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União Africana pede a Putin que renove acordo de grãos

28 de julho de 2023

Líderes da África reunidos em cúpula em São Petersburgo defendem exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro e indicam que envio compensatório de grãos russos ao continente não será suficiente para segurança alimentar.

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Moussa Faki Mahamat discursando
"O acordo de grãos precisa ser estendido para o benefício de todas as pessoas do mundo, aos africanos em particular", disse Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União AfricanaFoto: Simon Maina/AFP

Líderes africanos reunidos em São Petersburgo para a 2ª Cúpula Rússia-África pediram nesta sexta-feira (28/07) ao presidente russo, Vladimir Putin, que renove o acordo que permite a exportação de grãos produzidos na Ucrânia através do Mar Negro.

O acordo contribuía para o equilíbrio no preço global de alimentos e o combate à fome no mundo e foi interrompido pelo Kremlin na última semana, o que segundo a ONU terá efeito negativo para centenas de milhões de pessoas.

Como medida compensatória pela suspensão do acordo, Putin prometeu na quinta-feira enviar milhares de toneladas de grãos russos a países africanos, mas líderes do continente estimam que isso não será suficiente para garantir a segurança militar.

Sem serem frontalmente críticos ao líder russo, que opera uma estratégia de influência sobre a África, eles pressionaram pela normalização do fluxo de grãos ucranianos pelo Mar Negro.

"As disrupções no fornecimento de energia e grãos precisam chegar a um fim imediatamente. O acordo de grãos precisa ser estendido para o benefício de todas as pessoas do mundo, aos africanos em particular", disse Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana, que reúne 55 países africanos, dirigindo-se a Putin durante a cúpula em São Petersburgo. "Esta guerra precisa terminar. E isso só poderá ocorrer por meio da justiça e da razão."

Putin indica caminho com a mão para Mahamat e Assoumani
Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana, Azali Assoumani, presidente da União Africana, e o líder russo, Vladimir Putin, em São Petersburgo nesta quinta-feiraFoto: Mikhail Tereshchenko/AFP

Azali Assoumani, presidente da União Africana, também reforçou o apelo para um cessar-fogo e indicou que o envio de grãos para o continente anunciado pela Rússia poderia não ser suficiente.

"O presidente da Rússia demonstrou que está pronto para nos ajudar na prática com o fornecimento de grãos. Sim, isso é importante, mas pode não ser o suficiente. Precisamos alcançar um cessar-fogo", disse, ressalvando que vê Putin como "pronto para dialogar e encontrar uma solução". "Agora precisamos convencer o outro lado", afirmou.

Putin respondeu aos líderes africanos que era Kiev que estava se negando a negociar nos termos estipulados por um decreto da Rússia, não reconhecido pela comunidade internacional, que incorpora quatro regiões da Ucrânia ao território russo.

Proposta africana para fim do conflito

A União Africana elaborou uma proposta para a interrupção do conflito, que inclui o recuo de tropas russas na Ucrânia, a remoção de armas táticas nucleares russas de Belarus, a suspensão do mandado internacional de prisão contra Putin emitido pelo Tribunal Penal Internacional e o alívio nas sanções do Ocidente aplicadas a Moscou.

Putin recebeu a proposta com cortesia, mas disse apenas que irá analisá-la com cuidado.

O presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, afirmou na cúpula em São Petersburgo que a proposta africana "merece a devida atenção, não pode ser subestimada (...) Mais uma vez, pedimos urgentemente a restauração da paz na Europa".

O presidente do Senegal, Macky Sall, pediu "uma desescalada para ajudar a criar paz", enquanto o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse esperar que "engajamento construtivo e negociação" poderia colocar um fim no conflito.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, rejeita a ideia de um cessar-fogo agora, argumentando que isso deixaria a Rússia no controle de cerca de um quinto do território ucraniano e daria às forças de Moscou tempo para se fortalecer após 17 meses de guerra.

A Ucrânia no momento centra esforços em uma contraofensiva para tentar recuperar territórios ocupados pelos russos, que avança em ritmo mais lento do que os militares ucranianos gostariam.

bl (Reuters, ots)