Tráfico humano
5 de junho de 2010A crise não atingiu os traficantes de seres humanos. A demanda é grande e, devido à internet, a logística funciona sem problemas e todo o setor está bem interconectado.
A jurista nigeriana Joy Ezeilo, relatora especial das Nações Unidas sobre Tráfico Humano, pretende coibir de forma duradoura as condições ideais de mercado que usufruem atualmente os traficantes de seres humanos.
Segundo Ezeilo, o tráfico de pessoas é um dos crimes de maior crescimento em todo o mundo. Após o comércio ilegal de armas e o contrabando de drogas, ele aparece em terceiro lugar. Trata-se de um negócio bilionário. A jurista entende que sua tarefa é aumentar o risco de tal negócio e deteriorar as bases dos traficantes.
Fenômeno mundial
Como o tráfico de seres humanos transcorre às escondidas, existem somente estimativas grosseiras quanto à sua dimensão. Muitas vítimas têm vergonha, medo de ir à polícia e não denunciam os criminosos. Ezeilo acredita que, anualmente, 1,5 a 2,5 milhões de pessoas sejam vítimas de tráfico humano.
Uma dessas vítimas foi Jana Kohut, hoje com 30 anos, natural da Bósnia. Por ocasião de uma crise pessoal, ela conheceu falsos amigos e caiu na armadilha de traficantes de pessoas. No final de 2004, ela foi raptada, maltratada, presa e dopada. Ela teve que se prostituir durantes quatro meses na Eslovênia, até finalmente conseguir se libertar da situação de jugo.
Jana afirma que o que lhe aconteceu pode ocorrer a qualquer pessoa. "Existe essa ideia de que isso atinge principalmente pessoas do chamado Terceiro Mundo, ou mulheres sem formação escolar ou camponesas ingênuas. Mas não funciona assim. Infelizmente, o tráfico de seres humanos funciona de forma bem simples. Eu diria que um grupo de cinco pessoas é suficiente para manter o tráfico de pessoas por muito tempo e com grande lucro."
Guiado pela demanda
Traficantes de seres humanos se aproveitam de situações de dilema. Pode se tratar da miséria ou de um conflito armado. Mas também a falta de oportunidades ou uma especial vulnerabilidade pode levar pessoas a se tornarem presa fácil para os traficantes de escravos modernos.
Não importa se o tema é exploração sexual ou de força de trabalho, as leis de demanda e oferta estão constantemente presentes, explica Jean-Philippe Chauzy, da Organização Internacional para as Migrações (OIM), dedicada à repatriação das vítimas do tráfico internacional de seres humanos.
Chauzy explica que, lentamente, impõe-se a compreensão de que o tráfico humano é guiado pela demanda. No começo dessa cadeia estão os clientes interessados em um determinado tipo de serviço, sejam trabalhos corriqueiros ou os chamados serviços sexuais.
"Por isso, trabalhamos no momento de forma mais acentuada nos países de destino do tráfico humano, lá onde existe a demanda, lá onde pessoas são escravizadas. O tráfico humano vive da demanda, as pessoas só são exploradas porque existe essa demanda", disse Chauzy.
Ajuda incondicional
Por tráfico de seres humanos entende-se a exploração planejada de pessoas. Por meio de violência, ameaças e artimanhas, as vítimas são obrigadas a seguir o esquema imposto.
O tráfico humano é mais comum em regiões com reduzido bem-estar social. Trata-se de um fenômeno mundial. A maioria dos governos se mostra intransigente com as vítimas e procura deportá-las o mais rápido possível.
A relatora especial Joy Ezeilo exige mais atenção com as vítimas, atualmente tratadas como pessoas criminosas. Elas são detidas e presas e enquadradas como imigrantes ilegais, diz Ezeilo.
Geralmente, acresce a relatora da ONU, a ajuda a essas pessoas é vinculada a condições do tipo "se você cooperar conosco, então pode ficar" ou "se você cooperar conosco, pode ser tratado no hospital ou receber isso ou aquilo".
Ezeilo explica que isso são condições. "O que exigimos é ajuda incondicional. Os governos têm que mudar sua perspectiva em relação ao tráfico de pessoas, trata-se de violações dos direitos humanos", defende a relatora.
Proteção dos humanos
Como antiga vítima do tráfico humano, Jana Kohut saúda qualquer forma de apoio estatal. Sua própria vivência, todavia, lhe ensinou que não se deve esperar pela ajuda da polícia ou de autoridades. Jana pede menos indiferença.
Com espanto ela constatou o afã e a habilidade com que pessoas, em diversas cidades da Europa, se engajam por animais domésticos desaparecidos. Essa forma de participação também deve ser aplicada aos humanos, explica.
"Quando um cachorro desaparece, ele certamente será encontrado em menos de um dia, pois toda a vizianhança é mobilizada e um grupo de proteção dos animais entra em ação, informando a todos. Assim que alguém vir o cão, ele transmite a informação e o animal é encontrado. Essa espécie de responsabilidade também é necessária na luta contra o tráfico humano. Se funciona com cachorros, também deveria funcionar com seres humanos", reclama Jana Kohut.
Autora: Claudia Witte (ca)
Revisão: Simone Lopes