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Um pintor para pintores

Rodrigo Rimon27 de outubro de 2004

Exposição em Essen antecipa as comemorações do centenário de morte de Paul Cézanne em 2006, expondo mais de cem telas do pioneiro modernista e de seus mais importantes admiradores, como Picasso, Matisse e Braque.

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'Os banhistas', de Cézanne (ca. 1890)Foto: VG Bild-Kunst, Bonn 2004

Para marcar o centenário do falecimento do pintor francês Paul Cézanne em 2006 estão planejadas diversas exposições: em Nova York e Washington, Filadélfia e Londres, Paris e, claro, em sua cidade natal, a pequena Aix-en-Provence. Mas a cidade alemã de Essen, no Vale do Ruhr, antecipou o evento em dois anos.

Paul Cezanne - Sebstbildnis mit Palette um 1890
Auto-retrato de Cézanne (ca. 1890)

A mostra Cézanne - Arrancada para o modernismo, do Museu Folkwang, ressalta a influência que o mestre francês – em vida praticamente ignorado por colecionadores e museus – exerceu para a geração seguinte. Ao todo, são mais de 100 pinturas, das quais 43 de Cézanne, 21 de Picasso, 14 de Matisse e Derain, oito de Braque, quatro de Vlaminck e três de Léger.

As telas, que depois seguem para Nova York, foram trazidas de 48 museus de todo o mundo, entre eles do Museu Pushkin de Moscou, do Hermitage de São Petersburgo, da National Gallery de Washington, do Guggenheim, do Metropolitan e do MoMa de Nova York, além da Tate Gallery de Londres e do Musée d'Orsay de Paris.

Na proa do modernismo

Contra a vontade de seu pai, um bem-sucedido banqueiro provençal, Cézanne estudou artes plásticas em Paris em 1861. Durante a vida, entretanto, obteve o devido reconhecimento apenas de outros pintores, o que o tornou um "pintor para pintores". Segundo o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, "a exposição permite acompanhar a mudança radical que a arte sofreu após a morte de Cézanne".

Paul Cezanne, Stilleben mit Zwiebeln 1896-1898
Cézanne: 'Natureza morta com cebolas', 1896-1898

As telas que pintou enquanto jovem, mais coléricas, escuras e dramáticas, com um tratamento de cores inédito até então, foram de grande influência para os fauvistas, em especial Derain e Vlaminck. Seus trabalhos mais tardios, posteriores a 1880, ensinaram a mestres cubistas como Picasso, Braque e Léger a decompor o mundo em formas geométricas. O papel do "cézannisme" nas vanguardas modernistas é o que a exposição em Essen busca ressaltar – uma influência, sugerem os curadores, até maior que a de outros pioneiros como Vincent van Gogh e Paul Gauguin.

Contemplação comparativa

Os curadores Felix Baumann e Walter Feilchenfeldt dividiram a exposição em 20 motivos, como auto-retratos, nus, banhistas, naturezas mortas e paisagens. Cada um desses módulos começa com telas de Cézanne, seguidas por obras de mestres modernistas, permitindo assim uma contemplação comparativa. Segundo o jornal Tagesspiegel, "iniciados sabiam que em cada pintura de Cézanne estava contido todo o segredo da pintura modernista".

A genialidade da curadoria salta aos olhos já na primeira sala, uma espécie de antecâmara da mostra. Lá está uma tela de Maurice Denis intitulada Homenagem a Cézanne (1900), na qual pintores do grupo dos Nabis (profetas, em hebraico) admiram uma natureza morta de Cézanne – o original, que pertenceu um dia a Paul Gauguin, está pendurado logo ao lado. Gauguin, um de seus admiradores, reinterpretou o motivo em duas outras pinturas, também expostas na mesma sala.

Paul Cezanne - Mardi gras (Fastnacht) 1880
Paul Cézanne, 'Mardi gras' (1880)

Ponto forte da mostra é a série dos banhistas, na qual se reconhece a intersecção entre As banhistas (ca. 1890) de Cézanne e releituras de Matisse e Picasso. Outro destaque é a tela Mardi gras (1888), exposta pela primeira vez na Alemanha desde 1900, na qual Cézanne exprimiu seu encantamento pelo filho adolescente, na imagem vestido de Arlequim e acompanhado de um amigo em fantasia de Pierrô – motivos da Commedia dell'Arte italiana que mais tarde também inspiraram Picasso.

Também imperdíveis são as naturezas mortas, centrais para a obra de Cézanne, e as paisagens, obras mais tardias, nas quais denota certa relação com o Impressionismo.

A exposição Cézanne – Arrancada para o modernismo vai até 16 de janeiro de 2005 no Museu Folkwang, em Essen.