TVs apostam no mercado de loterias
11 de agosto de 2005
Quem pensa que o escândalo das apostas que abalou o futebol alemão na temporada passada foi uma catástrofe publicitária para o setor de loterias se engana. O ex-árbitro Robert Hoyzer, principal protagonista da maracutaia, parece ter sido um garoto-propaganda ideal para as empresas e sociedades especializadas no ramo, a maioria sob controle estatal na Alemanha.
Poucos meses depois do escândalo, com o início da Bundesliga 2005/2006 e a Copa às portas, há um verdadeiro boom nas casas lotéricas alemãs. O valor das ações da Betandwin, uma das raras firmas particulares do ramo de apostas, mais do que triplicou desde o início do ano.
Analistas calculam que os alemães aplicariam em torno de um bilhão de euros em apostas neste ano, se caísse o monopólio estatal sobre as loterias esportivas, o que depende de decisão do Tribunal Constitucional Federal. Isso seria um acréscimo de 25% sobre os 800 milhões de euros do ano passado.
Televisões querem uma fatia
As emissoras comerciais de TV (RTL, Premiere e DSF) começam a fazer pressão para abocanhar uma fatia desse lucrativo mercado, principalmente de olho na Copa 2006, quando, esperam, os alemães serão atingidos por uma verdadeira febre de apostas.
A TV por assinatura Premiere praticamente criou uma situação de fato, antes mesmo da decisão da Justiça, com o lançamento no início deste mês de um canal interativo destinado exclusivamente a bolões, palpites pagos e notícias esportivas.
"Ganhar é o melhor entretenimento" é o slogan do novo canal. Através de uma cooperação com a Betandwin e a Oddset, o Premiere Win combina TV com internet e casa lotérica, e começa a faturar indiretamente com programas de apostas oferecidos aos seus 3,5 milhões de assinantes.
A RTL foi até mais rápida, mas isso no automobilismo. Na plataforma RTLtipp.de, os apostadores podem arriscar palpites pagos sobre o vencedor da cada corrida de Fórmula 1. Nos próximos meses, a emissora quer lançar um programa de loterias via celular em cooperação com a Oddset, que foi a suposta vítima do escândalo na Bundesliga. Um canal digital próprio para este tipo de programa também está em planejamento. Por via das dúvidas, a RTL já comprou 20% do canal de jogos berlinense K1010.
Zona obscura
Oficialmente, só a estatal Oddset pode oferecer loterias na Alemanha. Empresas privadas – alemãs ou estrangeiras – que obtiveram licenças da ex-Alemanha Oriental, pouco antes da queda do Muro de Berlim, movem-se numa zona juridicamente obscura, mas oferecem melhores cotas de prêmios.
Segundo o jornal Kölner Stadt-Anzeiger, o canal DSF, que transmite 22 horas de Bundesliga por semana, estaria negociando com um detentor de licença lotérica da ex-RDA e com a Federação Alemã de Futebol (BFB) – esta também de olho no filão das apostas.
Independentemente da decisão do Tribunal Constitucional Federal, o sonho alemão de ganhar na loteria continuará alimentando novos planos das emissoras de TV. Os anfitriões da próxima Copa, aliás, ainda são bastante tímidos nesse campo: gastam apenas 14 euros per capita com apostas – os britânicos arriscam em média 400 euros por ano para o mesmo fim.