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Rússia diz que não atacará portos para passagem de grãos

4 de junho de 2022

Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que país não vai se aproveitar de uma possível retirada de minas. Kiev desconfia da promessa. Lukashenko sugere à ONU que safra ucraniana seja escoada por portos de Belarus.

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Ukraine | Russische Soldaten | Der Seehafen von Mariupol
Foto: AP/picture alliance

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira (03/06) que seu país não atacará os portos ucranianos que tiverem minas em seu entorno removidas para a passagem de cereais bloqueados há semanas devido à guerra na Ucrânia.

"Não vamos aproveitar a situação de desminagem para, digamos, realizar algum tipo de ataque no mar", disse Putin durante entrevista à televisão pública russa.

A Ucrânia acusa a Rússia de bloquear seus portos, o que a impediria de exportar até 22 milhões de toneladas de cereais, principalmente para África e Ásia. Além disso, denuncia que a Rússia roubou cereais ucranianos e os vendeu ilegalmente para países terceiros, como a Síria. A Rússia nega, chamando a afirmação de "blefe".

Segundo Putin, a melhor opção para o escoamento da produção ucraniana de cereais são os portos localizados no Mar Negro, incluindo Odessa, que ainda está sob controle ucraniano. Kiev, no entanto, não confia nas promessas de Moscou.

"Não fomos nós que minamos os acessos, foi a Ucrânia. Já disse a todos os nossos colegas em muitas ocasiões. Deixem que eles os desminem", afirmou Putin.

Ele insistiu que a Rússia não vai impor "nenhuma condição" e destacou que vai garantir "transporte pacífico, acesso seguro a esses portos, além da entrada e transferência de navios estrangeiros".

Putin ainda afirmou que os volumes de exportação de trigo da Ucrânia, que estimou em 6 milhões de toneladas, são insignificantes em comparação com a produção mundial, que ascende a cerca de 800 milhões.

O presidente russo, que estimou as exportações russas em 37 milhões de toneladas para 2022 e 2023, também propôs como alternativa os portos ucranianos no Mar de Azov - Mariupol e Berdyansk -, ambos sob controle russo.

"Estamos terminando o trabalho de desminagem. As tropas ucranianas extraíam-nas em três camadas. Criaremos a logística necessária. Faremos isso", disse.

Ele também destacou outras alternativas, como o rio Danúbio, os territórios da Romênia, Hungria e Polônia, além de Belarus, para ele a opção "mais fácil e barata".

"Mas, para isso, as sanções contra Belarus devem ser suspensas. Mas isso não é mais assunto nosso", admitiu.

Belarus pede concessões à ONU

O tema do transporte de grãos também foi debatido nesta sexta-feira em uma conversa telefônica entre o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Lukashenko disponibilizou seu país como rota de exportação de cereais ucranianos em troca de concessões, como a abertura de portos do Báltico para os produtos belarussos.

No quadro das sanções ocidentais à Belarus, que apoia a Rússia na guerra, os países bálticos fecharam seus portos às mercadorias belarussas, em especial a fertilizantes potássicos, um dos principais produtos de exportação da antiga república soviética.

De acordo com a agência de notícias Belta, Guterres pediu a Lukashenko "uma pausa de alguns dias" para realizar consultas aos líderes dos países bálticos sobre a proposta.

Sall saúda Putin, que está de costas para a câmera
Presidente da União Africana (d), Macky Sall, se reuniu com Putin em SochiFoto: Mikhail Klimentyev/Sputnik/AP Photo/picture alliance

União Africana apela a Putin

Também nesta sexta-feira, o presidente da União Africana (UA), Macky Sall, apelou a Putin para permitir a exportação de grãos. O tema foi debatido em reunião entre os dois líderes na cidade russa de Sochi. Segundo Sall, que também é presidente do Senegal, a Rússia se comprometeu a garantir a exportação de trigo e fertilizantes para a África.

De acordo com o presidente da comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, que também participou da reunião, a suspensão do bloqueio de grãos é necessária para amortecer o impacto econômico e socioeconômico devastador de uma crescente crise alimentar e energética, numa altura em que grandes regiões africanas se confrontam com a seca e outros problemas.

Os países africanos importaram 44% do seu trigo da Rússia e da Ucrânia, entre 2018 e 2020, de acordo com números das Nações Unidas, e os preços do trigo subiram cerca de 45% como resultado da rutura de abastecimento, de acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).

Homem em pé em uma pilha de grãos
Porto de Constância, na Romênia, é usado como alternativa emergencial para escoar produção ucranianaFoto: Daniel Mihailescu/AFP/Getty Images

Problemas para escoar a safra

No mês passado, a ONU alertou que o mundo atingiu níveis recordes de insegurança alimentar. Enquanto isso, silos na Ucrânia estão lotados de grãos.

"Não há solução para a crise alimentar [global] sem integrar a produção agrícola da Ucrânia", alertou Guterres na época.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU compra metade de seus estoques de grãos da Ucrânia. Mas, desde o início da guerra, as exportações pararam porque os portos da costa do Mar Negro estão fechados. 

Silos transbordando

A Ucrânia costumava transportar cerca de seis milhões de toneladas de grãos e oleaginosas por mês através de seus portos. Mas agora, os silos estão transbordando porque as exportações estão paralisadas.

De forma emergencial, algumas toneladas de cereais foram transportadas ao porto de Constância, na Romênia, para serem escoadas. "Isso é possível com muito esforço", disse Viorel Panait, CEO da Comvex, proprietária do porto. 

No entanto, não se pode substituir rotas de transporte marítimas tão grandes da noite para o dia e o principal problema em questão é o grande volume de exportações ucranianas. 

Uma alternativa seria o transporte férreo. No entanto, as dificuldades começam com a bitola dos trilhos: na Rússia e na Ucrânia, eles são historicamente cerca de 10 centímetros mais largos do que no resto da Europa. Isto significa que os vagões precisam ser recarregados na fronteira ou transferidos para um chassis adequado, o que encarece muito os custos de transporte.

le (EFE, Lusa, ots)