Pode o jornalismo ser ativista?
22 de junho de 2023Em boa parte dos países africanos, jornalistas e organizações dos média enfrentam inúmeros desafios – incluindo censura governamental, leis restritivas e assédio.
Esses desafios podem estar a levar o jornalista a assumir um papel mais ativo na defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa. Para o jornalista investigativo Anas Aremeyaw Anas, do Gana, "o jornalismo deve ir além do relato das notícias" para desafiar o status quo e promover a justiça social.
Denúncias pela verdade
Popular pelas suas denúncias contra a corrupção, este repórter desempenhou um papel crucial ao expor violações dos direitos humanos e responsabilizar quem está no poder.
Anas Aremeyaw Anas afirma que as "instituições estatais do Gana são igualmente deficientes, assim como os jornalistas".
O jornalista processou indivíduos poderosos e levou-os ao tribunal, defendendo ser esta uma forma de "dar mais um passo depois de denunciar a podridão".
Anas Aremeyaw Anas não tem problemas em ser chamado de ativista. "Tenho orgulho nisso. Se acreditas numa peça que fizeste, por que não podes defendê-la perante um tribunal?", questionou.
Este jornalista ganês fez parte do painel de debate "77 percent" da DW realizado à margem do Global Media Forum em Bona, na Alemanha.
Imprensa sob pressão
Naomi Soumanou, uma jornalista-ativista do Benin, também participou na conferência. Ela acredita que o trabalho deste tipo de repórteres está a tornar-se necessário nas sociedades africanas. "Esses papéis são complementares. É preciso ser jornalista para ser ativista", referiu.
Apesar de o trabalho dos jornalistas-ativistas ser apreciado por uma parte da sociedade, estes profissionais também estão sujeitos a fortes críticas e pressões.
O seu ativismo geralmente acarreta um elevado custo pessoal, pois enfrentam frequentemente ameaças e retaliações por parte das autoridades, além de preocupações psicológicas prejudiciais.
Para Anas Aremeyaw Anas, "o jornalismo deve ser definido pelas necessidades da sociedade". "Os padrões de jornalismo variam de país para país", acrescenta. "Se o povo precisa de água potável, deve-se fazer de tudo para garantir que eles a recebam", defendeu durante o debate.
Omofuoma Agharite, realizadora de cinema presente no evento, discordou. Para ela, o ativismo pode ser influenciado pelo viés subconsciente. "Tais preconceitos podem levar à falta de objetividade na reportagem", adverte.
Ruona Meyer, jornalista nigeriana, também argumenta que o ativismo, às vezes, pode transformar-se em extremismo.