UE quer conter aumento de onda jihadista na Europa
8 de fevereiro de 2014Fanáticos perigosos. Mentes confusas e mal direcionadas. Indivíduos violentos traumatizados. Tais conceitos são recorrentes na Europa quando se fala dos jihadistas europeus na Síria. Quanto mais longa a guerra civil no país, maior a preocupação na União Europeia (UE) de que outros europeus se juntem aos extremistas.
Teme-se que eles se radicalizem ainda mais nos campos jihadistas e, depois da guerra civil, voltem para a Europa como bombas-relógio que podem explodir a qualquer momento. Cecilia Malmström, comissária europeia de Assuntos Internos, falou "de pessoas muito perigosas". O encarregado da UE do combate ao terrorismo, Gilles de Kechove, ocupou as manchetes dos jornais ao dizer que "alguns poucos [jihadistas] determinados já representam uma grande ameaça."
Campos de treinamento de terroristas
Reportagens na mídia acirram ainda mais esse cenário. O jornal britânico Daily Telegraph escreveu, por exemplo, que a rede terrorista Al Qaeda estaria treinando na Síria centenas de jihadistas britânicos para praticar atentados quando voltarem para casa. Outros recrutas da Europa e dos EUA também estariam sendo treinados para a construção de carros-bomba e formação de células terroristas em seus países de origem.
Para controlar esse problema, os ministros do Interior da União Europeia concordaram, durante encontro em Atenas realizado há duas semanas, em impedir a saída de jovens combatentes e monitorar o retorno de outros para casa. Para tal, os serviços de inteligência dos diversos países devem cooperar de forma mais estreita.
Além disso, a UE aposta na cooperação em nível europeu de especialistas e iniciativas locais que tenham uma experiência prática em lidar com extremistas e terroristas. Despercebidos da opinião pública, 180 especialistas e representantes de órgãos nacionais de 23 metrópoles europeias se encontraram em Haia para discutir como se pode conter a onda jihadista da Europa.
O encontro foi organizado pela Rede de Conscientização contra a Radicalização (RAN, na sigla em inglês), lançada pela Comissão Europeia em 2011. Na chamada Conferência das Cidades, especialistas das áreas de polícia, administração e trabalho juvenil desenvolveram soluções e trocaram experiências sobre como lidar com os radicais.
Aprendendo com o Reino Unido
"Os ingleses estão bem à frente no que diz respeito à história colonial e à experiência com atentados em Londres", disse Andre Konze, que participou da conferência, em entrevista à Deutsche Welle. Diretor da Escola Superior da Polícia da cidade de Münster, na Alemanha, Konze relatou um exemplo – digno de ser copiado – de um gestor de projetos de origem islâmica em Birmingham, que foi à Síria para fazer um quadro da situação.
"Após seu retorno, ele pôde esclarecer aos jovens extremistas de forma muito mais convincente que eles estão no caminho errado ao acreditar que podem apoiar a Síria desta forma", afirmou.
Os jovens radicais teriam a ideia de que havia algo de bom por lá, explicou Konze. Segundo ele, a "guerra santa" é vinculada a associações positivas. "Mas os jihadistas europeus não têm a menor ideia dos horrores que ocorrem na Síria, dos crimes que são praticados e quais são os verdadeiros resultados dessa suposta guerra santa."
Segundo estimativas da União Europeia, atualmente até 20% dos combatentes estrangeiros na Síria vêm da Europa Ocidental. A maioria deles tem de 20 a 30 anos de idade, provém da França, seguido do Reino Unido e da Alemanha. A simples conversão ao Islã não é considerada pelos especialistas como uma radicalização – mas é tratada como um possível indicador.
Mais ajuda para as famílias
A Rede de Conscientização contra a Radicalização enfatizou para os participantes da Conferência das Cidades em um documento que o número de combatentes estrangeiros que viajam para a Síria é muito maior do que em conflitos semelhantes das últimas décadas. Inclusive maior do que no Afeganistão e Iraque juntos.
O Centro Internacional de Estudos de Radicalização (ISCR, na sigla em inglês) em Londres – cujas pesquisas servem de referência para a rede RAN – acredita que até 2 mil combatentes europeus se encontram na Síria. A cifra supera em mais de três vezes o número constatado por um estudo do ISCR em abril do ano passado, quando pesquisadores supunham que até 600 jihadistas europeus estariam na Síria.
Além da radicalização por meio da internet, familiares desestruturadas também são vistas como cerne do problema. Por esse motivo, os participantes da conferência em Haia concordaram em apoiar as famílias dos afetados. Elas devem ser encorajadas a procurar ajuda, "o que não é o caso no momento", explicou Konze. "Prefeituras ou municípios deveriam ir até as famílias quando houver alguém em sua região que tenha anunciado deixar o país ou mesmo anunciado o retorno ao mesmo."
Para Konze, na Alemanha essa tarefa poderia ser assumida pelas secretarias da criança e do adolescente, já que se trata em sua maioria de adolescentes. Após a conferência, grupos de trabalho deverão concretizar as sugestões acordadas em Haia.