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Ucrânia rejeita "corredor de segurança" no Mar Negro

9 de junho de 2022

Rússia e Turquia propuseram plano para permitir exportação de grãos ucranianos em troca do alívio das sanções a Moscou, em meio ao agravamento da crise alimentar global. UE e Kiev expressam desconfiança.

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Navio ancorado no porto de Odessa, na Ucrânia, em meio ao bloqueio imposto pela Rússia no Mar Negro
Navio ancorado no porto de Odessa, na Ucrânia, em meio ao bloqueio imposto pela Rússia no Mar NegroFoto: imago images/unkas_photo

A Rússia e a Turquia apoiaram nesta quarta-feira (08/06) um plano para a criação de um corredor de segurança no Mar Negro, com o objetivo de permitir as exportações de grãos ucranianos. Kiev, porém, rejeitou a proposta, por considerá-la não confiável.

Moscou exige que Kiev retire as minas marítimas colocadas no Mar Negro e que o Ocidente alivie as pesadas sanções econômicas impostas à Rússia desde o início de sua invasão ao território ucraniano. Em troca, o governo russo permitiria a exportação dos grãos, de modo a evitar um agravamento na crise alimentar global, exacerbada durante o conflito.

Apesar de as exportações de alimentos não estarem entre os alvos das sanções, Moscou argumenta que as restrições aos bancos e ao acesso dos navios russos aos portos em diversos países tornam impossível a distribuição dos cereais para o mercado internacional, o que foi desmentido pela União Europeia (UE).

A Ucrânia é um dos maiores exportadores mundiais de trigo, milho e óleo de girassol, mas o bloqueio imposto pela Rússia aos portos do país impede a maior parte do fluxo desses produtos, o que põe em perigo as cadeias alimentares de muitos países em desenvolvimento, especialmente na África. Muitos desses portos estão fortemente minados.

O ministro do Exterior da Turquia, Mevut Cavusoglu, recebeu em Ancara nesta quarta-feira seu homólogo russo, Serguei Lavrov, para discutir uma proposta das Nações Unidas de liberar a cidade de Odessa e outros portos ucranianos no Mar Negro.

A finalidade é permitir a exportação de 22 milhões de toneladas de grãos que se encontram em armazéns ucranianos. Kiev, porém, não foi convidada para as conversas.

A Turquia vem mantendo diálogos com as duas partes no conflito. O governo turco criticou a invasão russa à Ucrânia, mas não aderiu às sanções internacionais contra a Rússia.

"Diplomacia silenciosa"

O secretário-geral da ONU, António Guterres, vem trabalhando há semanas em um pacote de medidas que visam destravar a exportação dos grãos e outras commodities ucranianas, além de permitir que a Rússia possa retomar as exportações de cereais e fertilizantes para os mercados internacionais.

"Este é um daqueles momentos em que a diplomacia silenciosa se faz necessária; o bem-estar de milhões de pessoas em todo o mundo pode depender disso", afirmou Guterres.

O presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que seu país não utilizará os corredores para exportação de grãos no Mar Negro para lançar ataques. Entretanto, autoridades da Ucrânia e da União Europeia (UE) expressaram desconfiança, uma vez que o próprio Putin chegou a afirmar no início do ano que não tinha a intenção de invadir o território ucraniano.

Lavrov disse nesta quarta-feira que a Rússia está pronta para formalizar garantias a Odessa. Ele prometeu que Moscou não abusará de sua vantagem naval se as minas forem removidas dos portos ucranianos. Segundo afirmou, seu país "adotará todas as medidas para garantir que os navios possam partir livremente".

Interesses turcos junto a Moscou

A Turquia prometeu viabilizar e proteger o transporte dos grãos no Mar Negro. O governo da Grécia também disponibilizou sua poderosa frota de navios de carga para ajudar na tarefa, embora o governo turco não tenha mencionado um possível participação de Atenas nesse processo.

Os turcos possuem total interesse no fechamento de um acordo, uma vez que Ancara necessita da aprovação de Moscou para manter sua presença no norte da Síria, onde planeja novas ofensivas contra milícias sírio-curdas, que o país considera uma ameaça de segurança.

Navios de guerra da Rússia impõem bloqueio às rotas comerciais no Mar Negro
Navios de guerra da Rússia impõem bloqueio às rotas comerciais no Mar NegroFoto: Russian Defense Ministry Press Service/AP/picture alliance

Mas, segundo Serhiy Ivashchenko, diretor-geral da União Ucraniana de Grãos, "a Turquia não tem poder suficiente para garantir a segurança no Mar Negro". Ele afirmou que a retirada das minas marítimas deve levar de três a quatro meses, e acusou a Rússia de também ter minado a região.

Em conferência de imprensa nesta quarta-feira ao lado de Lavrov, Cavusoglu afirmou que a estratégia é sensata e realizável, embora reconheça que necessitará de negociações entre russos e ucranianos. Ele também expressou apoio ao alívio das sanções por parte dos países ocidentais.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, discutiu na semana passada com o líder turco, Recep Tayyip Erdogan, a criação dos corredores marítimos. Kiev pediu garantias de segurança, como o fornecimento de armas para a defesa contra ameaças marítimas russas e a presença de navios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Mar Negro.

UE: Rússia usa crise alimentar como "arma"

A UE reforçou a acusação feita anteriormente pelas autoridades em Bruxelas de que a Rússia utiliza os estoques de cereais que se acumulam nos portos ucranianos como "arma", de modo a tentar obter vantagens no conflito com o país vizinho.

"Sejamos bem claros. Nossas sanções não chegam perto das commodities alimentares essenciais. Elas não afetam o comércio de grãos ou de outros alimentos entre a Rússia e países terceiros", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Parlamento Europeu nesta quarta-feira.

"O bloqueio dos portos isenta totalmente, de maneira específica, os bens agrícolas. Então, vamos nos ater à verdade. É a guerra de agressão de Putin que impulsiona a crise alimentar global, e nada mais", afirmou a chefe do Executivo europeu.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, acusou a Rússia de "cercar suas ações com uma rede de mentiras, no melhor estilo soviético".

rc (AP)