Fusca estreitou laços da marca com os brasileiros
22 de março de 2013"Estamos aqui nos anos 70 para ver o que as pessoas acham do Novo Fusca 2013." A frase abre um dos comerciais da campanha publicitária recém-lançada pela Volkswagen do Brasil. Mussum, Rivelino, calças boca de sino e a São Paulo de quatro décadas atrás despertam nos brasileiros uma ligação sentimental. Com a VW e, sobretudo, com o Fusca.
Em apenas um dia, a propaganda do Novo Fusca em que Mussum diz "olha quem voltousis" gerou 48 mil likes e quase 17 mil compartilhamentos na internet. A VW ocupa o posto de marca de carros mais lembrada no Brasil na pesquisa Top of Mind, realizada pela Folha de São Paulo e pelo instituto Datafolha, nos últimos 22 anos. E o Fusca é peça-chave da popularidade da marca.
Com mais de 3 milhões de unidades produzidas no país, o Fusca foi lançado e relançado por dois presidentes da República – Juscelino Kubitschek, em 1959, e Itamar Franco, em 1993. Virou até mesmo verbete de dicionário. É citado em mais de cem músicas populares, como a famosa Fuscão preto, de Milionário e José Rico. Foi tema do desfile de Carnaval da Unidos da Tijuca em 2013 e tem ainda uma data comemorativa nacional: 20 de janeiro.
Receita de sucesso
"Mais que um carro, o Fusca é um ícone da nossa indústria automobilística e da nossa cultura", diz Sérgio Katz, publicitário da agência AlmapBBDO, parceira da VW há 57 anos. "As propagandas do Fusca certamente contribuíram para a popularidade do modelo no Brasil, pelo tom bem-humorado e irreverente e pela personalidade autêntica que emprestaram ao carro."
Slogans como "Pense pequeno", "A tartaruga mais veloz" e "Lave e use" marcaram a história do Fusca e da publicidade brasileira. Após uma pausa de sete anos na produção do modelo no país, slogans como "Sorria, ele voltou" anunciaram o relançamento do carro em 1993 e, no ano seguinte, renderam à AlmapBBDO um prêmio no Festival de Cannes pela campanha.
O primeiro Fusca do mundo foi produzido em 1938, na Alemanha, e o último dos cerca de 22 milhões de exemplares saiu de uma fábrica no México em 2003. Curioso é que, de início, o modelo causou estranhamento. Ao entrar no mercado norte-americano, em 1949, vendeu apenas duas unidades. O veículo só viria a alcançar sucesso mundial em parte graças ao esforço publicitário da marca.
Cristiane Pereira, publicitária com mais de 20 anos de atuação no mercado brasileiro, destaca a combinação de apelo popular e sofisticado nas propagandas da VW do Brasil. Para ela, foi um acerto rebatizar agora o novo modelo com o nome Novo Fusca e não New Beetle. "O nome ainda é querido por todos no Brasil, assim como o carro. Não é à toa que vemos tantos colecionadores, apaixonados que investem pequenas fortunas em seus modelos 60, 70 e 80."
Se meu Fusca falasse
Carlos Eduardo Bernardes é um desses apaixonados. O catarinense de 31 anos vende carros da concorrência, mas nas horas vagas escreve sobre o modelo da VW em seu blog Paixão por Fusca. Desde 2008, ele mantém atualizada a página, que tem em média 500 acessos por dia.
São muitos os brasileiros que alimentam um carinho especial pelo carro. Há encontros regulares de fãs e colecionadores e Clubes do Fusca espalhados pelo país. A comunidade Fusca Clube do Brasil tem mais de 9 mil seguidores no Facebook.
Para Bernardes, as lembranças relacionadas ao carro explicam a paixão nacional. "Meus avós tiveram Fusca. Meus pais também. Eu me lembro do cheiro do banco do Fusca branco 1973 da minha tia, que nos levava para passear nas férias", conta. "O Fusca foi o primeiro carro de muita gente."
O modelo era reconhecido como econômico e resistente às más condições das estradas brasileiras nos tempos em que foi lançado, em 1959. Uma propaganda de 1960 apontava o carro como "a melhor soma de vantagens técnicas que o seu dinheiro pode comprar".
O carro parou de ser produzido no Brasil em 1986, para grande comoção nacional. Depois de reinaugurada pelo presidente Itamar Franco em 1993, a linha de produção do Fusca permaneceu ativa por apenas três anos.
Colecionadores buscam hoje Fuscas antigos e suas peças. "Quanto mais original, mais caro", diz Bernardes. Ele lamenta que teve de vender seu Fusca do ano 1971 devido aos custos de manutenção. "Um dia ainda vou realizar o sonho de ter um Fusca outra vez."
Paixão sem fronteiras
Para a alemã Andrea Dunkel, dirigir o carro apelidado no Brasil de Fusca e na Alemanha de Käfer (besouro) era um sonho desde seus 18 anos. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, ela logo viu que seria fácil comprar um.
"O carro ainda é muito querido pelos brasileiros. É fácil de encontrar as peças e muitos sabem consertá-lo. Diferentemente da Alemanha, não há apenas colecionadores do carro no Brasil. Muita gente ainda o dirige como um carro normal", diz.
Batizado de Karl pela proprietária, o Fusca de Dunkel é de 1979, quatro anos mais novo do que a dona. Ao retornar ao país natal, a professora trouxe seu Fusca na bagagem – ou melhor, chegou depois de navio.
"Nesses dois anos no Rio, meu Käfer Karl ganhou meu coração e, então, decidi trazer um pedacinho do Brasil comigo." Afinal, diz o publicitário Katz, "para os brasileiros, o Fusca é muito mais que um carro, é um patrimônio emocional". E Andrea foi contagiada.