UE cumpre missão de paz no Congo
1 de setembro de 2003Mais de 50 mil pessoas foram mortas desde 1999 na guerra civil na República Democrática do Congo. Em Bunia reina agora tranqüilidade e paz, sem ataques, tiroteios, massacres ou crianças-soldados, conforme o porta-voz da tropa européia de proteção descreve a situação na capital da até então conturbada província de Ituri, no norte do país africano.
A França, que comandou a Operação Artemis da União Européia, entregou, no domingo (31), o último posto de controle aos soldados das Nações Unidas, que assumem o comando numa cerimônia oficial nesta segunda-feira (1). Na realidade, a substituição vinha se consumando por etapas, há semanas: 2.500 boinas azuis do Uruguai e Bangladesch já estão estacionados e até o fim do ano o contingente deve aumentar para 3.800 homens. A pedido da ONU, 450 franceses permanecerão em Bunia até meados de setembro para apoiar a tropa da ONU em caso de emergência.
O balanço positivo feito pelo ministro alemão da Defesa, Peter Struck, e por militares europeus in loco foram confirmados por ONGs atuantes no Congo. Ainda existem escaramuças esporádicas entre as milícias das etnias rivais hema e lendu, mas cessaram os massacres entre a população civil.
Apoio caro demais
– Apesar do sucesso propalado da Operação Artemis, o Ministério da Defesa em Berlim teve que prestar contas à imprensa sobre suas missões de apoio à tropa européia. A revista Focus divulgou que a ação da Força Aérea alemã saiu dez mais cara do que poderia ter sido com vôos charter. Os velhos Transall voaram 25 vezes da França para Uganda, transportando material para a tropa.A capacidade de carga útil do Transall é de no máximo seis toneladas e o vôo de ida e volta dura seis dias ou 750 horas de vôo, ao custo de 7.245 euros cada, conforme revelou a Focus. Um avião moderno de grande porte poderia transportar essa mesma carga em apenas dois vôos. O Ministério da Defesa considera estes cálculos apenas teoricamente certos. Já que as Forças Armadas alemãs também tinham que evacuar pessoal em caso de emergência, era preciso manter o maior número possível de aviões na região. Não seria possível realizar missões de emergência com aviões charter.
Paz ilusória?
- Na capital congolesa Kinshasa, o presidente Joseph Kabila (Filho) se esforça para que a paz não seja ilusória, como muitos temem. Ele se empenha para que os grupos rivais na guerra civil se integrem no seu governo de transição União Nacional. Mesmo os "Warlords" da província de Ituri participaram das conversações de paz. Ex-líderes rebeldes ganharam postos no Exército, o Parlamento provisório instalou comissões contra a corrupção e pela reconciliação nacional e os direitos humanos. As primeiras eleições livres devem acontecer dentro de dois anos.Riquezas minerais –
A missão de paz da ONU (MONUC) não aposta, todavia, na distribuição bem sucedida de postos no governo e nas declarações de boas intenções de ex-líderes rebeldes e assassinos. Afinal de contas, os vizinhos Uganda e Ruanda também têm um papel importante na situação do Congo. Os dois países armaram as milícias hema e lendu para lucrarem com a guerra, pois a província de Ituri possui ricas reservas de ouro e diamante.São grandes as expectativas da tropa da ONU. Seu contingente aumentou 8.700 para 10.800 homens e mandato também foi ampliado. Os boinas azuis têm permissão do Conselho de Segurança em Nova York para usar todos os meios necessários para cumprir o seu mandato. Significa empregar a violência para proteger a população civil e desarmar as milícias também fora de Bunia.
Ao contrário da tropa européia de proteção, a da ONU não se limita à província de Ituri. Encontra-se agora uma segunda força de proteção no leste do Congo. Os soldados da ONU ainda deverão proteger o novo governo de transição em Kinshasa e criar um corpo policial na capital congolesa.