'Teste de estresse bancário'
23 de julho de 2010Dos 91 institutos de 20 Estados europeus submetidos ao chamado "teste de estresse bancário", sete fracassaram. O exame foi realizado pelo Comitê das Autoridades Europeias de Supervisão Bancária (Caesb), e seu resultado divulgado pelos governos dos respectivos países nesta sexta-feira (23/07), após o fechamento das bolsas de valores.
Mal sucedidos foram: o alemão Hypo Real Estate (HRE), as caixas econômicas espanholas Espiga, Diada, Cívica, Cajasur e Unimm, assim como o grego ATEBank. Catorze instituições financeiras alemãs participaram do exercício que visa verificar sua resistência diante de eventuais crises futuras: o Postbank e o NordLB passaram por uma margem mínima.
Transparência polêmica
No fundo, o que acaba de ocorrer no setor bancário europeu é perfeitamente normal, pois submeter bancos e seguradoras a determinados cenários de crise não constitui, em absoluto, um exercício extraordinário.
Em 2009, as 19 maiores instituições bancárias dos Estados Unidos foram submetidas a um teste semelhante, após o qual dez delas foram instadas a adquirir mais capital próprio. São simuladas situações extremas, como um crash da bolsa, e são observados seus efeitos sobre o capital dos institutos. A diferença é que, até então, somente os órgãos de supervisão e o banco em questão ficavam sabendo dos resultados.
A celeuma em torno do atual "teste de estresse financeiro" em nível europeu se deveu a dois fatos: o de ele envolver, de uma só vez, 91 instituições do continente, e de seus dados serem divulgados a público. Essa iniciativa partiu da Espanha, devido aos repetidos boatos de que certos institutos financeiros do país, sobretudo caixas econômicas, estariam em sérias dificuldades. A fim de desacreditar tais afirmações, o país partiu para a ofensiva, anunciando a divulgação dos testes.
Caráter de advertência
De início, os colegas em Frankfurt, Londres e outras mecas das finanças foram contra. Afinal, há certos números que um instituto financeiro prefere guardar para si. Como, por exemplo: sua participação em empréstimos a países em crise, como a Grécia.
Só se conhece por alto o cenário de crise com que os examinandos foram confrontados, que inclui a simulação de um colapso conjuntural, associado a distorções nos mercados de créditos e à desvalorização de "ações podres". Após todo esse estresse financeiro, os bancos ainda têm que apresentar um índice mínimo de solidez de capital de 6%. No atual teste, o HRE ficou em 4,7%.
O exercício tem apenas caráter de advertência: as instituições fracassadas não são fechadas nem seus clientes sofrem quaisquer efeitos imediatos. Entretanto, elas sofrerão pressão dos órgãos nacionais de supervisão para que fortaleçam suas bases financeiras.
Teste para a autoridade bancária europeia
A divulgação dos dados visa promover a transparência e restabelecer a confiança nos mercados, para que os bancos possam realizar sem restrições sua função mais importante: abastecer a economia com dinheiro.
Porém confiança é um conceito bem relativo quando os resultados das provas não são equivalentes. O fato de o critério principal – o índice de solidez de capital – ser definido diferentemente de país para país, leva certos observadores do setor financeiro a classificarem o teste como "engodo".
Uma coisa, contudo, o "teste de estresse financeiro" deixou clara: ao Caesb, sediado em Londres, faltam meios e autoridade para realizar uma medida tão abrangente. Essa falha só será remediada quando a União Europeia chegar a um acordo quanto à nova Autoridade Bancária Europeia (ABE).
No momento, seus países-membros e o Parlamento Europeu ainda debatem a reforma do setor de supervisão bancária. Talvez a utilidade do atual teste bancário seja possibilitar à ABE entrar de fato em funcionamento no início do próximo ano.
Autor: Henrik Böhme / A. Valente
Revisão: Roselaine Wandscheer