em um momento em que enfrentar enormes problemas globais e locais depende crucialmente da liderança política, poucos na Alemanha parecem estar interessados em quem vai se mudar para o gabinete de chanceler federal depois de Angela Merkel.
Se, no Brasil, apesar de ainda faltar um ano para as eleições, as pesquisas em torno dos potenciais candidatos presidenciais Bolsonaro e Lula atraem grande atenção, aqui na Alemanha as sondagens circulam abaixo do limiar de percepção do público.
Não há tempo para política
Dominam o debate público, em vez disso, as crises e os desastres. Eles puseram em marcha uma espécie de mecanismo de autoproteção que também é conhecido no Brasil e funciona de acordo com o lema: "Não tenho tempo para política, tenho que trabalhar e bombear a água para fora do porão primeiro".
Neste momento, não faltam crises dentro e fora da Alemanha. No Haiti, outra catástrofe humanitária está se aproximando após o terremoto. No Afeganistão, centenas de milhares estão fugindo do domínio talibã – inclusive para a Alemanha.
Na Grécia e na Turquia, os incêndios florestais estão destruindo enormes áreas, e na Itália e na Espanha estão sendo registradas temperaturas recordes de mais de 45 graus Celsius. Na Alemanha, chuvas torrenciais causaram enchentes históricas.
E isso não é tudo. A pandemia ainda não terminou. A variante delta do coronavírus está levando ao aumento no número de infecções, e os temores de um novo lockdown no outono alemão crescem. A taxa de vacinação está aumentando, assim como, infelizmente, a queda de braço com os que ainda resistem a se vacinar.
Os verdes queriam uma campanha eleitoral em torno da pauta climática, e a CDU de Merkel buscava apelar para todos com imagens harmoniosas: famílias, aposentados, professores, empresários, inquilinos e proprietários de imóveis.
Campanha digital e distante
Mas as coisas saíram diferentes do previsto. A pandemia forçou todos os candidatos a fazer campanha nas mídias sociais. Digital e distante. E o coronavírus também deslocou a crise climática para outro plano. Assim como a campanha eleitoral, o debate sobre a mudança climática foi vítima da luta contra a covid-19.
Depois veio o recente desastre das enchentes no oeste da Alemanha e, com ele, o fim da campanha eleitoral. Sobre o que mais os candidatos devem falar com pessoas que perderam tudo? Sobre o aumento de impostos para financiar a reconstrução? Sobre a mudança climática, que vai trazer mais devastação?
Dar ajuda financeira e não confrontar com verdades desagradáveis eleitores irritados é certamente mais fácil. Em contraste com a campanha eleitoral de 2017, que foi dominada pelas consequências da crise dos refugiados, a corrida atual para a chancelaria federal é silenciosa.
A apatia política de muitos eleitores e a impotência política de muitos candidatos mostra sobretudo uma coisa: a Alemanha está exausta. Do coronavírus, de lockdowns, de enchentes e ondas de calor, e da gestão política de crises.
Muitas pessoas estão confiando no fato de que após 26 de setembro será encontrada alguma maioria política para governar o país. Como lembrete: após as eleições de 2017, as negociações da coalizão duraram quase meio ano, e durante esse período Berlim funcionou sem um governo.
Desta vez, as coisas podem se complicar novamente nas negociações de coalizão. Pois a coalizão entre os conservadores da CDU e os verdes, inicialmente tida como garantida, está ameaçada, como mostram as pesquisas.
Após 16 anos de governo Merkel, não está descartado que a CDU volte à oposição. Isso acontecerá se outros partidos - por exemplo os social-democratas, os verdes e os liberais do FDP - obtiverem juntos mais de 50% dos votos e chegarem um acordo para montar uma coalizão. Talvez a campanha eleitoral seja, ao final, emocionante.
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Astrid Prange de Oliveira trabalhou como correspondente no Brasil e na América Latina por oito anos. Para a DW Brasil, ela escreveu a coluna Caros Brasileiros durante três anos. Agora, com a coluna Alemanha vota ela retorna como observadora da campanha eleitoral alemã. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt