Quatro dias depois da eliminação prematura da seleção alemã da Copa do Catar, o diretor esportivo Olivier Bierhoff assumiu as suas responsabilidades no vexame e, nesta segunda-feira (05/12), rescindiu seu contrato vigente até 2024 com a Federação Alemã de Futebol (DFB). Provavelmente a decisão foi tomada de comum acordo entre as partes envolvidas.
"Estou deixando o caminho livre para que possa haver um novo direcionamento", declarou Bierhoff num comunicado oficial. "Algumas decisões que tomamos e achávamos serem corretas infelizmente se revelaram equivocadas. Ninguém lamenta isso mais do que eu, e assumo aqui total responsabilidade."
Com essa declaração, o dirigente voltou atrás naquilo que havia dito na última quinta-feira, logo depois da eliminação da seleção, quando reafirmou que seu próximo objetivo era contribuir decisivamente para o sucesso da Mannschaft na Eurocopa 2024, que se realizará na Alemanha.
Agora se despediu dizendo: "Desejo à DFB, aos seus colaboradores, aos clubes e associações, assim como às nossas seleções nacionais, o maior sucesso nas suas importantes tarefas."
Legado controverso
O legado que Bierhoff deixa é controverso. De um lado, logo depois do fracasso na Eurocopa em 2004, foi juntamente com Jürgen Klinsmann o responsável pela reestruturação da seleção, cujos primeiros resultados já surgiram em 2006 e culminaram com o triunfo na Copa do Mundo em 2014.
De outro lado, sob sua gestão nos últimos anos, a tetracampeã mundial se viu eliminada de duas Copas do Mundo já na fase de grupos. Foram dois vexames consecutivos antes inimagináveis, mesmo porque o objetivo mínimo da Alemanha, seja numa Copa do Mundo ou na Eurocopa, é o de chegar sempre à semifinal. A última vez que isso ocorreu foi na Euro 2016 quando sucumbiu frente à França.
Paralelamente ao declínio esportivo, uma corrosão contínua do apoio dos torcedores aos projetos da seleção ocorreu justamente depois da Euro 2016. Os planos de marketing que Bierhoff desenvolveu não foram bem aceitos pela torcida. O slogan "Die Mannschaft", introduzido como se fosse a marca de um produto, não pegou e foi amplamente criticado.
Responsável por todo planejamento logístico da seleção alemã, Bierhoff teve como último grande feito nesse quesito – é possível afirmar, sem medo de errar – a escolha do Campo Bahia para servir de quartel general na Copa de 2014. Nas duas copas seguintes, na Rússia e no Catar, houve muitas críticas aos locais escolhidos, seja por seu luxo, seja por seu isolamento. Acabaram se tornando um símbolo de uma seleção nacional excessivamente protegida e isolada do mundo exterior.
Primeira vítima do fracasso no Catar
Queira ou não, Oliver Bierhoff é a primeira vítima do fracasso da seleção no Catar. Comenta-se em Frankfurt, na sede da Federação Alemã de Futebol, que Bierhoff se antecipou à uma eventual demissão que aconteceria de qualquer jeito numa reunião nesta quarta-feira com o técnico Hansi Flick, o presidente da entidade, Bernd Neuendorf, e seu vice, Hans-Joachim Watzke.
Ao jogar a toalha, Oliver Bierhoff deixou a batata quente assar nas mãos de Flick, que vai ter a ingrata tarefa de explicar aos cartolas os motivos de mais um fracasso da Alemanha numa Copa e, além disso, expor seu plano para a Euro 2024.
Desde 2016, somando tudo, já são seis competições internacionais nas quais a seleção alemã fica muito aquém dos objetivos traçados e das expectativas da grande massa torcedora: duas Eurocopas, duas Copas do Mundo e duas Ligas das Nações.
É muito mesmo para a cabeça do torcedor alemão. Haja paciência!
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras.
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