Vale diz que vai fechar barragens como a de Brumadinho
30 de janeiro de 2019O presidente da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, anunciou nesta terça-feira (29/12) que a empresa vai eliminar dez barragens semelhantes às que romperam em Brumadinho e em Mariana. As barragens que serão descomissionadas ficam todas nos arredores de Belo Horizonte (MG).
"É a resposta cabal e à altura da enorme tragédia que tivemos em Brumadinho. Este plano foi produzido três a quatro dias após o acidente", disse o executivo.
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Schvartsman afirmou que descomissionar significa preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza. "A decisão da companhia é que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos com a decisão de acabar com todas as barragens a montante."
Essas barragens foram construídas com o método de alteamento a montante. As barragens que romperam em Mariana e Brumadinho tinham esse tipo de estrutura, considerada de baixo custo, mas menos segura. Especialistas apontam que essas estruturas são ultrapassadas e perigosas. Alguns países, como Chile, já proibiram a sua construção.
O presidente da Vale disse que o projeto para descomissionar as barragens está pronto e será levado para os órgãos federais e estaduais em 45 dias. Segundo ele, o prazo para executar as ações é de no mínimo um ano e no máximo 3 anos. O descomissionamento demandará um investimento de 5 bilhões de reais, segundo a empresa.
O anúncio ocorreu após uma reunião com membros do governo federal. Schvartsman disse ainda que "não teve qualquer tipo de pressão" por parte do governo para intervir na direção da Vale.
"Esse plano foi apresentado aos ministros de Minas e Energia e Meio Ambiente nesta terça-feira, assim como foi apresentado à data de ontem ao governador Romeu Zema [de Minas Gerais]." De acordo com o executivo, a decisão será publicada por meio de comunicado para informar o mercado financeiro.
Schvartsman afirmou ainda que, com o fechamento das dez barragens, a Vale deixará de produzir 40 milhões de toneladas de ferro e 10 milhões de toneladas de pelotas ao ano - 10% de toda a sua produção.
A barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, rompeu na sexta-feira, liberando quase 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos minerais e deixando um rastro de destruição em instalações da Vale e numa comunidade de Brumadinho. A lama e os rejeitos também atingiram o rio Paraopeba.
Segundo a Vale, a barragem havia sido inspecionada pela certificadora alemã TÜV-Süd em junho e setembro de 2018, ocasião em que foi atestada como estável. Nesta terça-feira, foram presos dois engenheiros da firma alemã que atestaram a estabilidade e três funcionários da Vale responsáveis pela mina e seu licenciamento.
Oficialmente, a barragem que rompeu não recebia novos rejeitos há três anos e estava em processo de desativação. A estrutura foi construída em 1976 pela antiga mineradora Ferteco Mineração, que já foi a terceira maior companhia produtora de minério de ferro do Brasil e pertenceu ao grupo alemão ThyssenKrupp. A barragem e a mina passaram para a Vale em 2001, quando a Ferteco foi vendida.
Balanço
No quinto dia de buscas a vítimas do rompimento da barragem, a Defesa Civil de Minas Gerais confirmou o balanço de 84 mortos e 276 desaparecidos. O Corpo de Bombeiros informou que o número de mortos é ainda maior, porque corpos localizados no começo da noite não estão nesse registro.
"Como temos a possibilidade de encontrar mais corpos nas áreas próximas ao refeitório [da mineradora], acreditamos que aumentaremos o número de pessoas encontradas", disse o porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara.
Segundo o porta-voz, foram encerradas as buscas em um ônibus, onde foram localizados três corpos. Mais dois mortos foram encontrados em uma área que deve ser o restaurante, por causa do mobiliário e pela presença de dois botijões de gás. As buscas serão retomadas às 4h desta quarta-feira.
Segundo a Polícia Civil, dos 84 corpos, 42 foram identificados. No Instituto Médico-Legal (IML), foram atendidas 47 pessoas de 28 famílias. Para amanhã, o IML agendou 35 atendimentos de familiares para coleta de material necessário à identificação das vítimas.
Cerca de mil policiais militares estão acampados na zona rural de Brumadinho, fazendo o patrulhamento da área para evitar saques. Segundo o major Flávio Santiago, serão dois dias de grande operação, mas o comando da Polícia Militar definirá se haverá necessidade de estender a ação por mais tempo.
Segundo um boletim da Defesa Civil, dos 276 desaparecidos, 106 são empregados da Vale.
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