Volkswagen completa 60 anos de atividades no Brasil
22 de março de 2013
A história da Volkswagen no Brasil já começou com um grande sucesso: os 30 primeiros Fuscas que chegaram ao porto de Santos, em setembro de 1950, logo foram comercializados – e pelo triplo do preço de avaliação. O modelo importado era o "Brezel" ou "Split Window", com vidro traseiro dividido.
Três anos mais tarde, em 23 de março de 1953, a Volkswagen do Brasil se instalava, com apenas 12 funcionários, num pequeno armazém alugado no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Dali saíram, de 1953 a 1957, os primeiros Fuscas e Kombis com peças importadas da Alemanha, que foram aos poucos substituídas por componentes nacionais.
Após 60 anos de atividades no país, a marca já produziu mais de 20 milhões de veículos no Brasil e não deixa de colecionar superlativos: maior fabricante de veículos do país, maior exportadora do setor automotivo, sendo também a marca de veículos mais lembrada pelo público em geral.
Segundo a VW do Brasil, no entanto, a sua história no país teve início já em 1949, quando pesquisas realizadas no mercado latino-americano apontaram o Brasil como "local mais adequado para receber a primeira fábrica da marca fora da Alemanha."
Política de nacionalização
Desde a década de 1920, a importação de automóveis era uma rotina bastante conhecida. Em 1919, a Ford do Brasil iniciou a montagem do Ford "T" em São Paulo. Em 1925, a General Motors passou a fazer o mesmo. No início da Segunda Guerra Mundial, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Detran), o Brasil possuía ao todo cerca de 250 mil veículos – entre importados e montados no Brasil.
Mas, durante a guerra, esses automóveis ficaram sem peças de reposição. Entre 1939 a 1945, surgiram então pequenas oficinas que, aos poucos, se transformaram em fábricas. No fim da guerra, o Brasil já possuía um modesto parque industrial de autopeças.
Mas quando a importação foi normalizada, no início da década de 1950, a fome por veículos passou a ser uma ameaça à balança comercial do país. Nos primeiros anos da década de 1950, o país importava 100 mil veículos por ano, além das autopeças. Em 1951, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a importação de veículos representava 15,1% dos 1,1 bilhão de dólares que o país gastava no mercado externo.
Foi aí que a ideia de montar um parque industrial automobilístico brasileiro tornou-se mais concreta. Seguindo a política de nacionalização, o então presidente Getúlio Vargas limitou a importação de autopeças em agosto de 1952. Em março do ano seguinte, foi proibida a entrada de veículos inteiros.
Primeira fábrica
O dia 16 de junho de 1956 é considerado um marco da indústria automotiva nacional. Nesse dia, o governo brasileiro criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia), que estabeleceu condições para instalar a indústria automobilística no Brasil e fixou a base do rápido desenvolvimento do setor. Naquele ano, foi instalada a Mercedes-Benz do Brasil e a fabricante Vermag produziu a primeira camioneta DKW. A VW decidiu então construir uma primeira fábrica na rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP) – a primeira unidade da VW fora da Alemanha.
Em 2 de setembro de 1957, saía desta linha de produção o primeiro veículo produzido pela marca no Brasil: a Kombi, com 50% dos seus componentes já fabricados no país.
Em 1959, o então presidente Juscelino Kubitschek assistiu ao lançamento do primeiro Fusca nacional, passeando pela fábrica de São Bernardo a bordo de um Fusca conversível. O carismático Fusquinha viria a se tornar o primeiro automóvel de baixo custo, responsável pela motorização de milhões de brasileiros.
Fusca e Kombi
O Fusca foi um dos modelos da Volkswagen de maior sucesso. Foram mais de três milhões de unidades produzidas no país. O modelo conquistou a preferência do consumidor brasileiro e ganhou até uma data comemorativa: o dia 20 de janeiro foi instituído como dia nacional do Fusca. No Brasil, o Fusca foi construído até 1986.
Em 1993, para incentivar a fabricação de carros populares, o então presidente Itamar Franco reinaugurou a linha de montagem do Fusca em São Bernardo do Campo. No entanto, os tempos eram outros e o espartano Fusca não pôde mais concorrer com modelos de outras marcas surgidas na década de 1990, com preços semelhantes e acabamento e espaço interno melhores que os do Fusca. Em 1996, a sua produção foi definitivamente encerrada no Brasil.
O ano de 2013 deverá também trazer o encerramento da produção de outro grande caso de sucesso e longevidade da indústria automotiva nacional: por não atender ao cumprimento de normas de segurança (freios ABS, airbags, crash-tests), a produção da Kombi será encerrada no Brasil no final deste ano, informou o presidente da VW do Brasil, Thomas Schmall.
Passados mais de 55 anos, a Kombi – do alemão Kombinationsfahrzeug (veículo combinado) – é a versão brasileira do VW Bus T2. Em 2011, a Kombi atingiu o marco de 1,5 milhão de unidades fabricadas no Brasil. A Volkswagen, no entanto, pretende modernizar sua frota. E o atual modelo brasileiro se baseia na segunda geração de VW Bus, produzida na Alemanha entre 1967 e 1979.
