"Sindicalismo europeu é o caminho"
28 de agosto de 2003John Monks, presidente da União dos Sindicatos Europeus (ETUC) desde maio de 2003, analisou essas e outras questões em debate na União Européia em entrevista à DW-WORLD. Ele começou pelas metas que pretende alcançar no seu mandato de quatro anos:
"Espero despertar mais crença no caminho europeu como o certo para garantir justiça social. As idéias econômicas americanas foram extremamente preferidas nos últimos anos, não só entre os políticos conservadores, mas também entre os de centro. O governo britânico de Tony Blair é um dos que acham que os mercados têm de ser desregulamentados e os sindicatos não podem mais ser fortes".
Para o líder dos sindicalistas europeus, porém, o caminho de Blair não é o certo para que os países da UE tenham bem-estar social: "Não há dúvida de que as idéias americanas fizeram estragos nos anos 90 na Europa, mas agora temos de mostrar que a opção européia é a melhor na economia. A americana não deixa muito espaço para a parceria social".
Europeus & americanos -
O centro do caminho europeu são o Estado social, os serviços públicos e sindicatos influentes, segundo Monks. Os americanos conservadores estão convencidos, porém, de que o Estado social deve ser reduzido ao mínimo possível, que os serviços públicos têm de ser rentáveis com privatizações e que os sindicatos devem ser enfraquecidos."Muitos membros do governo americano odeiam os sindicatos e querem reduzir a influência tanto dos norte-americanos como dos do mundo inteiro. Estas não são características européias e temos que cuidar para que as nossas prevaleçam", afirmou.
Tolice romântica
– Na opinião de Monks, o ex-presidente da poderosa Federação das Indústrias Alemãs (BDI), Hans-Olaf Henkel, exagerou demais quando disse que as pessoas não querem mais representação coletiva (sindicato) e que elas próprias podem se representar: "Só os trabalhadores altamente qualificados, com formação especial ou que trabalham em setores que crescem rápido, podem representar a si próprios. Mas é uma tolice romântica imaginar que um trabalhador normal possa fazer valer os seus direitos, como indivíduo, em empresas de grande porte, como a Volkswagen, por exemplo"."É impossível que trabalhadores normais consigam, individualmente, impor os seus interesses. As condições salariais e de trabalho são muito melhores quando há negociações entre sindicatos e empregadores", acrescentou.
Cooperação & greve
- O presidente da ETUC concorda em que os sindicatos devem oferecer mais cooperação e menos bloqueio: "Nós temos alguns exemplos de países, como Holanda, Dinamarca e Bélgica, que resolveram seus problemas de aposentadoria e de envelhecimento da população com os sindicatos". Daí porque Monks recomenda que os sindicalistas cooperem mais e evitem greves. Mas a paralisação do trabalhador não deveria jamais ser suprimida."Greves saem caras para os trabalhadores, sindicatos, empresas e, provavelmente, também para o país. Mas nas democracias existirá sempre luta trabalhista, quando a frustração entre os trabalhadores for muito alta".
Salário mínimo não
– Monks diz compreender as preocupações de sindicalistas europeus com os níveis salariais baixos em vários membros da UE, mas não concorda com a criação de um salário mínimo na comunidade a ser ampliada de 15 para 25 países em maio vindouro: "A análise correta é que existe um mercado da UE e precisamos de um padrão salarial mínimo para toda a Europa. Mas não se pode simplesmente tomar os altos salários alemães como referência e introduzi-los em Portugal. Assim acabaríamos com o parque industrial português".Greve fracassada - Ele rejeita, de forma categórica, a introdução de um salário mínimo para os membros da UE: "Só porque alguns sindicatos em países mais avançados negociam bons acordos não se pode esperar que os de outros países desse nível consigam o mesmo".
Como outros líderes sindicais, o dirigente da organização de cúpula européia manifestou preocupação com a divisão do poderoso Sindicato dos Metalúrgicos Alemães (IG-Metall), evidenciada no fracasso da greve da categoria no Leste da Alemanha. A parte ocidental não apoiou a paralisação de quatro semanas.
Monks disse esperar que o sindicato supere tal divisão e desaconselhou os empregadores a não subestimar o desastre dos metalúrgicos do Leste. "Seria burrice", segundo ele. "Só porque se perdeu uma, não quer dizer que as próximas greves também serão perdidas".