Trump propõe adiar eleições americanas
30 de julho de 2020O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu nesta quinta-feira (30/07) adiar a eleição marcada para novembro, na qual concorre à reeleição. A declaração foi feita minutos após a divulgação dos dados que mostraram um colapso da economia americana, numa das maiores crises da história do país.
Ao defender o adiamento do pleito, Trump alegou no Twitter supostas "fraudes" que poderiam ocorrer com o voto à distância: "Com o voto universal pelo correio, a eleição de 2020 será a mais imprecisa e fraudulenta da história. Será uma grande vergonha para os EUA. Adiar a eleição até que as pessoas possam votar de forma adequada, segura e garantida???"
Devido à pandemia de covid-19, organizações civis, autoridades e políticos do Partido Democrata vêm promovendo o voto enviado pelo correio para a eleição de 3 de novembro, que definirá não somente o presidente, mas também um terço do Senado e a totalidade da Câmara dos Representantes.
Pesquisas de opinião têm colocado Trump atrás do candidato democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden. Em 2016, apesar de ter recebido 3 milhões de votos a menos que a então candidata do Partido Democrata Hillary Clinton, o milionário republicano alcançou a vitória no Colégio Eleitoral.
Além da desvantagem nas pesquisas, a declaração de Trump surge num momento em que os Estados Unidos enfrentam uma das piores crises econômicas da história, devido à pandemia de covid-19. O Departamento de Comércio revelou nesta quinta-feira que a economia do país despencou 9,5% no segundo trimestre, na comparação com o anterior.
É a maior queda trimestral desde o início dos cálculos modernos do Produto Interno Bruto (PIB) pelo governo americano, em 1947. Situações semelhantes ocorreram apenas durante a Grande Depressão e a desmobilização depois do fim da Segunda Guerra Mundial, afirmou o New York Times.
Em 244 anos de existência da república americana, nunca houve um adiamento das eleições, nem mesmo em 1864, quando o país enfrentava o terceiro ano de Guerra Civil. De acordo com a Constituição americana, o presidente não tem autoridade legal para adiar ou cancelar uma eleição. Cabe exclusivamente ao Congresso determinar o calendário do pleito.
Os democratas acusaram Trump de, com a declaração, tentar tirar o foco dos índices econômicos divulgados nesta quinta-feira. A declaração teria pegado de surpresa também republicanos e funcionários da Casa Branca.
O senador republicano Marco Rubio disse ser contra o adiamento e acrescentou que as eleições serão legítimas e credíveis como sempre têm sido, e "as pessoas deveriam confiar nisso".
A deputada democrata Zoe Lofgren, presidente do comitê da Câmara dos Representantes que supervisiona a segurança das eleições, rejeitou a sugestão de mudança da data: "Somente o Congresso pode mudar a data das eleições. Sob nenhuma circunstância consideramos fazê-lo para satisfazer à resposta inadequada e aleatória do presidente à pandemia de coronavírus ou para dar credibilidade às mentiras e desinformação que ele espalha sobre como os americanos podem votar com segurança."
Perdendo terreno para o provável candidato democrata, recentemente, em entrevista à emissora de televisão americana Fox, Trump evitou dizer se aceitaria o resultado das eleições caso perdesse, algo que já havia feito poucas semanas antes do pleito de 2016. Sem provas, ele também tem colocado em dúvida a legitimidade do voto pelo correio.
Os ataques de Trump contra o sistema eleitoral americano ocorrem num momento de avanço da pandemia de covid-19 no país. Os surtos mais recentes atingem especialmente estados liderados por republicanos, como a Flórida e o Texas, o que dificultou para Trump manter a alegação de que os democratas seriam os culpados pela propagação da doença em seus estados.
Devido à ameaça do vírus, há grandes dúvidas sobre quantos americanos votarão, e se será possível encontrar voluntários suficientes para as assembleias eleitorais. Com isso, o voto pelo correio vem ganhando força no país. Não há nenhuma indicação significativa de fraude nas eleições americanas, também em relação ao voto à distância, bastante popular em alguns estados.
CN/efe/lusa/afp/rtr
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