Temer diz que vai processar Joesley Batista
17 de junho de 2017O presidente Michel Temer decidiu entrar com um processo na Justiça contra o empresário Joesley Batista, da JBS, após ter sido acusado pelo executivo de liderar "a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil", afirmou neste sábado (17/06) uma nota divulgada pelo Palácio do Planalto.
"Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à Presidência da República, mas ao Brasil. O governo não será impedido de apurar e responsabilizar o senhor Joesley Batista por todos os crimes que praticou, antes e após a delação", diz o texto, mencionando o acordo de colaboração premiada firmado pelo executivo.
O comunicado afirma ainda que "o presidente tomará todas as medidas cabíveis" sobre o caso, e que na próxima segunda-feira serão protocoladas ações civil e penal contra o empresário.
Em entrevista à revista Época publicada na noite desta sexta-feira (16/07), Joesley voltou a fazer acusações contra o peemedebista, afirmando que ele comanda a maior organização criminosa nacional. "Temer é o chefe da Orcrim [organização criminosa] da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto."
Nesta fala, Joesley provavelmente se referia ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aos ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves e aos ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência. Cunha e Alves estão presos.
O empresário disse ainda que sempre teve "total acesso" a Temer. "Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá. (...) Ele sempre tinha um assunto específico. Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou queria alguma informação."
Segundo Joesley, o presidente o enxergava como um meio de obter recursos, e ele via em Temer a condição de resolver problemas. "Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina", observou. "Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro."
Em reação à entrevista, o presidente acusou Joesley de "desfiar mentiras em série" e disse que a família Batista, dona da JBS, tinha "milhões de razões para ter ódio do presidente e de seu governo". Temer também negou ter feito pedidos ao empresário durante conversas que teve com ele. "Não é do feitio do presidente tal comportamento mendicante", diz a nota da Presidência.
"Os fatos elencados demonstram que o senhor Joesley Batista é o bandido notório de maior sucesso na história brasileira. Conseguiu enriquecer com práticas pelas quais não responderá e mantém hoje seu patrimônio no exterior com o aval da Justiça", acrescenta o texto, em crítica à impunidade conferida a Joesley e referência velada à Procuradoria-Geral da República (PGR).
À revista Época, Joesley também fez acusações contra o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e disse que o partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "institucionalizou" a corrupção no país, apesar de afirmar que nunca manteve conversas suspeitas com o petista.
Segundo a nota de Temer, no entanto, o salto financeiro da empresa de Joesley está diretamente relacionado a relações construídas com os governos do PT.
"Os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo, as conversas realmente comprometedoras com os sicários que o acompanhavam, os grandes tentáculos da organização criminosa que ele ajudou a forjar ficam em segundo plano, estrategicamente protegidos", acusou o presidente.
Governo encurralado
Temer é alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça. O inquérito foi autorizado em maio pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na corte, após a homologação das delações premiadas da JBS.
No âmbito do acordo de colaboração, Joesley entregou às autoridades a gravação de uma conversa que teve com Temer no Palácio do Jaburu em março. Nesse diálogo, o presidente teria dado aval para o pagamento de uma mesada a Eduardo Cunha em troca de silêncio, além de discutir outros possíveis crimes de corrupção por parte de agentes públicos. Temer sempre negou as acusações.
Após a divulgação da entrevista à Época, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) voltou a defender o impeachment do presidente.
"A OAB fez uma análise técnico-jurídica e já concluiu pela necessidade de impeachment do presidente Michel Temer. Assim como no ano passado, quando a OAB pediu o impeachment de Dilma Rousseff, estão presentes, mais uma vez, os elementos que configuram crime de responsabilidade", diz nota assinada pelo presidente da entidade, Claudio Lamachia.
EK/abr/ots