Estrada Nacional 1: "Os carros aqui não andam, gatinham"
11 de maio de 2023Na N1 há acidentes de vários tipos, desde despistes a capotamentos. Automobilistas queixam-se de excesso de buracos, que caracterizam o troço de mais de 1000 quilómetros da principal estrada do país.
Utentes queixam-se do lamentável estado das estradas
Raul Camanguira, motorista de um camião de carga, partiu recentemente da Beira com destino a Quelimane, mas quando se aproximou da vila de Gorongosa, viu-se obrigado a fazer uma manobra perigosa para evitar que o seu camião carregado tombasse, depois de entrar num buraco enorme em plena via pública. Foi num dia de chuvas fortes. "De Inchope até Gorongosa - todo esse percurso é composto por inúmeras covas. Só com enorme esforço consegui evitar que este camião tombasse", conta Camanguira ao repórter da DW África.
Elves Arnaldo Zavala também é condutor de um articulado de cargas e ficou quatro dias retido na região de Zove, em Chibabava, porque o camião avariou, devido a buracos enormes na estrada: "Estes nossos carros são eletrónicos, e com a situação das estradas péssimas, cheias de buracos, as viaturas acabam por ficar danificadas."
Daniel Cumbane, um jovem que regularmente vai à cidade da Beira, transportando carros ligeiros para os seus clientes, conta que é um verdadeiro martírio transitar pelo troço Save-Inchope: "Por exemplo, o carro que estou a transportar para a Beira já tem problemas de amortecedor, está a cantar num dos lados, por causa de bater em buracos."
Ministro das Obras Públicas: "Urge atuar rapidamente"
O ministro das Obras Públicas, Carlos Mesquita, reconheceu recentemente, durante uma visita à cidade da Beira, que o estado da N 1 deixa a desejar: "Os acidentes que ocorrem também são derivados do estado da via", disse em conferência de imprensa.
Carlos Mesquita garantiu estar em curso a preparação de um projeto de reabilitação da rodovia, graças a um financiamento do Banco Mundial. Em causa estão mais de quatrocentos milhões de dólares financiados numa primeira fase.
O utente Daniel Cumbane espera "ver para crer" pois, para este condutor, este anúncio do ministro não passa de "mais uma promessa igual a muitas" que já ouviu no passado: "Há má governação, eu não sei o que fazem com os fundos, não se vê nada em termos de obras. Parece que o dinheiro vai para os bolsos alheios e nós como povo continuamos aqui a sofrer."
Obras públicas: obras abandonadas devido a falta de pagamento
Enquanto se espera pelo grande projeto de reabilitação, decorrem - a meio gás - algumas obras de reparação provisória da via, garante o ministro Mesquita. A DW África apurou, no terreno, que - em várias secções - os empreiteiros abandonaram os trabalhos por falta de pagamento por parte das autoridades.
Tomás Tomossene, representante de uma empresa encarregue do troço Gorongosa-Rio Muera, confirma: "Algumas obras estão paradas em virtude das dificuldades de pagamento por parte do Estado. Existem muitas faturas pendentes.”
O utente Elves Zavala, que regularmente faz uso da estrada, teme que a situação se torne mais complicada no futuro: "Da forma como está, a estrade continuará intransitável. Estamos a sofrer mesmo. São buracos acima de buracos. Aqui, na verdade, não se anda. É só mesmo gatinhar, tentar dar um jeito!", afirma.