Artes cênicas
11 de março de 2007"Só sei que, ao contar histórias, não posso prescindir de atores. É através dos atores que tudo se torna nítido", tenta explicar o francês Patrice Chéreau sua atuação em três frentes tão diversas como o teatro, a ópera e o cinema. Foi com uma leitura cênica deste artista atuante em toda Europa que o festival de artes dramáticas France en Scéne, realizado até 1º de abril, foi inaugurado em Berlim.
O espetáculo Mausolée des Amants (O mausoléu dos amantes), apresentado pela primeira vez na Alemanha na Schaubühne de Berlim, neste sábado (10/03), é uma leitura cênica de textos de Hervé Guibert (1955–1991), escritor francês que se tornou amplamente conhecido pelo registro literário de sua luta contra a Aids. Nesta colagem de fragmentos de diversas obras de Guibert, Chéreau contracena com Philippe Calvario, reduzindo o espetáculo àquilo que essencialmente o norteia em seu trabalho como diretor: a atuação e o texto.
Encenar é corporificar
Um diretor que se projetou na Europa com a célebre encenação integral do Anel do Nibelungo de Richard Wagner, em Bayreuth, em 1980, sob regência de Pierre Boulez, e conquistou o grande público de cinema o mais tardar com Intimacy (2001), ganhador do Urso de Ouro da Berlinale em 2001, tem dificuldade de denominar sua profissão com uma única palavra, embora sempre seja confrontado com esta questão.
Numa conversa com o escritor Ivan Nagel e outros, realizada na Akademie der Künste de Berlim, neste domingo (11/03), Chéreau explicou que costuma resumir sua atividade como "contador de histórias", na falta de outro termo. Mas para ele, contar histórias significa "encarná-las", corporificá-las no trabalho com os atores. É isso que o faz acreditar no potencial do teatro.
Palavra, fonte exata
Por outro lado, Chéreau se sente profundamente compromissado com a literatura. "Para mim, tudo vem do texto", seja a peça de teatro, o libreto de ópera ou o roteiro de cinema. Este seu comprometimento com a palavra não significa necessariamente fidelidade ao texto, mas sim a exatidão da leitura que acaba se refletindo na encenação.
Na leitura cênica de Hervé Guibert, um autor que escreveu para Patrice Chéreau o roteiro de L'homme blessé (1984), o diretor não tenta apagar o que existe de "escrito" e "lido" na palavra, ou seja, não tenta dramatizar a literatura para além de sua textualidade, mas apela à presença corporal do ator como suporte do texto.
Domínio de vários códigos
Talvez seja esta capacidade de transitar entre diversas artes, mantendo a especificidade de cada uma, que torne interessante uma homenagem a Patrice Chéreau no início de um festival de teatro contemporâneo. Considerando a tendência de se incorporarem procedimentos multimídia à encenação, como se isso fosse indispensável, um certo minimalismo de recursos e o retorno ao material do teatro – ator e texto – podem ser um interessante contraponto.
France en Scéne se propõe a apresentar, em Berlim, a diversidade da cena de teatro e de Novo Circo da França, priorizando a dramaturgia contemporânea, as formas inovadoras de encenação para além da escritura cênica e as manifestações circenses.