Autoridades sem indícios de fraude eleitoral nos EUA
12 de novembro de 2020Autoridades eleitorais dos 50 estados americanos não encontraram indícios de fraude na disputa presidencial, que terminou com a vitória do candidato democrata Joe Biden. A notícia é avançada pelo jornal norte-americano The New York Times, que fez o levantamento dos dados em cada autoridade estadual. A informação contradiz as acusações do Presidente Donald Trump, que continua a alegar a existência de fraude no pleito, em seu desfavor, sem apresentar qualquer prova.
Já esta semana, durante uma audiência em tribunal, na Pensilvânia, um juiz questionou o procurador Jonathan Goldstein sobre se tinham sido encontradas quaisquer evidências de fraude nos 592 boletins de voto contestados pela candidatura de Trump, ao que o procurador retorquiu negativamente.
A Pensilvânia foi um dos Estados que o candidato democrata e agora Presidente eleito, Joe Biden, conseguiu conquistar, assegurando os 20 votos do colégio eleitoral que ditaram a vitória nas presidenciais de 3 de novembro, de acordo com as projeções de vários órgãos de comunicação social norte-americanos, entre os quais o The New York Times e a CNN.
Para que um dos candidatos vencesse precisava de atingir, no mínimo, 270 votos do colégio eleitoral, de um total de 538. Por essa razão, este Estado importante na 'matemática eleitoral' foi um dos que viu os resultados contestados pelos republicanos que acusam os democratas de manipulação.
Trump insiste
Donald Trump não tem tido cautela nas acusações, alegando sistematicamente que os resultados eleitorais são fraudulentos e que seria o justo vencedor se apenas fossem contados os 'votos reais'. Os votos a que o ainda chefe de Estado norte-americano se refere dizem respeito aos dos eleitores que optaram por votar no próprio dia das eleições, 3 de novembro. Contudo, os norte-americanos tinham ao dispor outras modalidades de voto, nomeadamente o antecipado e por correio.
Sem evidências plausíveis de que houve fraude eleitoral, o Presidente mantém as acusações, apesar de elementos da comissão eleitoral norte-americana a nível nacional, de ambos os partidos, já terem refutado em diversas ocasiões as alegações.
Na quarta-feira (11.11), o Presidente virou as atenções para Filadélfia, um dos bastiões dos democratas e que ajudou Biden a assegurar os 20 votos do colégio eleitoral na Pensilvânia. Donald Trump acusou, na rede social Twitter, Al Schmidt, um oficial eleitoral republicano, de ignorar "uma montanha de corrupção e desonestidade". O Twitter adicionou a esta publicação uma mensagem que dá conta de que o conteúdo disseminado pelo Presidente é contestado e não serve como facto.
Ao todo, os apoiantes de Trump deram entrada a 15 ações judiciais na Pensilvânia para tentar reclamar os 20 votos do colégio eleitoral. Os Estados da Geórgia (16 votos), Arizona (11), Nevada (seis) e Michigan (16) também foram alvos de processos semelhantes. Biden também venceu nestes quatro Estados.
A legalidade e a ética da participação de alguns advogados na teoria de Trump têm sido contestadas, numa altura em que a divisão verificada nos Estados Unidos antes das eleições parece continuar, com Trump a querer agarrar-se ao poder e Biden a desenvolver a agenda para os próximos quatro anos.
De acordo com Justin Levitt, docente na Layola Law School e antigo oficial das eleições do Departamento da Justiça, isto poderá "ser uma tentativa de apaziguar o ego" de Trump que tem "consequências reais". "A tentativa de apaziguar o ego do Presidente não é um crime isento de vítimas", advertiu.
Al Schmidt, por exemplo, disse ao programa "60 Minutos", da CBS, que o seu gabinete, que é republicano, recebeu ameaças de morte por estar a contar os votos. "Contar votos registados no dia da eleição ou antes, por eleitores qualificados, não é corrupção. Não é batota. É democracia", disse.
Vale tudo para ganhar
Os apoiantes de Trump continuam a financiar o fundo promovido pelo Presidente para a campanha eleitoral. Uma campanha na qual também estão envolvidos o advogado particular de Trump, Rudy Giuliani, Jay Sekulow, um procurador que também esteve envolvido no processo de destituição que o Presidente enfrentou, e David Bossie, um elemento da candidatura que não é advogado. Se os apoiantes de Trump encontrarem evidências de fraude eleitoral, o caso poderá chegar às mais altas instâncias judiciais.
Rick Hasen, professor e investigador na Universidade da Califórnia, disse que o surgimento de nomes sonantes no Supremo Tribunal neste enredo poderia indicar que havia fortes indícios de fraude eleitoral, mas com Giuliani e Bossie à frente do caso, a seriedade da fraude continua a ser contestável.