Mugabe e ZANU-PF vencem eleições no Zimbabué
3 de agosto de 2013Segundo os resultados oficiais, divulgados pela Comissão Eleitoral do Zimbabué a 3 de agosto, Robert Mugabe foi oficialmente reeleito Presidente do Zimbabué, tendo obtido 61% dos votos nas eleições realizadas na quarta-feira passada (31.07). O seu oponente, o primeiro-ministro do Governo de união nacional, Morgan Tsvangirai, do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), conseguiu 34% dos votos.
"Declaro que Robert Gabriel Mugabe do partido ZANU-PF [União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Política] obteve mais de metade dos votos da eleição presidencial e é eleito Presidente da República do Zimbabué a partir deste dia", anunciou Rita Makarau, a presidente da Comissão Eleitoral.
O Zimbabué não conheceu outro líder desde a independência. Robert Mugabe governa o país ininterruptamente desde que o Zimbabué se tornou independente da Grã-Bretanha, em 1980. Mugabe tem 89 anos e está no poder há mais de 33 anos.
ZANU-PF com maioria de dois terços no parlamento
A Comissão Eleitoral divulgou também que o ZANU-PF, o partido de Mugabe, assegurou cerca de 150 dos 210 lugares da Assembleia Nacional, ultrapassando a barreira dos dois terços de deputados no Parlamento do Zimbabué. Com este número de assentos parlamentares, o partido pode mudar a Constituição do país sem a ajuda de outro partido.
Num referendo em março, os zimbabueanos aprovaram uma nova Constituição. O novo documentou anulou o cargo de primeiro-ministro e foi tido como a base para as eleições gerais de julho.
Oposição vai lutar contra o resultado
Morgan Tsvangirai já afirmou que vai contestar na Justiça os resultados das eleições gerais, que qualificou como "ilegais". "Existe um luto nacional no país", afirmou Tsvangirai, numa conferência de imprensa no sábado (03.08.), realizada após uma reunião extraordinária da direção do seu partido, o MDC.
Tsvangirai afirmou também que o partido irá boicotar o novo executivo zimbabueano. "Não vamos participar nas instituições do Governo", declarou o líder do MDC, que aceitou em 2009 integrar um Governo de unidade nacional.
Registro eleitoral deficiente
Dias antes do pleito, Morgan Tsvangirai tinha denunciado manipulações no registo eleitoral. Num artigo no jornal norte-americano Washington Post, Tsvangirai disse que cerca de um milhão de zimbabuenos que nasceram no estrangeiro não foram registados. A oposição e várias organizações não-governamentais também criticaram o registo eleitoral. Segundo as críticas, tanto nos bastiões da oposição como nas grandes cidades, o recenseamento foi feito de maneira morosa e fraca. Simultaneamente, teria sido mais bem organizado nas zonas rurais, onde predomina o ZANU-PF.
Houve também muitas dúvidas quanto ao registo eleitoral de mais de 100 mil zimbabueanos com uma idade superior a 100 anos que costam nos cadernos eleitorais, algo pouco provável num país que, segundo as Nações Unidas, tem uma esperança média de vida inferior a 53 anos.
Observadores da SADC parcialmente satisfeitos
Os observadores eleitorais da SADC, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, classificaram as eleições como "pacíficas e livres". Porém, evitaram qualificar o escrutínio como "justo". O Zimbabué é um dos países-membros da SADC, tal como a África do Sul, Moçambique e Angola.
Apenas observadores internacionais de grupos convidados por Mugabe estiveram presentes durante a campanha eleitoral, o escrutínio e a contagem dos votos. Entre eles a missão de observação eleitoral da SADC.
UE, Reino Unido e EUA condenam resultado
A União Europeia (UE) manifestou preocupação com as "alegadas irregularidades" e "falta de transparência" nas eleições gerais no Zimbabué.
"A UE está preocupada com as alegadas irregularidades e a participação incompleta [no escrutínio], bem como com as falhas identificadas no processo eleitoral e a falta de transparência", declarou a responsável pela diplomacia europeia, Catherine Ashton, num comunicado.
A UE pretende "continuar a seguir os desenvolvimentos no país e trabalhar com os seus parceiros internacionais nas próximas semanas", sublinhou a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. Ashton também encorajou todos os partidos políticos do Zimbabué "a manter a ordem e a calma".
O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, William Hague, disse ter "sérias dúvidas" quanto à credibilidade das eleições, devido aos relatos de irregularidades antes e depois do escrutínio. Hague apelou ainda a uma investigação rigorosa às alegações de fraude eleitoral.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, também questionou a credibilidade do escrutínio. "Devido às irregularidades substanciais que foram reportadas por observadores nacionais e internacionais, os Estados Unidos da América não acreditam que estes resultados sejam um reflexo credível da vontade do povo zimbabueno", disse Kerry num comunicado emitido neste sábado (03.08.)
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu uma investigação aos relatos sobre irregularidades. "Estas críticas devem ser verificadas de forma transparente e justa", declarou Ban Ki-moon na sexta-feira em Nova Yorque.
As sombras das eleições violentas de 2008
O escrutínio no Zimbabué era visto como um momento fundamental para pôr fim ao frágil Governo de união nacional, entre o ZANU-PF, de Mugabe, e o MDC, de Tsvangirai, que foi formado sob pressão internacional para evitar uma guerra civil, depois da violência que marcou as últimas eleições de 2008, também disputadas entre os dois candidatos.
Nesse ano, Tsvangirai vencera a primeira volta das eleições com uma maioria relativa. Antes da segunda volta, o ZANU-PF, de Mugabe, lançou uma onda de violência em que morreram cerca de 200 pessoas. Assim, Tsvangirai retirou-se da corrida presidencial e Mugabe foi declarado Presidente reeleito. Sob pressão da comunidade internacional, Mugabe aceitou formar um Governo de coligação com o MDC e Tsvangirai obteve o cargo de primeiro-ministro.
Com o resultado das eleições gerais de 2013, Mugabe e o seu partido, o ZANU-PF, podem governar sozinhos. O MDC perderá qualquer representação no Governo do Zimbabué.