Robert Mugabe inicia sétimo mandato no Zimbabué
22 de agosto de 2013Parece que só existe no país uma única pessoa que acha que não precisa de nomear um sucessor: o próprio Robert Mugabe. Quando foi votar nas eleições gerais de 31 de julho passado, os jornalistas perguntaram-lhe se tinha a certeza que iria concluir os cinco anos deste mandato. O Presidente não escondeu a sua ira: “Vocês não querem que eu conclua o mandato? Para que é que eu havia de me candidatar se fosse para me demitir em seguida?”
A vitória eleitoral de Robert Mugabe, que já tem 89 anos e governa o Zimbabué há 33 anos, foi esmagadora, com quase 61% dos votos. Apesar de não ter problemas de saúde, muitos cidadãos acreditam que este será o seu último mandato.
Mas quem lhe seguirá? O Presidente recusa-se a nomear um sucessor. Há quem receie problemas graves para o país, caso morra no cargo, ou se não tiver mais possibilidades de exercê-lo por causa de motivos de saúde.
Guerra interna na ZANU-PF?
Wilf Mbanga, redator do jornal “The Zimbabwean”, na capital britânica, Londres, afirma que Mugabe “é a cola que impede a desintegração do partido.” Considera que caso o líder saia de cena amanhã, se assistirá a uma “guerra interna” no seu partido, a União Nacional Africana do Zimbabué – Frente Patriótica (ZANU-PF). “Mugabe é o único que consegue manter as duas frações juntas”, sublinha.
Os dois campos são representados por dois aspirantes à presidência. Um deles é o ministro da Defesa, Emmerson Mnangagwa, conhecido pela sua intransigência. Mnangagwa já deteve vários cargos importante no Governo e foi presidente do parlamento, mas em 2004 perdeu a posição de diretor executivo da ZANU-PF.
O outro campo é encabeçado pela vice-presidente Joice Mujuru, que parece ser a favorita neste momento. “Não há dúvida que ele tem um fraco pela vice-presidente Joice Mujuru”, considera o analista independente zimbabueano Thomas Deve. “A dada altura ela demitiu-se e abandonou o Governo. Mas Mugabe foi buscá-la novamente. Quem observar a forma como ela governa perceberá que é uma candidata séria dentro do partido".
Problemas de liderança do MDC
Também o maior partido da oposição do ex-primeiro-ministro Morgan Tsvangirai, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), tem problemas de liderança. O próprio Tsvangirai parece estar fora de jogo depois de perder três vezes eleições contra Robert Mugabe.
Muitos apoiantes do MDC também acham que ele cedeu demasiado durante o governo de coligação com a ZANU-PF de Mugabe. Alguns membros já abandonaram o MDC para formarem o seu próprio partido, o ZIA.
"Isso mostra que o partido não está bem”, comenta Thomas Deve, acrescentando que aqueles que se foram embora talvez não consigam formar um partido com força. “Pode ser que apareça quem o desafie dentro do partido. Mas em termos de presença política, Morgan Tsvangirai continua a ser o mais forte de todos, com excepção de Robert Mugabe”, sublinha.
No entanto, o que parece certo é que, “mesmo que Robert Mugabe e Morgan Tsvangirai continuem, para já, a ocupar os seus cargos, será interessante ver quem representará os dois partidos nas próximas eleições”, marcadas para 2018, conclui o analista.