Sem trégua na Síria
13 de fevereiro de 2012O regime sírio recusa-se a aceitar o pedido dos Estados árabes por uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo informou o embaixador sírio no Cairo, Jussif Ahmed, nesta segunda-feira (13/02), a Síria rejeitou categoricamente a solicitação da Liga Árabe ao Conselho de Segurança da ONU feita neste domingo.
Nesta segunda-feira, a organização também emitiu um alerta sobre o governo sírio. O regime está disparando propositalmente contra manifestantes desarmados, informou a comissária de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, diante da Assembleia Geral das ONU em Nova York. "Sem aviso, atira-se nas pessoas que lutam pacificamente por seus direitos", disse.
Pillay lamentou que o Conselho de Segurança não tenha conseguido aprovar uma resolução sobre a Síria. "A falha do Conselho de Segurança em acordar sobre uma ação comum parece ter encorajado o governo sírio a lançar mão de um ataque feroz na tentativa esmagar os dissidentes", considerou. "O risco de uma crise humanitária na Síria está aumentando."
Missão de paz
O regime Assad anunciou que os Estados do Golfo Arábia Saudita e Catar estariam por trás do "complô" da Liga Árabe contra a Síria. A Liga havia pedido o envio de forças de paz da ONU à Síria, para "monitorar um cessar-fogo". Soldados árabes também participariam da missão.
No Conselho de Segurança, os poderes de veto da China e da Rússia impedem uma resolução. Os dois países opõem-se estritamente a uma operação militar na Síria. Eles temem, entre outras coisas, que tropas estrangeiras possam apoiar uma mudança de regime, como no caso da Líbia.
O ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, disse nesta segunda-feira, em Moscou, que está disposto a considerar a proposta. Mas a condição para uma missão de paz seria um cessar-fogo e o consentimento da Síria. A Rússia está no alvo da crítica internacional por impedir no Conselho de Segurança uma ação mais incisiva contra Damasco. Desde a União Soviética, Moscou é aliado e fornecedor de armas da Síria.
Já o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Liu Weimin, disse que seu país continua apostando no diálogo, e só "apoiará as decisões da comunidade internacional que caminhem ao lado das chinesas".
Enquanto isso, o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, saudou a sugestão de uma missão de paz. Mas seria decisivo que a iniciativa partisse da região. "Ou seja: a Liga Árabe deve estar no comando", disse o ministro durante sua visita ao Brasil nesta segunda-feira.
A União Europeia (UE) também apoia a proposta da Liga Árabe. "Repito minha solicitação a todos os membros do Conselho de Segurança para agir com responsabilidade neste momento crítico", declarou a chefe de política externa da UE, Catherine Ashton, em um comunicado.
Sem sinal de trégua
Ainda não há sinais de que a situação se acalmará na Síria, que é a condição para um cessar-fogo entre as forças de segurança e os dissidentes. Continuam os ataques militares sírios aos centros dos protestos, em Homs, Hama e Daraa. De acordo com ativistas, apenas na província de Homs, pelo menos dez pessoas morreram, quando tropas do governo tomaram a aldeia de Al Rastan.
"Apenas no ano passado, 5.400 pessoas morreram, principalmente civis e soldados que se recusavam a atirar em civis", disse a comissária Pillay. Seria praticamente impossível atualizar esse número, pois o regime nega acesso a todos os observadores. "Mas sabemos que há mais [mortos] a cada dia." Ativistas estimam que o número de mortos desde o início dos protestos na Síria, há 11 meses, seja ainda maior: cerca de 6.300 civis e 1.650 soldados.
Em reunião no Cairo, os Estados árabes decidiram cortar suas relações diplomáticas com Damasco. O comércio deverá ser restringido a bens vitais para a população síria. Além disso, os árabes disseram pretender encerrar seus contatos com o Conselho Nacional Sírio.
Entretanto, foi recusada a proposta de alguns Estados do Golfo de reconhecer o conselho dos oposicionistas como "único representante legítimo do povo sírio". Após a reunião, o ministro do Exterior do Iraque, Hoshiar Sebari, declarou ser muito cedo para isso.
LPF/dpa/afp/rtr
Revisão: Augusto Valente