Modelos de sucesso
Lançado em 1980, o Gol é o modelo de maior sucesso da marca no Brasil, com 7 milhões de unidades produzidas e com 26 anos consecutivos na liderança de vendas do mercado brasileiro, informou a VW. Entre os modelos de maior volume de produção na trajetória da marca no Brasil, está também o Fusca, que até 1986 atingiu 3,3 milhões de unidades fabricadas e vendidas no país. Na década de 1970, a Brasília também foi um modelo de grande sucesso, alcançando cerca de 950 mil unidades produzidas nos nove anos em que esteve no mercado.
Ao longo de sua história no Brasil, a Volkswagen projetou e desenvolveu uma série de modelos nacionais de grande sucesso, como o Gol, o Fox, a Variant, o Karmann Ghia e o esportivo SP2. No entanto, o primeiro veículo totalmente projetado e desenvolvido pela VW no Brasil foi a Brasília, lançada em 1973.
Entre os modelos exportados, uma curiosidade é o Passat, que até hoje é visto nas ruas do Iraque. Um total de 170 mil veículos foram exportados entre 1983 e 1988. Conhecidos no Iraque como "Brazili", os veículos traziam no vidro traseiro os dizeres Made in Brazil. Os carros eram oferecidos como prêmio aos combatentes da guerra contra o Irã e foram pagos com petróleo.
Recordes, inflação e Autolatina
Segundo a Volkswagen do Brasil, suas exportações começaram em 1970 para países da América do Sul e México. No mesmo ano, a empresa atingia os primeiros recordes de produção e vendas, alcançando o primeiro milhão de veículos vendidos. Em março de 1972, o Fusca completava o primeiro milhão de unidades vendidas no país. E, em 1976, a VW inaugurava em Taubaté (SP) a sua segunda fábrica no Brasil, responsável pela produção dos modelos Gol e Voyage.
No final da década de 1980, com o parque automobilístico brasileiro consolidado, a Volkswagen iniciou a produção da série que se tornaria o maior sucesso de vendas da indústria, dando origem aos modelos Gol, Parati, Saveiro, Voyage e Fox.
No final dos anos 1980, a economia brasileira estava assolada pela inflação e pela estagnação. Entre 1987 e 1993, a inflação anual pulou de 416% para 2.709%. Na tentativa de reduzir custos e obter um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, a Volkswagen do Brasil juntou-se à Ford para formar a Autolatina. Com a abertura da economia e o aquecimento do mercado interno, em 1994, as duas marcas decidiram separar as operações.
Em 1996, a fábrica de motores da Volkswagen do Brasil iniciou suas atividades em São Carlos (SP) e, em janeiro de 1999, a marca inaugurava sua quarta fábrica no Brasil, em São José dos Pinhais, no Paraná. Com um total de 24 mil empregados em suas quatro fábricas no país, a Volkswagen do Brasil é uma das maiores empregadoras da indústria automotiva brasileira.
Ao longo de sua história, a Volkswagen do Brasil foi responsável também por importantes inovações tecnológicas. Em 2003, ao completar 50 anos no país, foi a primeira a lançar a tecnologia Total Flex, que permite o uso de etanol, um combustível renovável, e/ou gasolina em qualquer proporção. A tecnologia marcou uma mudança de paradigma na indústria automobilística brasileira, diz a empresa.
Estratégia 2018 e sustentabilidade
Desde então, a VW continuou sua trajetória de sucesso com um total de mais de 20 milhões de veículos produzidos no Brasil. A empresa também é líder em exportações, tendo vendido mais de 3 milhões de veículos para 147 países. Tudo isso faz da Volkswagen do Brasil "uma peça fundamental da Estratégia 2018" – estratégia da empresa alemã de se tornar a montadora número 1 do mundo em 2018 –, como afirmou o presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, na abertura do Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro do ano passado.
Após a China, o Brasil é o maior mercado de carros da Volkswagen. Em apenas cinco anos, as vendas da empresa aumentaram 40% no país, contrabalançando a queda de vendas na Europa em crise. Segundo o responsável pelo setor de produção do Grupo, Michael Macht, até 2018, o mercado automotivo brasileiro deverá crescer 45%, chegando a 8 milhões de veículos vendidos anualmente.
Em 2012, a Volkswagen do Brasil alcançou o maior volume de vendas de sua história (768.395 unidades) e recorde no volume de produção anual, com 852.086 unidades, consolidando o posto de maior fabricante de veículos do país.
A VW pretende manter o ritmo de investimentos no país e informou que, até 2016, a empresa deverá investir R$ 8,7 bilhões em novos produtos e na ampliação da capacidade das fábricas brasileiras. Entre os investimentos, estão uma segunda Pequena Central Hidrelétrica (PCH), no estado de São Paulo.
Inaugurada em 2010, a PCH Anhanguera, primeira Pequena Central Hidrelétrica da Volkswagen do Brasil, recebeu no início de 2012 o Certificado de Emissões Reduzidas (CER), também conhecido como Créditos de Carbono, aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Juntas, as duas usinas deverão suprir 40% da demanda energética das unidades da Volkswagen no Brasil.
Autor: Carlos Albuquerque
Revisão: Roselaine Wandscheer