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Festival Richard Wagner apresenta nova versão de "O Anel do Nibelungo"

(rf/kb/mr)26 de julho de 2006

A nonagésima quinta edição do Festival Richard Wagner foi aberta, em Bayreuth. Wolfgang Wagner, neto do compositor, coordena o evento que aconteceu pela primeira vez em 1876, há exatos 130 anos.

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Stephen Gould encarna Siegfried, no ensaio para o festivalFoto: AP

A peça O navio fantasma abriu, nesta terça-feira (25/07), a nonagésima quinta edição do Festival Richard Wagner, em Bayreuth, na Baviera. Personalidades da política, da economia, da cultura e celebridades passam todos os anos pelo tapete vermelho do evento, que disponibiliza cerca de 53 mil ingressos para um total de mais de 420 mil pedidos, de todas as partes do mundo.

Bayreuther Festspiele - Szene aus Siegfried Galerie 4
O alemão Falk Struckmann se prepara para a maratona de 16 horasFoto: AP

Já se passaram 130 anos desde que o festival foi organizado pela primeira vez, em 1876, e ele continua sendo um negócio de família, tendo sobrevivido a duas guerras mundiais e a inúmeras crises políticas.

O atual coordenador, Wolfgang Wagner, tem 86 anos e é neto do compositor com cujo nome o evento foi batizado. Hoje, o festival não atrai somente wagnerianos, mas o público em geral. Ponto alto é a obra magna de Wagner, o ciclo de óperas O anel do Nibelungo, que subirá ao palco nesta quarta-feira (26/07) e mais duas vezes durante o mês em que acontece o evento.

O "Anel do Nibelungo" é a primeira ópera de Tankred Dorst

Tankred Dorst, deutscher Dramatiker
Tranked DorstFoto: AP

Sob direção do renomado dramaturgo e diretor alemão Tankred Dorst, a décima terceira apresentação da ópera, resultado de dois anos de trabalho, é aguardada com expectativa pelo público e pela crítica, que esperam uma leitura nova do ciclo que dura 16 horas e é dividido em quatro partes: O Ouro do Reno, As Valquírias, Siegfried e Crepúsculo dos Deuses.

O anel do Nibelungo é a primeira ópera dirigida por Dorst, que, em seus 80 anos, é veterano em outros gêneros teatrais. Comparações entre a produção atual e a versão de Patrice Chereau, encenada em 1976, já são aguardadas. Chereau sofreu nas mãos dos críticos, que, no início, classificaram negativamente a peça, passando, posteriormente, a declará-la "o acontecimento do século".

Dorst foi convidado a dirigir o projeto em 2004, quando o cineasta dinamarquês Lars von Trier resolveu abandoná-lo, sem dar explicações muito concretas. Em declaração oficial, Von Trier atribuiu sua decisão a uma "tendência patológica ao perfeccionismo", o que teria dificultado o andamento do trabalho.

A capacidade de Tankred Dorst de dirigir peças grandes ficou comprovada com o sucesso de Merlin, que tem oito horas de duração, em 1981. Sua experiência com o imaginário além-mundo deve ser emprestada à obra wagneriana, que é baseada na mitologia germânica e levou 24 anos para ser concluída. As especulações só poderão ser comprovadas quando o ciclo de óperas subir ao palco, uma vez que todos os envolvidos na produção, desde o faxineiro ao soprano, juraram segredo sobre os preparativos.

Bisneta de Wagner deve ser a próxima diretora do Festival

92. Bayreuther Richard Wagner Festspielen
Wolfgang Wagner, entre a esposa Gudrun e a filha KatharinaFoto: AP

Wolfgang Wagner tomou as rédeas da direção do festival em Bayreuth em 1966, depois da morte de seu irmão Wieland, com quem coordenou o evento por 15 anos. Em quatro décadas de trabalho, recebeu duras críticas acusando-o de "estagnação artística" e descrevendo-o como um monarca nos bastidores que reluta em entregar o poder.

Mesmo assim, Wolfgang Wagner tem aberto seu festival a diretores de vanguarda, como Christoph Schlingensief, cuja versão iconoclasta de Parsifal será encenada cinco vezes este ano, e o suíço Christoph Marthaler, que subirá aos palcos com Tristão e Isolda, em 1º de agosto.

Sua filha, Katharina Wagner, é a candidata mais forte a assumir seu posto e está se preparando para levar ao público o seu primeiro trabalho como diretora, na próxima edição do festival, em 2007, com Os mestres cantores de Nurembergue.

Ingresso deve ficar mais caro

Wagner als David Lynch
Gerhard Siegel é Mime, em SiegfriedFoto: AP

Arnold Jacobshagen, professor de Musicologia da Universidade de Bayreuth, pontua a necessidade de mudanças na coordenação, especialmente no lado musical: "Para economizar dinheiro, os cantores não são pagos de acordo com os padrões internacionais" e, em conseqüência disso, o festival não conseguiria atrair os melhores do ramo.

Apesar de Bayreuth ser o único lugar do mundo em que o ciclo do Anel pode ser assistido por completo em uma semana – outras companhias de ópera não têm espaço suficiente e assistir às quatro partes pode demorar muitas temporadas –, a qualidade das performances das obras de Wagner em Nova York e em Viena é melhor, segundo Jacobshagen.

O musicólogo prevê um aumento considerável no preço dos ingressos nos próximos anos, o que poderia dar ao festival maior capacidade de negociar com estrelas internacionais. Atualmente, o ingresso mais caro custa 208 euros, mas a lista de espera para conseguir um tíquete é de dez anos.