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Verdade ou ficção? Elizabeth 2ª na literatura

Sabine Peschel (rpr)21 de abril de 2016

Os 90 anos da rainha – mais de 60 deles no trono – renderam material farto para o mundo das artes. Mas foram poucos os romances que se aventuraram a retratar a popular soberana. Confira os mais marcantes.

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"Rainha" chega de paraquedas para a abertura dos Jogos Olímpicos: respeito, mas também bom humor ao tratar temaFoto: Reuters

Pouco depois da coroação da rainha, em 1951, nos primórdios da Guerra Fria, o Palácio de Buckingham é relacionado a um grande vazamento de informações militares secretas, que estariam parando nas mãos dos soviéticos. Um jovem espião da CIA (a agência de inteligência americana) é então enviado para tentar descobrir quem é o traidor e tentar proteger a reputação da monarca.

A soberana, no caso, não era Elizabeth 2ª, que assumiu o trono em 1952. Mas, no mundo fictício do suspense de espionagem A rainha está em xeque, foi na monarca que o escritor americano William F. Buckley Jr. se inspirou para criar a rainha Caroline.

Lançado em janeiro de 1976, o livro, que representa a estreia do famoso agente Blackford Oakes, é uma das poucas obras que se aventurou a retratar Elizabeth 2ª – cinema, teatro e literatura parecem, neste caso, adotar a mesma postura reservada que marcou os 90 anos de vida da rainha, 60 deles no trono.

Buchcover Saving the Queen von William F. Buckley
Versão inglesa do livro "A rainha está em xeque": um agente duplo no Palácio de BuckinghamFoto: Fair use

A rainha e o gigante

O famoso estoicismo de Elizabeth 2ª pode ser uma das razões que levaram atores, escritores e diretores a atribuir, de forma sutil, facetas ocultas a versões ficcionais da rainha ao longo dos anos. No livro infantil O BGA – O bom gigante amigo, por exemplo, o britânico Roald Dahl retrata a rainha como uma monarca distante, com quem o personagem-título tem problemas de lidar.

Na peça de 1988 A question of attribution (uma questão de atribuição, em tradução livre), de Alan Bennett, o conselheiro de arte da rainha se revela um espião soviético. A adaptação homônima para TV feita por John Schlesinger em 1991, com Prunella Scales no papel da monarca, venceu o prêmio Bafta de melhor drama de televisão naquele ano.

Outra obra de sucesso no teatro foi o drama The audience (a audiência, em tradução livre), de 2013. Numa reapresentação da peça de Peter Morgan no ano passado, no lendário Teatro Apollo de Londres, a atriz anglo-francesa Kristin Scott Thomas foi aclamada por interpretar Elizabeth 2ª como uma mulher madura e inteligente.

Protagonista da peça em sua estreia em Londres, em 2013, Helen Mirren fez o mesmo papel numa temporada limitada na Broadway no ano passado, gerando cerca de 1 milhão de dólares de bilheteria por semana. Helen era a escolha natural – já interpretara Elizabeth 2ª em A rainha, de Stephen Frears, que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz.

Por seu trabalho, Helen Mirren e Kristin Scott Thomas foram ambas honradas com a Ordem do Império Britânico – e por sugestão da própria rainha.

Quando a regente vira plebeia

A turbulenta vida da família real foi retratada pela autora Sue Townsend no romance A rainha e eu, publicado em 1992, mais ou menos no tempo em que o casamento do príncipe Charles, primeiro na linha de sucessão ao trono, começou a desmoronar.

No livro, a rainha vai morar num conjunto habitacional após o fictício Partido Republicano do Povo abolir a monarquia. Para sua decepção, Elizabeth 2ª não é autorizada a levar os cachorros para a casa alugada. Na sequência A rainha Camilla, de 2006, a monarquia é restaurada.

Buchcover Alan Bennett The Uncommon Reader
O romance "Uma real leitora", de 2007, mostra a rainha como uma devoradora de livros

O dramaturgo Alan Bennett voltou ao tema rainha 20 anos depois da famosa peça, com o romance Uma real leitora, de 2007. Nele, Elizabeth se torna uma leitora voraz, após seus cachorros encontrarem uma biblioteca itinerante durante um passeio. A rainha de Bennett é inteligente, curiosa e sensível – uma faceta curiosa da normalmente distante regente.

No romance The Autobiography of the Queen (a autobiografia da rainha, em tradução livre), de 2007, a monarca, cansada de ter que acenar para as câmeras, quebrar garrafas em cerimônias de botaduras e receber seus súditos, desaparece do Castelo de Balmoral, na Escócia, numa manhã nebulosa de setembro.

A engraçada história de Emma Tennant conta como, sob o nome de Gloria Smith, a rainha viaja até a ilha caribenha de Santa Lúcia. Mas, é claro, nem tudo sai como o planejado em sua tentativa de viver uma vida plebeia.

Os livros são um exemplo do amor dos britânicos por sua inabalável monarquia – e de seu senso de humor. O que pôde ser visto pelo mundo todo durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres: pouco antes de a festa começar, Elizabeth 2ª e James Bond aterrissaram de paraquedas no estádio.