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O representante da elite que encanta os ultraconservadores

Michael Knigge (mp)2 de fevereiro de 2016

Um advogado formado por Princeton e Harvard virou o favorito do movimento Tea Party. O que une ambos é o desprezo pelo "mainstream" liberal e também por setores tradicionais do próprio Partido Republicano.

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Foto: imago/UPI Photo

Há dois episódios que, combinados, representam bem o estilo e o jeito de fazer política de Ted Cruz. O primeiro é um vídeo de campanha lançado em meados do ano passado que mostra o senador do Texas enrolando uma tira de bacon no cano de um rifle semiautomático e disparando até o bacon fritar.

Manipulado ou não, o vídeo tem mensagem e público-alvo bem claros. Cruz se dirige aos mais conservadores entre os conservadores americanos, aqueles que vivem num temor perpétuo de que o governo os prive de suas armas – pouco se importando que essa possibilidade seja, na verdade, bem remota.

Para esse segmento do eleitorado republicano, as palavras "armas" e "Texas" soam tão bem quanto a ideia de fritar bacon no cano de uma arma – justamente porque esse "gesto" irrita o que eles veem como o mainstream dominado por liberais.

O segundo episódio que exemplifica tanto o estilo de Cruz quanto o seu fervor ideológico é o discurso de mais de 20 horas com o qual o senador tentou bloquear a reforma do sistema de saúde proposta pelo presidente Barack Obama, em 2013. Ele discursou mesmo sabendo que seu esforço seria em vão, e o chamado "Obamacare" seria aprovado.

Mas isso não importava. O objetivo do discurso, no qual Cruz leu partes do clássico infantil de Dr. Seuss Green Eggs and Ham (Ovos verdes com presunto), foi transformar Ted Cruz – um senador novato do Texas – num nome familiar para além dos círculos políticos tradicionais e mostrar que o novo congressista é a melhor voz para representar uma ampla parcela de americanos descontentes, cujo maior desejo político é ver Obama longe da Casa Branca, não importa como. Cruz foi bem-sucedido nos dois episódios.

Ted Cruz Filibuster
Senador Ted Cruz disputa as prévias republicanasFoto: picture-alliance/dpa

Favorito do Tea Party

Para alguém que se graduou em Princeton e Harvard, não deixa de ser irônico virar o queridinho do movimento ultraconservador Tea Party. Cruz foi assessor do juiz presidente da Suprema Corte e, mais tarde, trabalhou no governo do presidente George W. Bush. Para completar o quadro, a esposa de Cruz trabalhou como analista de investimentos no Goldman Sachs.

Apesar da educação de elite, das suas boas relações em Washington e do fato de ter nascido no Canadá, Cruz aparentemente fala a língua da base republicana de forma tão fluente que é capaz de vencer o caucus do partido em Iowa. Seu apelo entre os ultraconservadores é ainda mais acentuado pelo fato de ser membro da Convenção Batista do Sul e seu pai, um imigrante cubano, ser um pastor evangélico.

Cruz é adorado pelos apoiadores do Tea Party na mesma medida em que é odiado pelo establishment do Partido Republicano. Várias vezes ele mostrou o que pensa dos líderes do partido no Congresso e do jeito de fazer política deles: não tem muito respeito por eles.

Seja por ter chamado o líder republicano Mitch McConnell de mentiroso no Senado, seja por ter coordenado a suspensão dos serviços públicos federais não essenciais – o chamado shutdown de 2013 – contra a vontade de muitos congressistas republicanos: nos seus três anos no Senado, Cruz deixou claro que não se prende à hierarquia nem à lealdade partidária.

USA John Boehner mit Mitch McConnell
John Boehner (e) e Mitch McConnell não são amigos de CruzFoto: Getty Images/W. McNamee

Se depender de Cruz e outros ultraconservadores, o Partido Republicano não faria o que eles chamam de "falsos compromissos" com os democratas. Os ultraconservadores também pregam o drástico encolhimento do governo.

O desrespeito aberto de Cruz às regras do partido não é visto com bons olhos pelos republicanos veteranos. O também senador John McCain o apelidou uma vez de wacko bird, ou "pássaro maluco". O ex-presidente da casa John Boehner chegou a chamá-lo de jumento.

Mas Boehner já foi tirado de cena pelos radicais do partido, e o veterano senador McCain, de 79 anos, não representa o futuro dos republicanos. Cruz, com seus 45 anos, parece promissor. Se sua curta passagem pelo Congresso e sua campanha presidencial são indicadores do que virá, o Partido Republicano que ele defende será bem diferente do que foi no passado.