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Osvaldo Caholo: militar, ativista e músico de intervenção

25 de abril de 2019

Osvaldo Caholo, o único militar do grupo "15+2", continua a exigir ao Estado angolano o pagamento do seu salário. Mas fá-lo de maneira original: com música.

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Foto: DW/M. Luamba

Aos 30 anos, Osvaldo Sérgio Correia Caholo é militar na reserva, porque é novo demais para a reforma e crítico demais para as Forças Armadas.

A espera de quatro anos pelo pagamento de um salário que é seu por direito - é Oficial de Comando e de Estado-Maior na reserva - levou-o a enveredar pelas artes da música de intervenção.

Angola Wahl - Hervey Madiba, konfiszierte CD
Álbum "15+Duas+Nós" criado por músicos lusófonos em homenagem aos 17 ativistas angolanos do caso "15+2"Foto: DW/P.B. Ndomba

Antes disso, o ativista chegou a escrever ao Presidente da República de Angola, João Lourenço, mas nunca obteve resposta. Participou numa vigília em Luanda com o intuito de alertar a opinião pública para o seu caso e, ao mesmo tempo, aumentar a pressão sobre o Governo, mas continua tudo na mesma: sem salário e sem respostas.

Verso de uma música de Osvaldo Caholo:

"No meio da turbulência, suporto as insolências / Sou filho da discriminação de Vossa Excelência / Prefiro lutar na permanência e não na delinquência / Então, devolvam meu salário antes que eu perca a cabeça".

Perdoado, mas nem tanto

Osvaldo Caholo foi preso em 2015, no conhecido "caso dos 15+2", quando Angola estava nas mãos do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi amnistiado no ano seguinte, tal como os outros ativistas, mas foi logo colocado na reserva, sem receber o salário a que tinha direito.

"Não tenho idade para estar na reserva, nem qualquer tipo de incapacidade. Então, eu não deveria estar na reserva. Se olharem para a lei das carreiras militares, eu não deveria estar na reserva", garante o ativista.

Portugal Demo Lissabon - angolanische Aktivisten
Caso "15+2" gerou onda de protestos fora de Angola, como mostra esta foto recolhida em Lisboa, PortugalFoto: DW/J. Carlos

"O Presidente da República está a ser conivente com as práticas do seu antecessor", denuncia Osvaldo Caholo.

As autoridades mantêm-se em silêncio e nunca responderam aos pedidos formais do ativista e militar. A DW África tentou obter uma reação junto das autoridades angolanas, sem sucesso.   

A espera prolongada não faz Osvaldo Caholo baixar os braços. O ativista juntou-se aos rappers T MC, Amoroso Rapper Crítico e Wima Nayobi para continuar a "fazer pressão" sobre o Governo de João Lourenço. Desta quadra de artistas surgiu um novo tema: "Devolvam Meu Salário". 

Ativista dos "15+2": de militar sem salário a músico de intervenção

Verso da música "Devolvam Meu Salário":

"Aquilo que chamamos de luta de libertação nacional / Ou independências africanas / Não passou nada mais do que um preso que está algemado dentro de uma cela I Que lhe é retirado as algemas mas permanece na cela".

"Para além da solidariedade, [a música] é também uma forma de chamar a atenção das autoridades de direito", explica o agora artista.

Será que com a música, Osvaldo Caholo vai receber finalmente o salário? "É mais um mecanismo de pressão, porque no meio disto tudo eu tenho estado a lutar de forma isolada", lamenta.

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