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Thomas Müller, o ministro das comunicações do Bayern

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
8 de dezembro de 2020

O ex-jogador da seleção alemã é um comunicador nato, ninguém fala tanto durante um jogo quanto ele. Apelidado de "Rádio Müller", ele se tornou a voz do técnico Hansi Flick dentro de campo.

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Thomas Müller comemora gol em partida contra o Leipzig
Thomas Müller comemora gol em partida contra o LeipzigFoto: Andreas Gebert/AFP/Getty Images

O jogo se desenvolvia com lances de encher os olhos dos amantes do futebol, e os comandados do jovem treinador Julian Nagelsmann davam claros sinais de que não foram a Munique para fazer turismo e apreciar a bela paisagem da capital da Baviera. Eram decorridos 30 minutos de jogo, e o placar do telão da casa do Bayern, a Allianz Arena, já mostrava vantagem para o visitante Leipzig por 1 x 0. Cinco minutos antes, o técnico Hansi Flick foi obrigado a substituir Javi Martinez, contundido, por Jamal Musiala, garoto de apenas 17 anos.

O jovem meio-campista entrou bem no jogo, recebeu um passe açucarado de Kingsley Coman na meia-lua da grande área e ouviu um grito: "Chuta!" Era Thomas Müller, cujo grito ecoou pelo estádio vazio. Musiala chutou e empatou a partida. O confronto entre líder e vice-líder terminou empatado em 3 x 3 e foi cantado em prosa e verso pela imprensa esportiva alemã como o melhor espetáculo de futebol visto neste tenebroso ano de 2020.

Nas estatísticas da temporada, em todas as competições oficiais, Müller aparece com nove gols e nove assistências, mas esses números não são suficientes para revelar a real importância que ele representa para o time. O ex-jogador da seleção, que muitos desejam ver de volta na Mannschaft, além de sua proverbial eficiência, é um líder nato em campo. Grita, gesticula, coordena, comanda, adverte. Ao perceber, já no começo do confronto, os vacilos de sua defesa, não teve dúvidas e esbravejou: "Tem alguém aí para assumir a responsabilidade pelo setor ou não?"

Depois do primeiro grande clássico da Bundesliga em novembro entre Dortmund e Bayern, que os bávaros venceram por 3 a 2, Hansi Flick se encaminhou em direção a Müller e, em pleno gramado, curvou sua cabeça em homenagem ao jogador. Em recente entrevista, Flick explicou: "Ele é um desses jogadores que organizam a resistência e dão impulsos decisivos para rápida recuperação de bolas aparentemente perdidas." Foi um gesto inesquecível do treinador bávaro. Um gesto que diz mais do que muitas palavras. 

Sob a direção de Flick, a estrela de Müller renasceu após ter entrado em declínio com o infeliz técnico Niko Kovac, que simplesmente relegou o campeão mundial ao banco de reservas. Não bastasse isso, ainda justificou: "Só entra em caso de extrema necessidade." Foi por essa e por outras que Kovac foi demitido. Mais tarde, o ex-treinador do Bayern iria admitir o seu erro.

Thomas Müller adora falar. É um comunicador nato. Antes, durante e depois do jogo, com uma sutil diferença. Agora com os estádios vazios, a sua falação no decorrer da partida repercute não só entre os jogadores, mas também é captada pelos microfones dos repórteres de rádio e TV, além de ecoar pelas arenas.

Fato é que ninguém fala tanto durante um jogo quanto Müller. Herrman Gerland, assistente de Flick, foi treinador do time B do Bayern e, naquela época, se tornou uma espécie de mentor do então ainda jovem jogador. Logo percebeu seu talento comunicativo. Não teve dúvidas e cunhou o apelido que perdura até hoje: "Rádio Müller".

Desde novembro do ano passado, quando Hansi Flick assumiu o comando técnico do time, a carreira de Müller enveredou por uma espiral ascendente impressionante, e isto aos 31 anos de idade. O jogador se tornou a voz do técnico dentro de campo. Seu posicionamento preferido – a faixa central do meio-campo ofensivo – facilita e muito sua comunicação com os colegas. Além disso, de acordo com o treinador, Müller sabe fazer a leitura tática do jogo e, como poucos, tira proveito de espaços deixados vazios pelos adversários.

Questionado algumas vezes sobre sua falta de elegância no trato da bola, Müller deu aquele sorrisinho maroto e respondeu na lata: "Sei que o meu jogo não é o mais bonito, mesmo porque não entro em campo para divertir o público com futebol-arte ou habilidades artísticas. Entro em campo para vencer."

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. 

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.