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O voto dos jovens vale pouco

Astrid Prange de Oliveira | Autorenfoto DW Brasil
Astrid Prange de Oliveira
21 de setembro de 2021

Não são os jovens, mas os eleitores mais velhos que vêm decidindo as políticas para o futuro na Alemanha. E essa evolução demográfica em breve pode afetar também o Brasil, escreve Astrid Prange.

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Jovens durante protesto
Proteção climática é um tema particularmente importante entre o eleitorado jovem da AlemanhaFoto: Sachelle Babbar/ZUMAPRESS.com/imago images

Será que jovens eleitores da Alemanha têm a chance de fazer valer seus interesses politicamente? Mesmo que eu preferisse responder a essa pergunta com "sim", a resposta honesta, infelizmente, é "não".

Na Alemanha, é a população mais velha que decide o futuro político do país, e esse também será o caso nas próximas eleições parlamentares alemãs de 26 de setembro.

Pois a supremacia demográfica é avassaladora: de acordo com estatísticas oficiais, 57% de todos os capacitados a votar na Alemanha têm mais de 50 anos. Os eleitores com menos de 30 anos representam apenas 14,4%.

Clima é importante, aposentadoria é mais

Não apenas os eleitores são velhos, mas também os políticos. No atual Bundestag, apenas três do total de 709 deputados têm menos de 30 anos. E do total de 6.211 candidatos ao novo Bundestag, 1.032 têm menos de 30 anos.

Queira ou não queira, na Alemanha, os interesses dos jovens eleitores não têm chance sem o apoio dos idosos. Isso se reflete sobretudo no debate sobre um tema que é particularmente importante para os jovens: a proteção do clima.

Dependendo da sondagem, o apoio da geração mais velha para esse tópico varia. De acordo com a pesquisa DeutschlandTrend, uma clara maioria de alemães, ou seja, 81%, vê uma grande necessidade de ação em termos de proteção climática.

Numa pesquisa encomendada pela entidade ambientalista alemã Nabu, no entanto, descobriu-se que apenas cerca de 30% da população com mais de 50 anos se preocupa, na hora de votar, com os "interesses de conservação climática e da natureza da geração jovem".

Nova política com velhos?

Nessas eleições, é exatamente o candidato mais velho de todos que promete se empenhar por mudanças. Olaf Scholz, ministro das Finanças e social-democrata, nascido em 1958, quer formar um governo com os verdes e promover a proteção do clima.

O poder dos velhos é um fator que atualmente liga a Alemanha ao Brasil. Porque no país sul-americano provavelmente também serão dois homens mais velhos que irão ao segundo turno das eleições presidenciais do ano que vem: Bolsonaro e Lula.

E, infelizmente, há semelhanças nos dois países no que diz respeito ao comportamento eleitoral das gerações mais jovens: na Alemanha, também, muitos jovens votam em políticos populistas de direita, embora menos do que no Brasil.

Nas eleições alemãs de 2017, por exemplo, a proporção de votos para o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que mantém relações amistosas com Bolsonaro, foi de 20,8% no grupo de 18 a 34 anos.

No Brasil, de acordo com pesquisa do Datafolha de 2 de outubro de 2018, pouco antes das eleições presidenciais de 7 de outubro, Bolsonaro tinha 32% de intenção de voto na faixa etária entre 16 e 24 anos.

Mesmo que todos os partidos – sejam eles da Alemanha, sejam do Brasil – afirmem querer atrair os eleitores jovens, em termos de conteúdo eles procuram não assustar os eleitores mais velhos. Na Alemanha, o candidato a chanceler social-democrata chegou até a imitar o gesto da chanceler Angela Merkel, com as mãos juntas em forma de losango, durante um evento de campanha.

O desenvolvimento demográfico está impondo suas próprias regras à democracia. O conflito político das gerações persiste. E com ele o perigo de que o desejo de estabilidade se transforme em paralisação.

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Astrid Prange de Oliveira trabalhou como correspondente no Brasil e na América Latina por oito anos. Para a DW Brasil, ela escreveu a coluna Caros Brasileiros durante três anos. Agora, com a coluna Alemanha vota ela retorna como observadora da campanha eleitoral alemã. Siga a jornalista no Twitter: @aposylt

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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