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Os riscos para o futuro da Líbia

27 de outubro de 2011

A Comissão Nacional de Transição declarou, em Bengasi, a "libertação" do país. Mas será que se pode falar de uma Líbia livre, depois de 42 anos de um governo autoritário? As opiniões divergem.

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A Líbia ainda está em festa. Mas os analista advertem contra um rude acordarFoto: dapd

Como os líbios poderiam realmente reconstruir o país e manter aspirações de liberdade? É a pergunta que colocam vários analistas da cena política internacional, após a queda de Muammar Kadhafi. Diversas questões estão pendentes, como destaca o diretor do Centro Árabe de Análises Sociais de Genebra, Riadh Sidaoui:

"Eu acho que ainda há muitos obstáculos à concretização do sonho líbio. Um deles é o completo vazio institucional e político do país, outro a ausência de uma sociedade civil".

Não existe uma arena de discussões democráticas no país. O coronel Kadhafi não permitiu a criação de qualquer partido de oposição e manteve sob controle toda a estrutura institucional. Porém, nos últimos meses, o Conselho Nacional de Transição (CNT) transformou a cena política enquanto ainda decorria a guerra.

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O primeiro-ministro interino, Mahmoud Djibril, anunciou que se vai retirar da políticaFoto: dapd

Correntes políticas múltiplas

Conforme diz o diretor do Centro de Pesquisa para o Mundo Árabe da Universidade de Mainz, Günter Meyer, o conselho permitiu que ganhassem protagonismo no seu âmbito cerca de 40 representantes de diferentes associações políticas heterogêneas: "Existe dentro do Conselho Nacional de Transição um espectro de correntes regionais antagônicas. Por exemplo, o Oeste foi muito apoiado por Kadhafi e o leste, discriminado. Há rivalidade entre os diferentes clãs e diferenças ideológicas. Há islamistas conservadores, passando por salafistas até representantes de idéias seculares, socialistas e liberais."

No cenário político está a constituição de um governo de transição dentro de 30 dias e nos próximos oito meses a eleição de uma Assembléia Nacional Constituinte. Será que a Líbia também poderia seguir o caminho da Tunísia, por exemplo, país que desencadeou a chamada "primavera Árabe" e realizou eleições consideradas livres por observadores internacionais. O analista Günter Meyer ressalva: "Este conflito entre os opositores do regime e as forças políticas que o apoiavam será o conflito decisivo para o futuro do país”

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No passado, a riqueza líbia gerada pelo petróleo serviu para financiar a ditadura e o terrorismo internacionalFoto: picture alliance/dpa

O perigo radical

O primeiro-ministro interino, Mahmud Djibril, já anunciou que não pretende candidatar-se a qualquer cargo político futuro. Mayer acredita que ele seja uma das primeiras vítimas da disputa pelo poder no país, porque é visto como um liberal pelas correntes mais próximas de Kadhafi e um islamista pelos representantes dos Estados Unidos.

Para o analista político Riadh Sidaoui, o anúncio de uma estrutura de direito baseada na lei islâmica sharia não foi uma informação amarga somente para o Ocidente. Ele também pode significar um obstáculo dentro da Líbia: "O problema no futuro será fugir da herança dos extremistas islâmicos, como daquela dos seguidores de Kadhafi. Deve-se imaginar que os grupos islâmicos estão presentes em todo o país. Mesmo participando da revolução, estes grupos representam um ameaça para a democracia na Líbia porque eles simplesmente não acreditam na democracia", adverte o analista.

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A NATO foi crucial na derrota do regime de KadhafiFoto: Picture-Alliance/dpa

Mas para Meyer, não há motivos para preocupação. Segundo este observador, durante a revolução, vários grupos que se opõem a uma democracia nos moldes ocidentais ganharam alguma influência. Mas quando se observa as correntes políticas em questão, pode-se partir do princípio de que a Líbia será representada por forças democráticas e islamistas moderados, conclui.

Autores: Stefanie Duckstein/Márcio Pessoa

Edição: Cristina Krippahl/António Rocha