"Vocês querem uma vida com menos trabalho?"
21 de abril de 2017Jean-Luc Mélenchon é um grande sedutor, que sabe divertir, interessar, conquistar, convencer as pessoas. Isso faz dele o rei das urnas, após os debates televisivos, muitos veem nele um talentoso arrecadador de votos.
É assim que o candidato presidencial independente se apresenta nesta tarde ensolarada, dançando no palco como um boxeador, em comício realizado às margens do rio Garonne, em Toulouse, diante de uma multidão dos vários milhares de espectadores, convocados por ele para um "piquenique político".
Só falta comida e bebida. Sentar na grama e comer sanduíches não é algo comum na França, todas as garrafas foram confiscadas na entrada do local. Esta é uma das últimas oportunidades para Mélenchon conquistar sua plateia, inebriar o eleitorado com sua visão de uma França socialista – ou "comunista", segundo seus oponentes.
A campanha eleitoral francesa foi até esta sexta-feira (21/04). Então, cabe aos franceses decidir que dois candidatos que competirão em maio, em segundo turno. E os eleitores aguardam de respiração suspensa o resultado do primeiro turno em todo o país, não só na tradicionalmente esquerdista Toulouse.
Esperança de vitória
"O jogo ainda não está decidido, é tudo ou nada", diz a ativista Leila Chaibi. Ela foi uma das militantes das manifestações do movimento Nuit Debout (literalmente "noite de pé") em 2016, em Paris. Juntamente com outros jovens franceses, ela lutou contra as reformas do mercado do trabalho do presidente François Hollande. No fim do ano, Leila deixou o emprego na administradora de imóveis num subúrbio de Paris para trabalhar na campanha de Jean-Luc Mélenchon.
"Estamos agora na fase final", diz Leila, com entusiasmo. "Nós lutamos pelos eleitores que da última vez votaram em François Hollande." Ela apoia totalmente o programa de Mélenchon para reconstrução política e econômica da França. Nas eleições presidenciais de cinco anos atrás, ele ficou com apenas cerca de 11% dos votos, agora as pesquisas preveem que obterá 20%.
"Temos apoio principalmente dos jovens, pequenos comerciantes, trabalhadores", explica Leila. Será que a França, que é a segunda maior economia da União Europeia, quer mesmo que uma revolução política? Para Leila, a questão está respondida: "Nove milhões vivem abaixo da linha de pobreza, 10% estão desempregados há anos."
Eric Coquerel, que integra o quadro de liderança do movimento de Mélenchon, França Insubmissa, defende o programa econômico do candidato: "Queremos dar um fim à austeridade. É um programa keynesiano: bilhões em investimentos no orçamento público levam a mais emprego, aumento dos salários, aumento do consumo, No final, eles acabam pagando a si mesmos."
Entre os investimentos prioritários estão, por exemplo, a proteção do meio ambiente e o bem-estar social. Mas de onde o dinheiro deve vir? "Dos bancos", responde Coquerel. Em princípio, trata-se de redistribuição de renda. Mas os detalhes permanecem vagos, o ativista não atende ao pedido de uma melhor explicação.
Contra a Europa de Merkel
No grande palco, Jean-Luc Mélenchon interage com o público. "Vocês querem uma vida com menos trabalho?" "Sim", grita a multidão. O público também repete gritos de ordem contra o capitalismo especulativo, o neoliberalismo e outros fantasmas da esquerda. Mélenchon enfatiza as diferenças em relação a sua adversária populista de direita, Marine Le Pen: apesar de também ser pela saída da UE, ele garante que primeiro tentará renegociar os contratos.
Se isso não funcionar, ele propõe que a França se alie aos países da África e da América Latina. Assim, Mélenchon está na tradição do mentor comunista Karl Marx, que defendia a unificação transnacional da classe trabalhadora. O diário conservador Le Figaro ataca esse componente numa manchete afiada: "O louco programa do Chávez francês", diz, referindo-se ao presidente esquerdista da Venezuela Hugo Chávez, morto em 2013.
Mélenchon fala com empolgação sobre uma política mundial de paz, sem armas, e ataca seus adversários políticos. "Se François Fillon, que adora casacos bem cortados, me chama de comunista, então podemos dar a ele uma jaqueta costurada à mão pelos eleitores", ironiza. A alusão é à notícia de que o candidato presidencial conservador foi presenteado por um amigo com ternos no valor de vários milhares de euros.
Indecisos em Toulouse
Sentados na margem do rio estão os amigos Amaury, Simon e Paul, que trabalham juntos numa startup. Paul é o único que apoia abertamente Mélenchon, mas menos por achar seu programa realista, do que por acreditar que a França teve ser virada do avesso: "Seria bom haver uma melhor distribuição da riqueza e um modelo econômico diferente."
Já Amaury crê que o político socialista vai longe demais. Ele é a favor de mudança, mas jura que não votará em Mélenchon de forma alguma. Simon dá de ombros. Ele assiste ao comício para formar uma opinião, mas diz que ainda não se decidiu sobre um candidato. Com isso, se une aos cerca de 30% de eleitores indecisos na França.
Enquanto isso, Mélenchon fala do fim do sistema presidencial, de uma sexta república, de uma reforma constitucional na França. Após uma hora, os primeiros começam a se retirar. "Os jovens não têm mais resistência, só conseguem aguentar um tuíte", reclama um idoso, trajando casaco vermelho. Mas Mélenchon deve o grande sucesso entre os eleitores de 18 a 30 anos à esperta equipe de mídia social, que administra seu blog, seu canal no YouTube e sua conta no Twitter.
Os dois jovens engenheiros Juliette e Rémy ainda não sabem a quem dar seus votos. Eles não estão convencidos com Mélenchon. "De alguns dos temas dele, eu gosto, como, por exemplo, feminismo e política social", diz Juliette. Mas ela não quer sair de forma alguma da UE e considera o programa econômico dele um disparate.
"Nós certamente não votaremos nele. Mas em quem, então?", se pergunta. Em qualquer caso, como muitos na plateia ambos têm medo de ter que decidir num segundo turno entre dois extremos. É o que pode acontecer se o esquerdista Mélenchon e a candidata de extrema direita Le Pen vencerem o primeiro turno. E aí, "a França mergulharia no caos", afirma Rémy.