Será que jovens eleitores da Alemanha têm a chance de fazer valer seus interesses politicamente? Mesmo que eu preferisse responder a essa pergunta com "sim", a resposta honesta, infelizmente, é "não".
Na Alemanha, é a população mais velha que decide o futuro político do país, e esse também será o caso nas próximas eleições parlamentares alemãs de 26 de setembro.
Pois a supremacia demográfica é avassaladora: de acordo com estatísticas oficiais, 57% de todos os capacitados a votar na Alemanha têm mais de 50 anos. Os eleitores com menos de 30 anos representam apenas 14,4%.
Clima é importante, aposentadoria é mais
Não apenas os eleitores são velhos, mas também os políticos. No atual Bundestag, apenas três do total de 709 deputados têm menos de 30 anos. E do total de 6.211 candidatos ao novo Bundestag, 1.032 têm menos de 30 anos.
Queira ou não queira, na Alemanha, os interesses dos jovens eleitores não têm chance sem o apoio dos idosos. Isso se reflete sobretudo no debate sobre um tema que é particularmente importante para os jovens: a proteção do clima.
Dependendo da sondagem, o apoio da geração mais velha para esse tópico varia. De acordo com a pesquisa DeutschlandTrend, uma clara maioria de alemães, ou seja, 81%, vê uma grande necessidade de ação em termos de proteção climática.
Numa pesquisa encomendada pela entidade ambientalista alemã Nabu, no entanto, descobriu-se que apenas cerca de 30% da população com mais de 50 anos se preocupa, na hora de votar, com os "interesses de conservação climática e da natureza da geração jovem".
Nova política com velhos?
Nessas eleições, é exatamente o candidato mais velho de todos que promete se empenhar por mudanças. Olaf Scholz, ministro das Finanças e social-democrata, nascido em 1958, quer formar um governo com os verdes e promover a proteção do clima.
O poder dos velhos é um fator que atualmente liga a Alemanha ao Brasil. Porque no país sul-americano provavelmente também serão dois homens mais velhos que irão ao segundo turno das eleições presidenciais do ano que vem: Bolsonaro e Lula.
E, infelizmente, há semelhanças nos dois países no que diz respeito ao comportamento eleitoral das gerações mais jovens: na Alemanha, também, muitos jovens votam em políticos populistas de direita, embora menos do que no Brasil.
Nas eleições alemãs de 2017, por exemplo, a proporção de votos para o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que mantém relações amistosas com Bolsonaro, foi de 20,8% no grupo de 18 a 34 anos.
No Brasil, de acordo com pesquisa do Datafolha de 2 de outubro de 2018, pouco antes das eleições presidenciais de 7 de outubro, Bolsonaro tinha 32% de intenção de voto na faixa etária entre 16 e 24 anos.
Mesmo que todos os partidos – sejam eles da Alemanha, sejam do Brasil – afirmem querer atrair os eleitores jovens, em termos de conteúdo eles procuram não assustar os eleitores mais velhos. Na Alemanha, o candidato a chanceler social-democrata chegou até a imitar o gesto da chanceler Angela Merkel, com as mãos juntas em forma de losango, durante um evento de campanha.
O desenvolvimento demográfico está impondo suas próprias regras à democracia. O conflito político das gerações persiste. E com ele o perigo de que o desejo de estabilidade se transforme em paralisação.
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Astrid Prange de Oliveira trabalhou como correspondente no Brasil e na América Latina por oito anos. Para a DW Brasil, ela escreveu a coluna Caros Brasileiros durante três anos. Agora, com a coluna Alemanha vota ela retorna como observadora da campanha eleitoral alemã. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt
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