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Reabilitação da EN1 só antes das eleições de 2024?

29 de junho de 2023

A EN1 precisa urgentemente de obras. O início da reabilitação desta via estava previsto para este ano. Mas supostos problemas burocráticos terão forçado o adiamento do processo para, pelo menos, meados de 2024.

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Foto: Bernardo Jequete/DW

Não tem fim à vista o martírio de circular na Estrada Nacional Número 1, a principal via que liga Moçambique do norte ao sul, em alto estado de degradação.

O início dos trabalhos de reabilitação esteve previsto para este ano, conforme prometeu várias vezes o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Carlos Mesquita. "O mais tardar, no segundo semestre do próximo ano, 2023, nós vamos iniciar com as obras", referiu.

Mas o discurso mudou. O Governo moçambicano disse esta semana que as obras não deverão começar antes do segundo semestre de 2024. A justificação dada é que há ainda questões burocráticas por resolver.

Mosambik Beira | Mosambikanische Haupt- Verkehrsader N1
Reabilitação de raiz da EN1 só talvez em 2024Foto: Arcénio Sebastião/DW

Quais seriam essas burocracias?

Para Adriano Nuvunga, diretor executivo do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD), não há questão burocrática nenhuma.

"A questão é que não há dinheiro para reabilitar a estrada, porque o dinheiro está ao serviço da corrupção", comenta Nuvunga.

Milhões prometidos

O ministro Carlos Mesquita anunciou que o Executivo já recebeu do Banco Mundial cerca de 400 milhões de dólares para a reabilitação da EN1.

Além disso, no início deste ano, o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, visitou os Emirados Árabes Unidos e disse ter conseguido um financiamento de 800 milhões de dólares para a estrada nacional. Cinco meses depois, pouco ou nada se sabe sobre este financiamento.

Mesmo assim, Carlos Mesquita garantiu que, "independentemente das energias negativas, nós vamos reconstruir a EN1".

Para Adriano Nuvunga, esta será uma certamente "promessa inglória", tendo em conta que o atual mandato de Filipe Nyusi termina em 2024.

"A ampliação e modernização da EN1 foi um estandarte eleitoral do Presidente Nyusi em 2019. Então, prometer reabilitar a estrada no próximo ano [não é realista]. No próximo ano, não haverá atividade nenhuma por causa da campanha eleitoral", diz o diretor do CDD.

Adriano Nuvunga
Adriano Nuvunga, diretor executivo do CDDFoto: DW

Aliás, não é certo que a reabilitação de raiz da estrada nacional será mesmo em 2024.

"A nossa expetativa é que, em 2024, na melhor das hipóteses, possamos dar início às obras de reabilitação da espinha dorsal da [EN1], neste caso da fase 1", disse há dias o diretor-adjunto da Administração Nacional de Estradas (ANE), Miguel Coanai.

Transportadores pedem alternativas

Enquanto a política não avança com a reabilitação de raiz da EN1, os utentes têm de continuar a aturar os ziguezagues ao circular na estrada.

Luís Vasconcelos, presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários de Nampula (ASTRA), lamenta o estágio atual da EN1 e apela, pelo menos, a que se façam "remendos".

Luís Vasconcelos, Teilhaber des Transportunternehmens „Maning Nice“
Luís Vasconcelos, Presidente da ASTRAFoto: Sitoi Lutxeque/DW

"Como setor empresarial e alguém que usa aquela estrada, pedimos ao Governo para passar máquinas e raspar a base da via para trazer um pouco de conforto aos transportadores", diz Vasconcelos.

Adriano Nuvunga sugere que o Executivo moçambicano deveria descentralizar as obras de reabilitação da EN1: "Ela passa por todas as províncias, se entregasse alguns recursos a estas províncias para reabilitar a estrada, com certeza que não estaria no estado atual".

Luís Vasconcelos, da ASTRA, acrescenta que o atual estado da EN1 é prejudicial ao ambiente de negócios no país.

"Se tu transportas batata e levas três a quatro dias para chegar a Nampula, este produto chega ao destino já 'cansado' e já não vai ficar por muito mais tempo no mercado", exemplifica.

O economista Egas Daniel concorda que a degradação da EN1 é um empecilho para a economia nacional. "Faz com que haja menos competitividade da nossa agricultura. E baixa a interligação e dinâmica das diferentes cadeias de valor", comenta o economista.

"Não é à toa que todo o milho consumido na zona sul do país é importado, não obstante se produza muito milho nas zonas centro e norte, mas porque chega a Maputo a um preço muito elevado", conclui Egas Daniel.

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